Principal acionista da credenciadora de cartões está disposto a pagar R$ 35 por ação a minoritários; mercado acha pouco
No mesmo dia em que informou o maior lucro anual da história dos bancos brasileiros, o Itaú anunciou que pretende fechar o capital da Redecard, em uma operação que, se aprovada pelos órgãos reguladores e acionistas minoritários, movimentará quase R$ 12 bilhões. A empresa é uma credenciadora de cartões de crédito e débito, que estreou na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em julho de 2007.
Naquela ocasião, a ação ingressou no mercado valendo R$ 27. A oferta do Itaú, controlador da Redecard, é de R$ 35. Por isso, os papéis dispararam 10,50% ontem na Bovespa, para R$ 35,40.
O presidente do banco, Roberto Setubal, afirmou que a instituição está oferecendo um preço justo para as ações. Ele frisou que é um valor superior ao preço-alvo (ou seja, projeção de médio prazo) dos analistas que cobrem a empresa. "O preço médio dos analistas está abaixo desse valor. Os R$ 35 são o preço que achamos justo", disse.
Setubal explicou que o fechamento de capital da Redecard vai dar mais agilidade às decisões sobre a empresa, que passará a ter um único acionista. Como exemplo, ele citou que ficou acertado que a Redecard vai capturar as transações e afiliar estabelecimentos comerciais para a bandeira HiperCard, do Itaú. "Isso precisou ser validado pelos conselhos das duas empresas. Isso cria amarras, o processo demorou quase seis meses, porque são acionistas diferentes."
Hoje, o Itaú tem pouco mais de 50% das ações da Redecard. Outros 40% estão em circulação no mercado (o chamado free float) e quase 10% pertencem à Lazard Asset Management.
Para o executivo, a Redecard ficou "um pouco atrasada" em tecnologia e, por isso, tem um programa ambicioso de investimentos em modernização de seu parque, que prevê gastos de R$ 500 milhões este ano.
Sobre a integração das operações do Itaú com a Redecard, Setubal disse que os ganhos de sinergia são pequenos. Uma das razões é que a Redecard já usa a estrutura do Itaú.
De acordo com Setubal, a oferta pode ocorrer no prazo de 90 a 120 dias. "É uma operação de valor relevante para o mercado brasileiro", afirmou. Para ele, o fechamento de capital reduz eventuais conflitos de interesse entre o Itaú, que é forte emissor de cartões Mastercard, com acionistas minoritários da Redecard, que são emissores da bandeira Visa.
Para Setubal, quando o mercado de credenciamento era fechado e havia exclusividade entre bandeiras e credenciadoras, fazia mais sentido a empresa ter o capital aberto. Ele destacou que o Itaú tem recursos em caixa suficientes para arcar com a operação e não vai precisar ir a mercado para captar dinheiro.
Repercussão. O Itaú pode enfrentar resistência dos acionistas minoritários, segundo profissionais do mercado. De acordo com analistas e operadores, o preço justo do papel seria em torno de R$ 34,50, mas uma oferta precisaria pagar um bom prêmio sobre isso. "O minoritário só vai querer sair do papel se tiver um prêmio relativo sobre esse valor. Possivelmente, o controlador terá de revisar para cima sua oferta. Mas não podemos descartar a possibilidade de desistência da operação", disse Rafael Dornaus, da mesa de renda variável da Hencorp Commcor.
A equipe de analistas da XP Investimentos observa que o prêmio de 9% sobre o fechamento de segunda-feira (R$ 32,04) pareceu pequeno e um caminho a seguir pode ser uma conversa entre Itaú e os principais acionistas para elevar o preço da oferta. "Em nosso entendimento, deveria haver mais prêmio", disse um analista da empresa, em texto enviado a clientes.
Veículo: O Estado de S.Paulo