Reclassificação do trigo pode ser adiada novamente no País

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As novas normas de classificação do trigo, adiadas em 2011 para julho deste ano, não estão garantidas. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não confirma a aplicação da Instrução Normativa 16 (IN 16), e diz que a medida está "em estudo". "Até a efetivação das regras, ficamos apreensivos", declara o presidente do Moinho Pacífico, de São Paulo, Lawrence Pih.

Publicada no Diário Oficial da União em abril de 2011, a IN 16 alterava "para 1º de julho de 2012 o início da vigência das regras de identidade, qualidade, amostragem e rotulagem do cereal, estabelecidas na Instrução Normativa 38, de 2010". Para moageiros, a protelação era "mais uma de muitas", conforme apurou, na época, o DCI.

"Os produtores resistem [à medida] porque o trigo deles é de baixa qualidade, mas tem uma produtividade enorme", afirma Pih, ressaltando que o governo federal estabelece um preço mínimo elevado para os triticultores. Por outro lado, os moinhos anseiam pela reclassificação, pois assim haveria "mais trigo no mercado", diz Pih.

O Brasil importa algo em torno de seis milhões de toneladas de trigo por ano. O consumo do País fica entre dez e onze milhões de toneladas, mas a produção (distribuída em 2,2 milhões de hectares) não vai além da metade deste volume. Então, o mercado nacional depende de países como a Argentina, que é responsável por cerca de 90% das importações brasileiras do cereal. "Não temos vocação para o trigo", afirma Pih. "A nova classificação vai estimular a produção de trigo mais apropriado para a panificação", acrescenta o moageiro paulista.

Neste ano, a produção do Moinho Pacífico será baseada quase inteiramente em cereal importado, pois o trigo paranaense - do tipo melhorador, de alta qualidade - foi afetado por problemas climáticos. A estratégia da empresa é fazer compras volumosas quando há "qualidade e preço convidativo", de acordo com o moageiro. O cereal fica armazenado em silos com capacidade física para 200 mil toneladas.


Complicações

"A mudança de critérios vai ser benéfica a longo prazo", diz o pesquisador Eduardo Caierão, da Embrapa Trigo. Mas ele reconhece que, "imediatamente", a IN 16 deve trazer complicações para o triticultor. E a principal dificuldade está na separação dos tipos de trigo, no processo de armazenagem, o que acarreta a perda de liquidez financeira.

"Não temos capacidade de segregar o produto, que fica sem identidade nos silos", afirma Caierão. Portanto, o produtor tem que se organizar e "ser cada vez mais profissional", analisa.

Segundo o presidente da Associação de Produtores de Trigo e Soja do Rio Grande do Sul, José Antônio Silva da Veiga, "muitos produtores ainda não estão preparados para as mudanças". E, mesmo que todos estivessem, "o grande entrave é o clima", que não respeita a exigência por padrões de qualidade.

Além disso, "algumas variedades terão de ser melhoradas, para ganhar resistência a pragas e oferecer mais produtividade. É um trabalho mútuo, de pesquisa e produtor", afirma Veiga.

Ao contrário do que pensa Pih, do Moinho Pacífico, o pesquisador da Embrapa Trigo acredita que não haverá perda de produtividade. "A produtividade continuará a mesma", afirma Caierão, "pois trabalhamos para criar cultivares mais produtivas". Por outro lado, em função da mudança, o sistema de produção deve ficar mais rigoroso e pode haver uma redução na área plantada, de acordo com o especialista.

A pesquisadora Vladirene Vieira, da mesma instituição, acredita que, com as novas regras, o produtor tenha "medo de que não seja possível atender à qualidade exigida, pois poucas regiões do Brasil tem uma qualidade excelente de grãos, o que pode causar perda de preço".

A principal ameaça é o clima, que compromete o sucesso da lavoura e a qualidade do trigo. O principal tipo do cereal é classificado como "pão", sendo o mais comum no Brasil. O trigo "brando", que predomina na produção gaúcha, apresenta características inadequadas, como baixo nível de glúten, para a panificação.


Mercado externo

No ano passado, o Brasil exportou um volume superior a duas mil toneladas de trigo. Os principais mercados estão em países do Oriente Médio e da África, e o governo brasileiro subsidia os embarques a essas regiões há três anos.

A Europa não compra o cereal brasileiro por causa da má qualidade, segundo Pih.

Principal exportador de trigo ao Brasil, "o produtor argentino conseguiu produzir o cereal por metade do nosso custo", observa Pih. Enquanto no País se paga algo entre US$ 250 e US$ 300 para produzir uma tonelada, na Argentina o custo produtivo é de US$ 140, segundo Pih. "No Brasil, o produtor exige um preço mínimo muito alto", diz ele.



Veículo: DCI


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