Em um mercado estagnado, só cresce quem compra alguém. A regra está sendo seguida no setor de biscoitos, que movimenta cerca de R$ 7 bilhões ao ano no país e é marcado por empresas regionais e familiares. Depois da goiana Mabel, a bola da vez é a paulista Marilan, quarta maior fabricante de biscoitos do país. Conforme adiantou o Valor na edição de ontem, a PepsiCo é uma das interessadas e já realizou diligência na empresa. O Valor apurou que também estão no páreo a líder do setor M. Dias Branco e as multinacionais americanas Bunge e Campbell.
A Marilan contratou o banco BTG e o escritório Machado Meyer Sendacz Opice. Ontem foi a vez da Bunge realizar o mapeamento dos ativos e passivos da Marilan. Até o fim desse mês, também farão "due diligence" na fabricante de Marília (SP) a M. Dias Branco e a Campbell. A empresa espera receber as propostas até o próximo dia 15. O valor estimado do negócio pode superar R$ 500 milhões.
Para a PepsiCo, que acabou de comprar a Mabel, a aquisição da Marilan iria lhe render a segunda posição no ranking nacional, só atrás da M. Dias Branco. Já para a brasileira líder em biscoitos, a compra fortaleceria sua atuação no segmento, que vem despertando cada vez mais a atenção das múltis. Não só a PepsiCo decidiu embarcar de vez nos biscoitos, como também a Campbell's, que nem sequer opera no país.
A Bunge, no Brasil há mais de 100 anos, se mostra disposta a reforçar sua presença no varejo, com a entrada em uma nova categoria que tem total sinergia com o seu negócio. A empresa é uma das maiores exportadoras do agronegócio brasileiro. Líder nacional no processamento de trigo, a múlti tem forte atuação no mercado de óleos e margarinas. Entre as suas marcas, estão Delícia, Primor, Soya e Salada. Mas, na queda de braço com a PepsiCo, acabou perdendo a Mabel, vendida a R$ 600 milhões.
Com capital aberto, a M. Dias Branco também é uma empresa familiar, mas sua atuação vai muito além dos biscoitos. Dona das marcas Adria, Basilar, Isabela e Zabet, a companhia também fabrica massas, óleos, gorduras, margarinas e cremes vegetais. Atua também na moagem de trigo, o que lhe garante diferencial competitivo. Sua maior participação de mercado está no Nordeste, onde lidera com as marcas Fortaleza e Richester. O aumento de "market share" no Sudeste, com Marilan, seria estratégico.
Já a americana Campbell vem ensaiando o seu desembarque no Brasil. Já tentou levar a Etti, da Hypermarcas. Agora, negocia a Marilan. No balanço do ano fiscal 2011, a empresa reforçou que está em busca de oportunidades de crescimento em mercados emergentes na Ásia e na América Latina. No período, as suas vendas cresceram apenas 1%, para US$ 7,7 bilhões. Reconhecida mundialmente por suas sopas, a empresa tem um portfólio diversificado. Fabrica também biscoitos, pães, molhos, conservas e massas instantâneas.
Procurada, a Bunge informou que não comenta rumores de mercado, mesma posição de PepsiCo e Marilan. A reportagem não obteve retorno da Campbell até o fechamento desta edição. Já a M. Dias Branco negou sua participação no processo de venda da Marilan.
Fundada em 1957 pelo imigrante italiano Maximiliano Garla e sua mulher Iracema, a Marilan enfrentou revezes de mercado nos últimos anos. Em 2010, registrou queda de 0,3% na receita líquida, para R$ 380,9 milhões. O prejuízo aumentou 25% no período, para R$ 12,8 milhões. Desde a morte do executivo que presidia a empresa, Jaílton de Abreu, em agosto do ano passado, o comando está a cargo do filho do fundador, José Rubis.
Veículo: Valor Econômico