Empresa atribui problemas a competição com importados chineses
Com dívidas de R$ 940,4 milhões, gigante do setor fecha seis fábricas na Bahia e vai produzir na Índia
O ano de 2011 foi difícil para a Vulcabras Azaleia. Pela primeira vez nos últimos 15 anos, a empresa de Pedro Grendene viu sua receita encolher.
Amargando prejuízos milionários, demitiu 8.856 funcionários ao longo do ano, com o fechamento de seis fábricas na Bahia e a linha de produção de Parobé, Rio Grande do Sul, berço da Azaleia. Por conta dos incentivos fiscais recebidos na Bahia, os prédios e os terrenos estão sendo devolvidos para as respectivas prefeituras.
Uma das maiores defensoras de medidas contra importados da China, a Vulcabras se prepara para levar, neste ano, parte da sua produção para a Índia.
Embora 2011 não tenha sido fácil para o setor calçadista -as importações aumentaram 40,3%-, o saldo de empregos do setor no país até novembro foi positivo, com 15.170 contratações.
Terceiro maior produtor de calçados do mundo, o Brasil exporta muito mais do que importa. As vendas externas somaram US$ 1,17 bilhão, ante uma importação de US$ 410 milhões.
Comparando os balanços das cinco maiores empresas de capital aberto (Alpargatas, Grendene, Vulcabras, Arezzo e Cambuci) do setor, a Vulcabras se destaca pelo tamanho do endividamento e pela perda de caixa.
A dívida da companhia era de R$ 940,4 milhões em setembro, último dado público disponível, sendo que, desse total, R$ 380 milhões são empréstimos de curto prazo (vencimento em 12 meses).
O Ebtida (lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações), que mede a capacidade de geração de caixa, foi de R$ 30 milhões negativos de janeiro a setembro.
"Foi um ano péssimo", admite o presidente-executivo da Vulcabras, Milton Cardoso, que também preside a Abicalçados, associação das indústrias do setor.
Ele atribui os problemas à invasão de importados: "As importações subiram demais e tomaram o nosso mercado em calçados esportivos".
Cardoso diz ainda que essa invasão aconteceu "em um momento delicado" de reestruturação da Vulcabras.
Há uma década, a Vulcabras faturava R$ 131 milhões (2000). Em 2010, foram quase R$ 2 bilhões. Esse crescimento se deu por meio de empréstimos e aquisições.
Em 2007, a Vulcabras comprou a Azaleia com um empréstimo de R$ 314 milhões do BNDES. Com o negócio, transformou-se na maior empresa do setor em faturamento -até ser superada pela Alpargatas em 2010.
A aquisição da Azaleia foi uma estratégia de sobrevivência. Até então, a Vulcabras não tinha marcas fortes e dependia quase que exclusivamente do licenciamento da Reebok, cujo contrato vence em 2015. Hoje a Reebok representa 10%, e 60% vêm de Olympikus, marca da Azaleia.
Cardoso se diz confiante de que a estratégia de diversificação de mercados, com o investimento na Índia, além de "uma atenção maior para as marcas femininas Azaleia e Dijean", serão capazes de reverter a sorte da empresa.
Ele também espera poder contar com o programa Brasil Maior, que promete desonerar a folha de pagamentos de alguns setores.
Veículo: Folha de S.Paulo