Empreendedores mineiros repensaram estratégia da empresa ainda na faculdade, garantindo o crescimento
Ter uma boa ideia é o primeiro passo para montar um negócio próprio. Mas sem planejamento, é bem difícil que o empreendimento siga adiante. Os donos da mineira Tempero Mídia sabem bem disso. Ainda na universidade, eles planejaram uma empresa que julgavam ser imbatível. Mas, antes de tirar o projeto do papel, resolveram encarar as aulas sobre plano de negócios da faculdade como uma espécie de revisão final. Foi o estopim para uma revolução.
Em seis meses, tempo de duração do curso, eles foram obrigados a recuar e repensar o projeto inicial - do foco de atuação ao modelo de gestão. Um processo trabalhoso, mas hoje muito comemorado. Em apenas três anos de atividade, a empresa orgulha-se de trabalhar para gigantes como Coca-Cola e Souza Cruz. Além disso, o negócio já conta com escritórios em Belo Horizonte e São Paulo e, em breve, também no Rio de Janeiro.
"A gente não imaginava o quanto teríamos de revolucionar nosso projeto. Mas, basicamente, apenas analisando custos, concorrência e demanda, abandonamos algo que era uma espécie de Elemidia (empresa de mídia digital) para supermercados e montamos uma empresa de sinalização digital para ponto de venda, sendo a única no País que atua com mídia olfativa digital, divulgando a essência do produto dentro do ponto de venda", conta Bernardo Dinardi, um dos três sócios da empresa.
Reflexão. Quem gosta de repetir o exemplo dos empreendedores mineiros é o professor de administração do Ibmec, João Bonomo.
Não à toa, foi ele quem orientou os rapazes na época da faculdade. E, para Bonomo, é assim que deve ser encarado o processo de montagem do plano de negócio - um período em que o empreendedor reflete profundamente sobre os pontos fortes e fracos da empreitada.
"É necessário fazer um estudo de mercado. Saber se há pessoas dispostas a pagar pelo produto ou serviço que você está vendendo. Entender que preços os clientes querem pagar. Perguntar-se: qual o tamanho potencial do meu mercado? Ele é suficiente para remunerar a operação?", sugere o professor.
Para Bonomo, é importante passar pelo plano de negócios antes de começar a empresa. Mas torna-se fundamental não terminá-lo jamais.
"Na verdade, o plano é algo que precisa ser periodicamente revisado, conforme passa o tempo e surgem novas realidades", analisa.
Continuidade. Carlos Eduardo Bizzotto é fundador do Instituto Gene, incubadora de empresas em Santa Catarina, e autor do livro Plano de Negócios para Empreendimentos Inovadores, da Editora Atlas. O especialista concorda com o professor do Ibmec - o plano de negócios nunca se encerra.
Mas ele vai além: tudo precisa ser estruturado antes do início das operações no mercado. "Mergulhar no empreendedorismo sem fazer o planejamento necessário é apontado como uma das principais causas da falência de muitos negócios logo nos primeiros anos de existência", lembra o autor.
Bizzotto, entretanto, ressalta justamente a pouca atenção que os empreendedores brasileiros dedicam ao assunto. "A maioria dos empresários não fez o plano de negócios nem uma vez, que dirá, periodicamente, todo ano. Isso é uma pena. De uma boa empresa, espera-se inovação. E, para que isso tudo dê certo, o plano de negócio será uma bússola na tomada de decisões durante todo o processo", destaca.
O principal motivo dessa falta de interesse do empresariado pelo planejamento está, apontam os especialistas, na simples falta de conhecimento sobre o assunto. "Existem cursos e consultores especializados no assunto que auxiliam o empresário a preparar seu plano de negócio. O dono de empresa pode e deve procurar ajuda", conclui Bonomo.
Veículo: O Estado de S.Paulo