Investir em produtos pessoais mais caros, comer na rua e comprar itens de menor valor agregado para limpar a casa: esse é o perfil do brasileiro que, com o aumento da renda, passou a gastar mais consigo mesmo do que com a casa, segundo dados divulgados ontem pela consultoria Nielsen.
Em 2009, 18,3% do orçamento das famílias era destinado para "abastecer o lar". Essa fatia caiu para 14,6% em 2011. A verba foi redirecionada, principalmente, para refeições fora de casa, investir em veículo próprio e comprar produtos da linha branca.
O brasileiro sofisticou o consumo nesses anos. Entre investir em um produto de limpeza caro ou em um cosmético, fica com a segunda opção. Ramon Cassel, analista de mercado da Nielsen, diz que o consumidor não dá importância para produtos de limpeza de maior valor agregado. "A diferenciação para o consumidor não é clara", diz. A decisão é feita, basicamente, pelo preço. Cassel diz que a maior parte do faturamento de produtos para o lar provém de marcas de preço médio e baixo.
Em 2009, a alimentação fora do lar pesava menos de um quarto (22%) do que era gasto com comida. Em 2011, essa fatia subiu a 30%. O consumidor passou a comprar menos comida para cozinhar e a frequentar mais restaurantes, padarias, pizzarias e lanchonetes.
Essa mudança de hábito também é percebida ao analisar a cesta Nielsen, que mostra a variação de volume no consumo de 131 produtos. Na média geral, o brasileiro consumiu 1,2% a mais em 2011 em relação a 2010. Em mercearia salgada (arroz, óleo e boa parte da cesta básica), o volume recuou 0,9%; em produtos de limpeza doméstica (sabão, lã de aço etc), não houve crescimento.
A cesta é dividida em sete categorias e as de mercearia salgada e de produtos de limpeza foram as únicas a não apresentar crescimento em volume no ano passado. Todos os outros grupos cresceram: bebidas alcoólicas (1,6%), bebidas não alcoólicas (1,8%), mercearia doce (0,7%), alimentos perecíveis (3,7%) e higiene e beleza (1,9%).
Há dois anos, o brasileiro gastava 1,4 vez mais com o veículo próprio do que com o transporte público. Essa diferença aumentou para 1,9 vez no ano passado. Neste gasto estão incluídos financiamento, pedágio, gasolina e estacionamento, por exemplo.
Os gastos com eletrodomésticos subiram 27,8% entre 2009 e 2011, segundo a Nielsen. Durante alguns meses, nestes dois anos, o governo promoveu reduções de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a linha branca. As despesas em manutenção da casa - que inclui aluguel, reformas e gastos com limpeza, entre outros - caíram 20% nos últimos dois anos.
Ao analisar a cesta de 131 produtos, a consultoria constatou que o consumo no varejo cresceu 1,2%, em volume, e 8,3%, em valor, no ano passado, em relação a 2010. Houve dois movimentos que explicam esse aumento no valor gasto: consumo de itens sofisticados (antisséptico bucal, cereal matinal e em barra, lenços umedecidos, leite de soja e pratos prontos, por exemplo) e aumento de preços.
Veículo: Valor Econômico