Juros elevados, inflação maior abocanhando a renda e dúvidas em relação ao futuro da economia são os fatores que deverão frear o consumo dos paulistas neste trimestre. A intenção de compras de bem durável caiu para 60,6%, sendo que no mesmo período de 2011 era 71,8%, segundo pesquisa divulgada pelo Programa de Administração do Varejo, da Fundação Instituto de Administração.
O presidente do conselho do Provar, Claudio Felisoni de Angelo, destaca que outro agravante é que a renda disponível do consumidor para novas dívidas reduziu de 15,7% para 10,2% no intervalo de um ano. Isso significa que uma família com salário de R$ 2.477 terá no fim do mês R$ 254 de sobra para consumo após pagar as contas.
Essa disposição para comprar menos vem acompanhada do aumento da inadimplência. A perspectiva do Provar é que até o fim de março o número de famílias com dívidas em atraso superior a 90 dias chegue a 8%. Prova de que o endividamento está em alta é que 18,4% da renda dos 500 entrevistados está comprometida com crediários, enquanto no último trimestre de 2011, o percentual era de 14,3%. Mesmo há um ano, o indicador atingiu patamar menor, de 15,5%.
INTENÇÃO - Entre os consumidores que vão às compras, os segmentos material de construção (9,8%), automóveis e motos (9,4%) e informática (8,4%) têm a preferência entre os bens duráveis. No geral, vestuário e calçados lideram com 15,4% das intenções. Viagens e turismo aparecem em seguida, apontado por 12% dos paulistas.
Entre as categorias mais apontadas pelos consumidores com intenção de gastar, o tíquete médio da compra de material de construção subiu 62,2%, de R$ 3.559 para R$ 5.772 neste trimestre. O contrário aconteceu com carros e motos, cuja disposição para desembolsos caiu de R$ 23.125 para R$ 16.340 (29,3%). Em informática, a quantia disponível reduziu de R$ 1.453 para R$ 1.330 (8,5%).
Segundo Felisoni, o resultado do índice de intenção de compra mostra que as medidas tomadas pelo governo em dezembro para incentivar o consumo, incluindo a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados, não foram suficientes para elevar o ânimo dos consumidores.
CENÁRIO - Nem mesmo a expectativa de redução da taxa básica de juros, a Selic, para esta semana deverá motivar os paulistas, pois o reflexo nos financiamentos é bastante demorado. "Como o avanço do varejo deverá ficar em 3,2% no trimestre, abaixo dos 12,9% vistos no período anterior, é possível que o governo dê mais incentivos para o consumo no segundo semestre", finaliza.
Veículo: Diário do Grande ABC - SP