Demissões em linha branca provocam protesto

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Cerca de 5 mil metalúrgicos prometem parar a produção em fábricas do Estado de São Paulo na manhã de quinta-feira para protestar contra a falta de proteção do setor de peças para a linha branca, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC). Os trabalhadores de 14 sindicatos de metalúrgicos se encontrarão em São Carlos, polo que reúne empresas fornecedoras de peças para a linha branca. Segundo eles, a redução do Imposto sobre o Produto Industrializado (IPI), válida até 31 de março, não foi acompanhada de uma medida que protegesse o emprego e garantisse a nacionalização dos produtos, como foi feito para o setor automotivo.

"As demissões ocorreram gradativamente no ano passado, mas no fim do ano houve um salto atípico. Algumas empresas também agiram de maneira estranha: a Electrolux, por exemplo, aumentou significativamente a hora extra dos funcionários sem contratar", diz Erick Pereira, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos. Segundo Pereira, sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) perceberam que desde o anúncio das medidas de incentivo ao consumo, em dezembro, houve uma redução nos pedidos das montadoras de linha branca aos fornecedores.

"A redução do IPI da linha branca deveria ter sido acompanhada do compromisso de índice mínimo de conteúdo nacional, mas o setor está desprotegido. O ideal seria a garantia de 100% de peças nacionais, mas 65% já é razoável", diz Sérgio Nobre, presidente do SMABC. "Não adianta as vendas dispararem, esvaziar estoques e não criar empregos no país. Pelo contrário, demitir." A linha branca, segundo o Dieese, é responsável por cerca de 120 mil empregos.

A redução das encomendas é percebida por grandes e pequenos fornecedores. "A gente entregava para a Electrolux cerca de 100 mil eixos [componente da parte mecânica de eletrodomésticos] todos os meses. Agora os pedidos estão em 45 mil", conta o dono de uma empresa que preferiu não se identificar. Em oito meses, ele demitiu 20% do seu quadro de funcionários que produz peças para a linha branca. Procurada pelo Valor, a Electrolux não respondeu. Dagoberto Sanches, dono da Tecumseh, fabricante de compressores para geladeiras, demitiu 200 funcionários em dezembro. A Tecumseh é um dos maiores empregadores de São Carlos, com atualmente 3 mil funcionários em sua fábrica.

A movimentação dos metalúrgicos reflete uma preocupação que não teve início em 2011. Desde que detectaram o problema no setor de linha branca, foi pedido um levantamento ao Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Segundo o documento, que será entregue ainda em fevereiro ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a importação de peças e de compressores da linha branca cresceu 658,6% nos últimos dez anos, enquanto a sua produção aumentou 63,1%. A concorrência chinesa é o que mais preocupa. "O governo incentivou a produção do setor, reduzir o IPI foi bom, mas faltou colocar uma trava na importação. A indústria nacional está perdendo oportunidade de crescer. Esse fenômeno já acontecia fortemente nos últimos anos, mas alguma proteção poderia atenuar esse efeito. Agora, assistimos à continuidade do processo", diz Fausto Augusto Júnior, do Dieese.

No documento, é proposta uma política nacional de crédito para aquisição de produtos da linha branca e a inclusão de eletrodomésticos no programa Minha Casa, Minha Vida por meio de linhas de crédito para seus beneficiados.

Outro ponto abordado no documento é a falta de transferência de tecnologia das montadoras. Eles alegam que os produtos fabricados no Brasil não têm valor agregado. "As geladeiras com comandos eletrônicos, com duas portas verticais, vêm de fora. Não houve transferência de tecnologia. As pessoas passaram a comprar mais produtos da linha branca e uma parte pequena do aumento do consumo foi absorvida pelos produtos nacionais, a maior parte, em especial os mais caros, foi absorvida pelos importados. Isso não seria um problema se houvesse um programa para trazer tecnologia para cá", diz Augusto Júnior.

A Whirpool, que produz as marcas Brastemp e Cônsul, está na lista dos metalúrgicos de empresas que reduziram as encomendas de peças nacionais. Armando Valle, executivo da Whirpool, discorda. "95% dos produtos finais da nossa linha branca são absolutamente nacionais. Os outros 5% são importados." Ele não nega, porém, que produtos de maior valor agregado se encaixam nesses 5%. "São produtos de luxo, com baixo volume e sem apelo nacional. Mas 92% dos nossos refrigeradores e fogões e 85% das máquinas de lavar são nacionais. A linha branca produzida aqui ainda é muito competitiva", explica. Segundo o executivo, a Whirpool tem quatro centros de tecnologia instalados no país, com 900 engenheiros que desenvolvem tecnologia para o Brasil e para as outras sedes da multinacional. "E no Brasil acabamos de contratar 1,1 mil pessoas para a fábrica de Joinville [que produz refrigeradores]. No país, temos cerca de 15 mil funcionários voltados para a produção de eletrodomésticos. Esse quadro é maior que o de 2011."

Citada pelos metalúrgicos da região de São Carlos, a Latina nega que peças importadas estejam substituindo as nacionais na sua linha de produção. "O que importamos é uma peça para purificadores de água, cujas vendas estão aumentando, que não é feita no país. A importação desse componente realmente aumentou, mas não houve redução dos contratos de peças nacionais", disse Valdemir Dantas, diretor da empresa.

A fabricante Mabe também está no alvo do protesto dos metalúrgicos, mas a empresa informou apenas que se encontrará hoje com representantes do governo para pedir o prolongamento do IPI.


Veículo: Valor Econômico


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