Baixa renda pagará por barreira a têxteis

Leia em 3min 10s

Varejo alega que barreira à importação representa retrocesso e maior custo em roupa barata para classes C e D




A mudança na forma de tributar a importação de itens do vestuário vai atingir as classes de menor renda no Brasil. A avaliação é da ABVTex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), organização que representa 15% do setor no país.

A entidade (que representa bandeiras como Marisa, Riachuelo, C&A, Pernambucanas, Renner, Walmart e outras) criticou o plano do governo federal de mudar o regime de tributação de produtos têxteis importados.

Após reunião com representantes da indústria têxtil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse - no início desta semana em São Paulo - que o país deverá adotar um novo regime tributário sobre a importação do setor.

A ideia é abandonar a aplicação de uma alíquota sobre o produto importado e passar a impor um valor fixo sobre o quilo do produto. A mudança está em avaliação pela Camex (Câmara do Comércio Exterior), órgão do MIDC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).

"A substituição da base de cálculo fixada pelo preço do produto (ad valorem) pelo peso do produto (ad rem) é um grave retrocesso na política internacional brasileira de abertura de mercado", afirma José Eduardo Guzzardi, diretor da associação.

A entidade sustenta ainda que a medida vai beneficiar apenas consumidores que adquirem produtos mais sofisticados. O custo tributário deixará de considerar o valor agregado.

Ocorre o inverso com os produtos destinados aos consumidores de menor renda. Neste caso, como a tributação considera o peso do produto, não mais seu valor. A taxa sobre o item pode subir muito, sustenta a entidade do varejo têxtil.

O Brasil adota a alíquota de 35% sobre a importação de vestuário, a mais elevada autorizada pela OMC (Organização Mundial do Comércio). A entidade multilateral do comércio internacional terá de ser consultada pelo Brasil para avaliar a mudança do regime tributário.

"É uma distribuição de renda às avessas. Quem compra produtos com menor valor agregado, ou seja, a maioria da população, pagará mais impostos", diz Guzzardi.

A ABVTex afirma que as importações de produtos têxteis ajuda no controle da inflação interna e que a participação do vestuário importado equivale a 8% do varejo nacional, o que "não representa ameaça à indústria".

ÂNCORA INFLACIONÁRIA

O presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Aguinaldo Diniz Filho, refutou os argumentos do setor varejista. De acordo com ele, a indústria brasileira tem sido âncora da inflação desde o Plano Real.

"O IPCA, do IBGE, acumula alta de 295% desde o início do Plano Real. A alta do vestuário foi de 187%. Isso foi feito com a ajuda da indústria local", diz.



'Defesa comercial não é nefasta', afirma Abit


O presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Aguinaldo Diniz Filho, disse ontem que nenhuma medida de defesa comercial pode ser considerada "nefasta".

O empresário, que negocia com o governo medidas para proteção da indústria local contra os chineses, criticou Márcio Utsch, presidente da Alpargatas.

Em entrevista ontem à Folha, Utsch afirmou que barreiras tarifárias adotadas para proteção da indústria vão gerar um efeito nefasto ao país.

"Quando você cria proteção, as indústrias investem menos e ficam atrofiadas. O efeito é nefasto", disse durante a entrevista.

Diniz afirma que o país não pode ser "ingênuo" neste momento e sustenta que é imperativo adotar medidas para a defesa da cadeia têxtil.

Sem isso, o setor, que emprega 16% da mão de obra da indústria de transformação, pode ruir. Ele diz que "nefasto" é o país olhar a destruição da indústria sem reagir.


Veículo: Folha de S.Paulo


Veja também

Bolsas e cintos crescem aquém do estimado

O setor de bolsas e cintos em Minas gerais começou o ano de 2011 com a expectativa de crescer pelo menos 10% sobr...

Veja mais
Mais aquisições e fusões no varejo farmacêutico

Grandes redes darão continuidade ao movimento de consolidação; supermercadistas também apost...

Veja mais
Governo amplia rigor para produção de leite

O Ministério da Agricultura aumentou o rigor para a produção de leite na maior parte do país...

Veja mais
Varejistas virtuais reduzem atrasos nas entregas de produtos

  O atraso na entrega ainda é o maior motivo de reclamações contra lojas virtuais, mas seu pe...

Veja mais
Associação quer investigar escovas de dente chinesas

  A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Ab...

Veja mais
Cresce recall de alimentos e produtos de higiene

Aumento foi de 142,8%, segundo DPDC; veículos e motocicletas lideram chamamentos  Os recalls de produtos ...

Veja mais
Carne processada terá nova líder global

  Com troca de ativos com Brasil Foods, Marfrig amplia capacidade de produção de industrializados a ...

Veja mais
País pode perder proteção a brinquedos

Vence no dia 31 sobretaxa aplicada pelo Brasil sobre 14 produtos desde 2010 e Camex, que decide o tema, só volta ...

Veja mais
Walmart abre clube de compras em Porto Alegre

Apesar da desaceleração das vendas detectada pelo varejo neste fim de ano, o presidente do Walmart no Bras...

Veja mais