A Marfrig deu ontem mais um passo na reestruturação dos negócios iniciada em 2011. Com uma dívida líquida de quase R$ 8 bilhões e a necessidade de reduzir custos e gerar caixa, a companhia anunciou que as operações de aves, suínos e alimentos processados de três empresas do grupo - Seara, Moy Park e Keystone Foods - serão integradas em uma única divisão, a Seara Foods. Com essa estrutura, a Marfrig prevê atingir, em cinco anos, ganhos de sinergia de até R$ 330 milhões anuais. A nova divisão se soma à Marfrig Beef, de carne bovina, criada em outubro.
As mudanças ocorrem após anos de uma estratégia agressiva de aquisições. Desde 2006, o grupo comprou 18 empresas no Brasil e no exterior. "Agora, nosso foco é gestão dos negócios, redução de custos e geração de caixa", afirma Ricardo Florence, diretor de relações com investidores, que reconhece a complexidade do processo de integração das diversas culturas que compõem o grupo.
A restruturação foi baseada em um estudo elaborado pela consultoria Bain & Company, que calculou os ganhos de sinergia tanto no segmento de bovinos quanto no de aves, suínos e alimentos processados.
Desde outubro de 2011, com a criação da Marfrig Beef, a companhia trabalha para unificar as operações de bovinos de Brasil, Argentina e Uruguai, responsáveis por 35% da receita do grupo. Conforme Florence, as unidades nos três países já integraram suas operações de exportação. No entanto, os respectivos mercados internos vão continuar a ser atendidos individualmente.
No caso das operações de aves, suínos e alimentos processados, cuja integração foi anunciada ontem, a divisão responsável será a recém-criada Seara Foods, sob o comando interino do CEO da Marfrig, Marcos Molina. A nova estrutura, que integra as operações da Seara Brasil, Keystone Foods e Moy Park, não implica a fusão das três empresas, que continuam existindo e operando com suas próprias identidades.
"Não estamos juntando as três divisões. Decidimos atacar essa sinergia por meio dos comitês colaborativos, que estão sendo formatados agora", explicou David Palfenier, CEO da Seara Brasil. Juntas, Seara, Keystone e Moy Park respondem por 65% do faturamento da Marfrig, que no terceiro trimestre de 2011 chegou a R$ 5,5 bilhões.
Durante as discussões sobre o modelo de integração das operações, a fusão das três companhias foi descartada. "A Keystone é voltada ao food-service e a Seara ao varejo, e pretendemos manter esse tipo de foco nas divisões", diz Palfenier. Segundo ele, "tentar uma fusão poderia trazer muitas dificuldades e demorar. Entendemos que o modelo de comitês é muito mais interessante".
A Seara Foods contará com seis comitês responsáveis pela integração e geração de sinergias: Excelência Operacional e Supply Chain, Gestão de Talentos, Sinergia com Marfrig Beef, Resultados e Finanças, Comercial Europa e Contas Globais. Cada gestor terá uma meta a ser cumprida. "A maior responsabilização [dos executivos] favorece a captura de sinergias", acrescenta Florence.
Os ganhos de sinergia, estimados entre R$ 220 e R$ 330 milhões anuais, levarão de dois a três anos para se materializar, com a conclusão dos ganhos esperados em cinco anos, explicou Florence. Os cálculos levam em consideração o desempenho médio de empresas que também adotaram o modelo de comitês colaborativos. "A perspectiva é que alcancemos o ritmo da maioria dessas empresas", avalia.
Nesse cenário, os ganhos de sinergia poderiam chegar a 25% do total esperado logo após o primeiro ano da nova estrutura (Seara Foods) e de seus comitês. Em três anos, estima Palfenier, os ganhos alcançariam 75%.
Do potencial de até R$ 330 milhões projetado pela Marfrig, entre R$ 130 milhões e R$ 230 milhões são esperados com sinergias de custo e cerca de R$ 100 milhões com sinergias de receita, que contemplam as vendas centralizadas de sub-produtos, ganhos de escala na Europa, compartilhamento da expertise em logística da Keystone, vendas cruzadas e aumento das vendas interdivisões. Os cálculos não incluem os ativos da BRF - Brasil Foods, que foram adquiridos pela Marfrig no fim de 2011.
Na Seara Foods, a Seara Brasil, que atua nas áreas de aves, suínos e produtos industrializados, representa 60% do faturamento. Já a americana Keystone Foods, que também atua nos mercados do Reino Unido e da França, será responsável por 23% das vendas da nova divisão. Adquirida pela Marfrig em 2009, a empresa, que é uma das maiores fornecedoras do McDonald's, ainda tem cerca de US$ 65 milhões em ganhos adicionais de sinergia não capturados desde a aquisição.
O restante fica por conta da Moy Park, que produz industrializados de frango. A empresa, que passou ao controle da Marfrig em 2008, tem plantas na Irlanda do Norte, Inglaterra, França e Holanda.
Veículo: Valor Econômico