Grifes levam confecção para o Peru

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Um movimento de grifes brasileiras - silencioso, porém constante - tem se intensificado rumo ao Peru. Elas estão produzindo roupa de algodão, com maquinário de última geração e mão de obra treinada. Entre as brasileiras citadas pelo Conselho Econômico e Comercial do Peru estão TNG, VR Menswear, Ellus e Richards. A grife Cavalera também está produzindo camisetas naquele país. As brasileiras estão seguindo um rumo já trilhado por marcas internacionais como Armani, Lacoste, Polo Ralph Lauren, Tommy Hilfiger, Calvin Klein e Abercrombie & Fitch.

A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) está atenta. Em nota, a entidade diz que "o Peru assinou um acordo de livre comércio com o Mercosul que permite a importação do Peru para os países do bloco sem pagar taxa de importação. Para importar da China, por exemplo, o imposto é de 35%". Além disso, a mão de obra mais barata, a carga tributária e os juros menores do Peru, em relação ao Brasil, tornam o país mais competitivo. Isso sem contar o câmbio e a infraestrutura, mais favoráveis à produção do que no Brasil, segundo a Abit.

Em 2009, o Brasil importou US$ 34 milhões em artigos têxteis e confeccionados do Peru. Em 2010, o valor subiu para US$ 65 milhões, numa variação de 89%. Em volume, o aumento foi de 28%, o que pode significar que o que está entrando no Brasil sejam artigos de maior valor agregado.

Tito Bessa Júnior, presidente da grife TNG, elogia o algodão peruano, "o melhor do mundo", em sua opinião. A TNG produz no Peru suas peças de malharia. "Gasto o mesmo que gastaria produzindo aqui, mas consigo um produto muito melhor. Aliás, o produto feito lá não poderia ser feito aqui: não temos nem o fio nem as máquinas para isso." Segundo ele, os confeccionistas peruanos costumavam ter a maior parte de sua capacidade produtiva tomada por empresas americanas e europeias. "A crise nesses locais fez as indústrias peruanas se voltarem para o Brasil."

A parceria com a TNG começou há um ano e meio. "Já fui quatro vezes ao país e fiquei impressionado com a agilidade, o profissionalismo e a estrutura fabril de que dispõem. Há empresas lá fazendo 5 milhões de peças de roupa por mês", diz Bessa, que acredita ter aumentado as vendas no Brasil por conta dos artigos peruanos. "O consumidor percebeu a mudança. Hoje, podemos competir com marcas internacionais, oferecendo um produto de mesmo nível, mas por um preço menor." A TNG tem, atualmente, 165 lojas.

O algodão peruano, o "pima", também é elogiado por Sérgio Frônio, gerente de produto da grife VR Menswear. "O pima tem um toque muito macio e só perde em qualidade para o algodão egípcio", diz Frônio, que aponta uma vantagem extra: "A migração de parte da produção para o Peru representou uma economia entre 10% e 20%."

De acordo com o executivo, o público masculino compra menos por impulso, se comparado ao feminino, e quer durabilidade. "Ainda assim, não podemos aumentar nossos preços, por isso buscamos a solução fora do Brasil", diz Frônio.

Atualmente, a VR produz camisetas, polos, camisas, bermudas e calças no Peru. As companhias peruanas, diz Frônio, se especializam num determinado tipo de roupa, o que torna o produto final ainda mais sofisticado. A VR Menswear produz também na China, de onde vem parte da camisaria, paletós e jaquetas. O executivo estima que atualmente, 50% da produção da VR é feita no exterior.

De acordo com Antonio Castillo, conselheiro econômico e comercial do Peru, o país passou quatro anos investindo em qualidade e competitividade. "Conseguimos um algodão de fibra extralonga, que garante resistência e elasticidade aos produtos", diz Castillo. A intenção não é competir com a China, mas oferecer artigos mais sofisticados.

Segundo especialistas, o Peru cultiva uma pequena área de algodão, mas de altíssima qualidade. Trata-se de uma pluma com fibra extralonga, muito semelhante ao renomado algodão egípcio. O país andino consegue cultivar essa variedade de fibra longa porque possui clima seco e altitude que permite o bom desenvolvimento desse tipo de algodão. Mas o mercado peruano não é autossuficiente em algodão e as importações de algodão produzido nos Estados Unidos têm crescido.

No Brasil, seria difícil cultivar algodão de fibra extralonga porque a maior parte das áreas de elevada altitude tem umidade considerada alta e desfavorável a esse tipo de variedade.

Conforme dados do Ministério da Agricultura do Peru, a área cultivada vem se mantendo constante em 93 mil hectares nas últimas três safras, bem abaixo dos 1,5 milhão de hectares cultivados no Brasil.

O Peru tem investido na aproximação a empresários brasileiros. "Este ano, fizemos uma rodada de negócios com 140 empresas brasileiras", diz Castillo. Em abril de 2012, Lima sediará a 15ª edição da Feira Internacional da Indústria da Moda - Perú Moda, que reúne empresas exportadoras do setor de confecção, calçados e joalheria. "O evento chega a reunir cerca de 300 empresas peruanas", diz Castillo.

O Peru exporta, atualmente, US$ 80 milhões por ano, em confecção e malharia. De acordo com informações publicadas no site do Itamaraty, as exportações de produtos em geral do Peru para o Brasil somaram US$ 1,2 bilhão, em 2008. O valor representa cerca de 4% do total do que o Peru exporta anualmente.


Veículo: Valor Econômico


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