Maioria dos britânicos gosta de lavar louça

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Após as refeições, na cozinha de sua casa em Hitchin, a 55 km ao norte de Londres, a família Quinn lava a louça à mão. Eles não têm lava-louças e Louise Quinn acha que eles não precisam de uma. "Não me importo de lavar a louça", diz ela, 44, gerente de atendimento a clientes de uma fábrica de suplementos alimentares para animais de estimação. "Todos ajudam, o serviço não demora e damos um bom exemplo para minha filha."

Este é o desafio que os fabricantes de máquinas de lavar louça e detergentes relacionados enfrentam no Reino Unido, incluindo a Reckitt Benckiser, maior fabricante de detergentes para máquinas de lavar louça da Europa ocidental, e os fabricantes de utensílios domésticos BSH Bosch und Siemens Hausgeräte e Electrolux. As vendas de lava-louças caíram 11% no Reino Unido em relação a um pico registrado em 2007, segundo estima a consultoria GfK RT. "Comparado à Europa ocidental, as máquinas automáticas de lavar louça são consideradas menos uma necessidade e mais um luxo por muitos consumidores britânicos", diz Lee Peart, analista da firma de pesquisas de mercado Euromonitor. "É cultural. É essencial impulsionar as vendas dos utensílios, em vez dos produtos de limpeza."

Quatro em cada dez adultos possuem uma máquina de lavar louça no Reino Unido, diz a firma de pesquisas de mercado Mintel. Isso se compara a 77% na Alemanha, 52% na França e 49% na Espanha, ainda segundo a Mintel. Na Europa, apenas a Grécia e a Turquia apresentam taxas de posse menores que a do Reino Unido. Nos Estados Unidos, cerca de 78% das moradias possuem um lava-louça, segundo a Association of Home Appliance Manufacturers.

Para melhorar as vendas, o presidente-executivo da Reckitt Benckiser, Rakesh Kapoor, anunciou no mês passado que sua companhia vai direcionar mais seu orçamento de marketing para a educação do consumidor, afastando-se um pouco dos comerciais de TV. A conversão de um número maior de britânicos para o uso das máquinas de lavar louça ajudará o Finish, um detergente para lava-louça da Reckitt Benckiser que abocanhou uma participação dominante de 40% no mercado da Europa ocidental em 2011, segundo a Euromonitor.

Os lava-louças automáticos usam menos água e energia e economizam tempo, em comparação à lavagem manual, segundo um estudo feito em 2010 entre 150 britânicos e publicado no "International Journal of Consumer Studies". Mas quase metade das pessoas consultadas achava, incorretamente, que a lavagem manual consumia menos água, segundo o estudo, parcialmente bancado pela Reckitt Benckiser e pela BSH.

Liz Falconer, porta-voz da BSH, diz que a companhia vende uma lava-louça Bosch que usa apenas seis litros de água por ciclo, cerca de um oitavo da média usada por participantes do estudo que lavaram pratos manualmente. Ainda assim, quatro em cada dez britânicos consideram as máquinas de lavar louça caras de manter, e um número muito parecido as vê como um luxo desnecessário, constatou a Mintel. Para mudar essa mentalidade, a Reckitt Benckiser e a Electrolux uniram-se em uma campanha de marketing que enfatiza a conveniência do uso do lava-louça, alegando que a lavagem manual corresponde a uma semana do ano diante da pia.

O espaço apertado das cozinhas britânicas é outro fator contra, segundo Anthony Stocker, encarregado de compras de utensílios domésticos da rede Argos, da Home Retail Group. Assim, os fabricantes de lava-louças responderam com modelos que são 25% mais finos. Essas máquinas vêm conquistando alguns céticos e a penetração no Reino Unido é hoje duas vezes maior que os 20% de 1999. A construção de novas moradias, que atingiu o maior nível em 18 anos em 2007, também estimulou a adoção. Mas o desaquecimento do mercado imobiliário residencial desde 2008 "afeta duramente" as vendas de máquinas de lavar louça desde então, segundo Stocker.

Benjamin Voyer, professor assistente de administração na The American International University em Londres e professor convidado do Institute of Social Psychology da London School of Economics, diz que os motivos dos britânicos para não ter um lava-louça disfarça o simples fato de que é difícil abandonar velhos hábitos.


Mercado promissor no Brasil

A estagnação do mercado europeu no consumo de lava-louças aumenta a necessidade de as empresas investirem no Brasil. Por aqui, apenas 2% dos lares possuem esse tipo de máquina, contra 46% nos países desenvolvidos, segundo a Whirlpool, maior fabricante de eletrodomésticos do mundo e que detém as marcas Brastemp e Consul.

Para aumentar as vendas, a Whirlpool montou em Rio Claro (SP) um laboratório de lava-louças, onde são testados produtos para o país. O maior entrave para crescer é o preço: a máquina mais barata custa R$ 1 mil. Em entrevista ao Valor, publicada em fevereiro, Rogério Martins, vice-presidente de desenvolvimento de produtos, diz que é difícil lançar uma lava-louça por menos de R$ 1 mil por causa dos altos custos de produção, como mão de obra e matéria-prima.

Apesar do preço, alto para os padrões da classe média, este mercado tem potencial: segundo a Nielsen, os gastos das famílias brasileiras com eletrodomésticos cresceram 27,8% entre 2009 e 2011.


Veículo: Valor Econômico


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