Pressionadas pelos estoques e pela chuva, lojas abrem temporada de ofertas neste mês, o que normalmente ocorreria só após o carnaval
O comércio varejista antecipou neste começo de ano em mais de um mês e meio as liquidações de verão. A queima de estoques de artigos de vestuário normalmente ocorre após o carnaval, mas, neste ano, começou na primeira semana de janeiro. Além disso, os descontos são maiores: chegam a 70%, ante 60% em 2011.
Também a lista de ofertas é mais extensa em relação às últimas liquidações e inclui produtos e serviços inusitados, como perfumes, artigos de cama, mesa e banho e até pacotes de viagem.
A CVC, por exemplo, maior operadora de viagens turísticas do País, realizou na primeira semana deste mês uma campanha promocional na qual dava descontos médios de 20% nos preços dos pacotes, com a primeiro pagamento só para março. "Decidimos inovar num período de baixa venda e alta temporada", afirma o vice-presidente comercial e de marketing, Fábio Godinho, relatando que nunca a empresa tinha feito algo parecido nesta época do ano.
O Boticário começou a temporada de liquidação de itens de perfumaria logo após o Natal. Com descontos de 20%, a promoção acaba no próximo domingo. Já a Zelo, especializada em artigos de cama, mesa e banho, começou a liquidar os estoques antes do Natal, no dia 23 de dezembro, dando descontos de até 30% para todos os itens da loja. Segundo a coordenadora de marketing da rede, Bárbara Valente, em outros anos a liquidação começava só após o Natal e os descontos eram oferecidos apenas para uma lista de produtos.
As Lojas Riachuelo, além de antecipar a liquidação para a primeira semana deste mês, decidiram inovar e oferecer a possibilidade de parcelar o pagamento em dez vezes, o que resulta em prestações de centavos. Os descontos chegam até 50% e a liquidação vai até o fim do estoque de verão. Já na concorrente Renner o corte de preço é maior, de 70%, e a temporada de ofertas tem prazo definido: começou no dia 5 deste mês e vai até a próxima quarta-feira.
Estoques. As redes varejistas evitam relacionar a antecipação das promoções ao volume elevado de estoques. Os executivos das companhias alegam que as promoções, tanto de produtos como de prestação de serviços, foram planejadas e não refletem um maior encalhe. Mas as entidades que representam o varejo fazem uma avaliação diferente.
"As liquidações foram antecipadas porque a sobra de produtos foi maior. O Natal de 2011 não foi excepcional como o de 2010", afirma o diretor de relações institucionais da Associação de Lojistas de Shoppings (Alshop), Luís Augusto Ildefonso da Silva. Ele observa que os comerciantes, para obter capital de giro, decidiram antecipar as liquidações. O executivo destaca que as ofertas neste ano contemplam até segmentos como o de turismo, que tradicionalmente não faz liquidação nesta época do ano. "Neste ano não há voos fretados lotados", diz ele.
A Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex) aponta outros fatores que contribuíram para o fraco desempenho de vendas do Natal e a antecipação das liquidações de verão. Segundo a entidade, o elevado nível de endividamento dos consumidores, combinado com juros ainda altos, deixou as pessoas com um pé atrás para ir às compras de Natal. Para piorar a situação, o tempo chuvoso tem atrapalhado a venda de itens de verão. Há varejistas que já começaram a vender artigos da próxima coleção.
"O tempo não está ajudando a moda verão", afirma o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri. Dados da entidade mostram que as liquidações provocaram uma melhora nas vendas à vista. As consultas cresceram 2,4% na primeira quinzena deste mês em relação ao mesmo período de 2011. Mas, na primeira semana deste mês, o crescimento anual era praticamente nulo (0,1%).
Veículo: O Estado de S.Paulo