Yasutomo Maeda chegou ao Brasil em março e já conseguiu uma vitória importante para a subsidiária brasileira da Fujifilm: o sinal verde da gigante japonesa da fotografia para montar câmeras digitais no país. "É o primeiro mercado da América Latina a contar com um processo de nacionalização", diz o executivo, que acumula o cargos de presidente da companhia no Brasil e de vice-presidente corporativo da corporação.
Os primeiros lotes de câmeras montadas no país foram recebidos no fim do mês passado e começam a chegar às lojas nos próximos dias, a tempo de aproveitar a temporada de Natal. Os equipamentos estão sendo produzidos na Zona Franca de Manaus, pela Masa, uma empresa do grupo Flextronics, especializado na manufatura sob encomenda de produtos eletrônicos.
A decisão pela terceirização, em vez de uma fábrica própria, faz parte da estratégia global da Fuji em balancear esses dois modelos. "A montagem, em si, não acrescenta muito valor ao consumidor", diz Maeda. A companhia mantém algumas unidades industriais próprias para facilitar o processo de desenvolvimento de produtos. Ao mesmo tempo, quer aproveitar o custo menor e o ganho de escala proporcionados pelas empresas especializadas em manufatura.
A produção nacional começa com um modelo - a FinePix J10, que tem oito megapixels de resolução -, mas a idéia é acrescentar novos equipamentos ao processo. "Não há problemas em agregar mais modelos", afirma Maeda.
Essa flexibilidade é outra vantagem proporcionada pela manufatura sob encomenda. "O investimento é da empresa contratada, já que pagamos por número de unidades produzidas", diz o executivo. "O que precisamos avaliar é como adaptar o volume à demanda, para obter um preço adequado."
Preço foi uma questão central para a Fuji nacionalizar a produção. Rivais poderosos como a americana Kodak tomaram há algum tempo a decisão de montar suas câmeras no Brasil, o que vinha aumentando a pressão sobre a empresa japonesa.
Para manter-se no páreo, a Fujifilm precisou reduzir seus preços - mesmo só oferecendo produtos importados -, o que a colocou em situação de desvantagem diante da concorrência. Para absorver os custos de importação, incluindo a carga tributária, a Fuji teve de reduzir sua lucratividade, em um negócio no qual as margens já costumam ser bastante magras.
Agora, com a nacionalização, os preços para o consumidor não serão reduzidos - "os valores já haviam sido adaptados", diz Maeda -, mas a Fuji vai ganhar alguma folga para recompor suas margens no país. O preço final do modelo feito em Manaus é de R$ 599.
Como a Fuji, as demais companhias do setor têm feito grandes esforços para adaptar-se à passagem da fotografia tradicional - baseada na revelação do filme e no registro da imagem em papel - para a tecnologia digital, que permite armazenar e exibir as fotos em meios eletrônicos, como o computador e o telefone celular.
No Brasil, a empresa japonesa fechou sua fábrica em Caçapava (SP), em 2006, depois de 30 anos de atividade. A decisão foi concentrar as operações industriais em Manaus, onde a empresa já tinha outra fábrica. Nessa unidade, que é própria, a Fuji produz filme fotográfico, além de cortar e embalar papel fotográfico.
O mesmo tipo de movimento foi feito pela Kodak no país. Em 2005, a empresa fechou sua fábrica em São José dos Campos (SP), onde fabricava papel fotográfico, e concentrou as atividades (produção de filme e corte e embalagem de papel) em Manaus. Em 2006, a Kodak começou a montar câmeras no país, sob um contrato de terceirização com a Jabil.
Apesar da crise financeira internacional, as perspectivas de vendas para o Natal são positivas, diz Maeda. "Os pedidos já estão fechados e o volume é considerado muito bom", afirma o executivo, em português.
Esta não é a primeira crise que Maeda enfrenta, assim como o Brasil não é um desconhecido para ele. Entre 1982 e 1989, o executivo atuou como diretor comercial da Fuji no país. Desde então, passou por vários desafios na companhia - foi o primeiro diretor geral na Espanha e, mais tarde, assumiu a empresa na China, onde ficou entre 2004 e 2006. Agora, ele unificou o comando no Brasil, México, América do Sul e Central.
Veículo: Valor Econômico