A L'Oréal virou uma página em sua história de 102 anos após a saída da herdeira Liliane Bettencourt, aos 89 anos, do conselho de administração da empresa fundada por seu pai, o químico Eugène Schueller. Mas nada havia mudado, ontem, para Jean-Paul Agon, CEO da maior empresa do mundo em vendas de cosméticos, um dia após o anúncio do fim dos 17 anos em que Bettencourt teve assento no conselho, representando a família que detém 31% das ações.
Sua substituição por Jean-Victor Meyers, o mais velho dos dois netos de Bettencourt, "não muda nada", disse Agon na reunião de anúncio dos resultados anuais do grupo. "Essa é uma notícia reconfortante para a estabilidade da empresa, pois confirma o compromisso da família Bettencourt-Meyers para com a L'Oréal".
A posição de Bettencourt estava em dúvida desde o outono passado, quando um tribunal francês a colocou sob a guarda de sua filha, Françoise Bettencourt-Meyers, e de dois netos, depois que um relatório médico declarou que ela padece do mal de Alzheimer.
Essa decisão decorre de uma amarga disputa legal entre mãe e filha única. Embora Bettencourt-Meyers tenha dito que procurava proteger sua mãe contra "predadores", Bettencourt acusou a filha de tentar sufocar sua liberdade.
Para Agon, a mudança no conselho de administração "é absolutamente ideal, porque nada muda em relação ao equilíbrio na estrutura acionária da L'Oréal ou no funcionamento do conselho de administração.A família Bettencourt vota sempre em bloco e sempre vota com a Nestlé ".
O grupo suíço no setor alimentício é o segundo maior acionista da L'Oréal, com uma participação de 30%, e está vinculado a um pacto com a família até 2014. Nos termos do acordo, a Nestlé não pode aumentar sua participação durante a vida de Bettencourt.
O grupo suíço não revela suas intenções, mas é considerada pela maioria dos analistas como o mais interessado em vender sua participação (devido à inexistência de sinergias entre cosméticos e a indústria alimentícia).
"As ações da L'Oréal ainda mantêm-se acima das de suas concorrentes, em decorrência de um pequeno prêmio assumido pelo mercado e da falta de liquidez das ações resultante da participação da Nestlé", disse Emmanuel Bruley des Varannes, analista do Société Générale.
Mas analistas disseram que a maior mudança é que Bettencourt-Meyers e seu filho são incógnitas, em comparação com a matriarca da família, embora Bettencourt-Meyers, tenha, no passado, dito estar firmemente comprometida com a empresa. "Houve algumas declarações públicas de Françoise Bettencourt-Meyers, mas não está claro para os acionistas o que ela deseja para a L'Oréal", disse um analista.
A L'Oréal divulgou alguns detalhes sobre seu novo diretor de 25 anos. Meyers é formado em economia e administração pela Universidade de Paris X Nanterre e também estudou na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
Ele trabalhou com vendas na Louis Vuitton, grupo que opera com artigos de luxo de couro e faz parte da LVMH e passou uma temporada de verão no Goldman Sachs. Nos últimos dois anos, ele trabalhou na L'Oréal tanto na França como no exterior, inclusive na Yves Saint Laurent Beauté, como assistente do gerente de produtos. Ele dirige a Téthys, empresa de investimento da família Bettencourt que tem a participação na L'Oréal, e está em processo de criação de sua própria empresa de artigos de moda de luxo com um amigo.
Ontem, as ações subiram 3% num mercado em queda devido a resultados melhores do que esperados e a comentários otimistas de Agon. Ele disse que a L'Oréal terá desempenho superior ao do mercado de cosméticos neste ano, que, diz ele, deverá crescer 4%.
Veículo: Valor Econômico