Embora ainda pulverizado, o mercado de transporte e logística no Brasil passa por um momento de consolidação de grandes grupos. Aquisições recentes como as de Webjet, Direct Express e Rodoviária Schio por Gol, Tegma e JSL, respectivamente, compõem um cenário com números crescentes de fusões e aquisições no setor. Cada ano em maior número, as operações chegaram ao recorde de 44 em 2011.
Os números são de um levantamento feito pela PricewaterhouseCoopers (PwC). Segundo a empresa de consultoria, o ritmo de crescimento de fusões e aquisições no setor foi de 17% ao ano - superior ao da média da economia em geral, de apenas 5% ao ano. A tendência está na contramão do resto do mundo, onde o número de fusões e aquisições tem crescimento negativo.
A diversificação de operações é um dos principais motivadores para as compras das empresas. Foi o caso da aquisição da Rodoviário Schio pela JSL (antiga Julio Simões Logística), em setembro, por R$ 405 milhões. Segundo Fernando Simões, presidente da JSL, a aquisição permite que a empresa cresça no setor de alimentos, já que a companhia não atuava até então com cargas de temperatura controlada. Também foi esse o caso da Direct Express, especializada em logística para o varejo (principalmente compras pela internet), comprada pela Tegma - antes de transporte de grandes cargas.
Também chama atenção no relatório a maior participação dos investidores estrangeiros. De 20% em 2006, a presença externa nas operações chegou a 27% em 2011. Mesmo com a maior participação de estrangeiros nas operações brasileiras, o cenário de fusões e aquisições nesse setor ainda é dominado por empresas brasileiras, segundo Ernani Moraes, sócio da Pwc. "A complexidade da logística local ainda é um obstáculo para operadores de fora do país", afirma. Por isso, é natural que, quando querem entrar no país, as estrangeiras optem por comprar empresas locais.
Há alguns anos, foi exatamente esse o caso da brasileira Itatrans, comprada em 2009 pela Agility Logistics - de presença global. O presidente brasileiro da Itatrans - e agora presidente das operações brasileiras da Agility -, Ricardo Sapag, avalia a transação como positiva, já que proporcionou maior poder financeiro à empresa. "Há questões mais complicadas, como obrigações, cláusulas contratuais, normas da empresa [compradora] que você passa a ter de cumprir. Mas no balanço [sobre a compra], há mais pontos positivos. Hoje temos mais estrutura, posso contar com as operações da empresa em qualquer lugar do mundo, até no Afeganistão", diz Sapag.
Outro aspecto abordado pela pesquisa da PwC foi a participação de investidores financeiros, como fundos de investimento. O estudo corrobora o que antes era apenas uma observação de especialistas do setor: fundos de investimento estão mais presentes no setor de transporte e logística no Brasil. A participação em fusões e aquisições desse tipo de investidor aumentou consideravelmente de 2006 até 2011, segundo a PwC. No ano de 2006, eles representavam apenas 5% do total de transações. Em 2011, correspondeu a 23% do total das transações ocorridas. Com os grandes aportes dos fundos, em geral, as empresas passam a colocar em prática seus planos de expansão.
Um exemplo desse caso foi a compra de 50% da TCP Terminal de Contêineres (concessionária do terminal de contêineres do porto de Paranaguá) pela Advent International em 2011. Nos bastidores especula-se valor acima de R$ 500 milhões pela operação. Depois da compra, foram anunciados investimentos de R$ 170 milhões por parte do TCP para, em um ano e meio, dobrar sua capacidade anual de movimentação. Outro anúncio relevante do ano foi a compra de 30% da Gafor Logística pela Neo Capital Mezanino, por cerca de R$ 70 milhões. O montante servirá para suprir investimentos da empresa em novas áreas, como a briga pelo mercado de transporte de automóveis.
Veículo: Valor Econômico