As autoridades chinesas emitiram um grave aviso em relação à escassez de água. No alerta, elas advertem que a situação piora a cada dia que passa e que mais de dois terços das cidades do país estão afetados.
A segunda maior economia do mundo está lutando para enfrentar os custos da degradação ambiental que vem acompanhando o crescimento econômico. O agravamento da escassez e da poluição da água representa uma crescente ameaça ao desenvolvimento econômico e social, disse ontem Hu Siyi, vice-ministro de Recursos Hídricos.
"As restrições das nossas fontes de água disponíveis ficam mais aparente a cada dia", disse Hu. "A situação é extremamente séria em diversas áreas. Com o excesso de desenvolvimento, o uso da água ultrapassou a capacidade de nossos recursos naturais."
"Se não adotarmos medidas fortes e firmes, será difícil reverter as graves escassezes e o agravamento diário da situação da água", acrescentou.
Pequim tentou lidar com a questão por meio de políticas que limitam o consumo, controlam a poluição e aumentam a monitoração de canais remotos. O governo também investiu enormes somas de dinheiro em conservação de água e sistemas de irrigação e gerenciamento, e planeja gastar 4 trilhões de yuans (US$ 638 bilhões) no setor ao longo dos próximos dez anos.
Ma Jun, um ativista ambiental e especialista em água, afirma que as políticas do governo têm ido na direção certa, mas fracassaram em contar a crescente demanda. "Nós construímos todas essas represas, estamos perfurando cada vez mais fundo para atingir aquíferos, muitas cidades estão construindo projetos de desvio de água. Sob certos aspectos, estamos atingindo nossos limites em termos de suprimento de água", disse Ma.
Um derramamento de metais pesados no rio Longjiang, no sul, recentemente pôs em evidência os desafios que o governo tem diante de si enquanto tenta resolver os problemas de poluição da água.
O derramamento de cádmio, que foi encoberto pelas autoridades locais, contaminou mais de 320 quilômetros do rio e tornou-se um grande assunto da mídia. Dois terços das cidades da China têm falta de água, quase 300 milhões de habitantes rurais não dispõem de acesso a água potável e dois terços dos lagos do país apresentam deficiências químicas causadas por poluição, de acordo com estimativas governamentais.
Ambientalistas afirmam que muitas das políticas para a água tiveram impacto limitado, devido à dificuldade em fazer a lei ser cumprida no interior, onde autoridades locais podem dar preferência ao crescimento do produto interno bruto - algo que há muito tempo é levado em consideração para promoções oficiais - em detrimento do respeito às diretrizes ambientais.
Num gesto raro para uma autoridade chinesa, Hu reconheceu algumas dessas limitações. "Se as nossas fracas políticas originais de administração de recursos hídricos forem mantidas, será difícil cumprir as urgentes demandas por água que são necessárias para melhorar a condição de vida das pessoas e para o desenvolvimento econômico", ele disse.
Veículo: Valor Econômico