Gaúchos devem superar paranaenses em trigo

Leia em 3min 20s

O Rio Grande do Sul deverá superar o Paraná e assumir a liderança da produção de trigo no país depois de mais de 30 anos. É o que indicam os primeiros levantamentos estaduais de intenção de plantio do cereal, que apontam que os gaúchos, que acreditam que haverá medidas de apoio do governo para a comercialização, deverão cultivar uma área 15% maior nesta safra 2012/13. Como têm a opção de expandir o cultivo de milho e vão exercê-la, os paranaenses deverão cultivar uma área cerca de 17% menor.

O cultivo já começou em algumas poucas regiões do Paraná, mas deverá ganhar ritmo nos dois Estados a partir de meados de maio. Se confirmada, será a terceira queda consecutiva da safra paranaense de trigo. No centro-norte do Estado, os triticultores podem optar pela segunda safra de milho. Como a rentabilidade do milho está muito superior a do trigo, é natural que os produtores que têm margem para a substituição façam isso, explica Margorete Demarchi, engenheira agrônoma do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), órgão ligado à Secretaria de Agricultura do Estado.

Segundo o Deral, ontem o preço médio do milho no Paraná foi de R$ 22,26 por saca de 60 quilos, ante um custo, apenas para o plantio da safrinha, de R$ 14,62 por saca. Já no caso do trigo, o preço médio da saca foi de R$ 24,85, ante um custo de produção de $ 25,75 por saca. Com apoio do governo, a margem pode até ficar positiva, mas tende a permanecer inferior a do milho.

Por causa disso, estima Margorete, a área paranaense de milho safrinha deverá avançar de 1,7 milhão, em 2011/12, para 1,9 milhão, enquanto a de trigo deverá cair de 1,1 milhão para 871 mil hectares.

No Rio Grande do Sul, essa diferença também existe. Por lá os preços pagos pelo trigo estão igualmente próximos do custo de produção. Mas, diferentemente dos produtores do Paraná, os gaúchos simplesmente não têm a alternativa de cultivar milho em suas tradicionais áreas de trigo, por questões agronômicas e climáticas.

Nessas áreas, eventuais substituições normalmente abrem espaço para outros cereais de inverno, como cevada, aveia e canola, cuja liquidez é ainda menor do que a do trigo, explica Rui Polidoro, presidente da Fecoagro (Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul).

Por essas razões, afirma ele, a expectativa é que o trigo gaúcho ocupe uma área de 1 milhão de hectares, ante os 860 mil do ciclo anterior. A expansão, conforme Polidoro, deverá acontecer em áreas do Planalto gaúcho, do Alto Uruguai e do norte do Estado anteriormente ocupadas com aveia, gado ou sem uso produtivo.

O avanço do trigo no Rio Grande do Sul - que cultivou 1,3 milhão de hectares na safra 1982/83, última vez em que superou o Paraná - está diretamente relacionado aos subsídios destinados pelo governo para a comercialização da commodity. Somente nesta temporada 2011/12, do total de R$ 200 milhões de apoio à comercialização do produto no país, R$ 129 milhões foram para o cereal gaúcho. "O Rio Grande do Sul planta muito trigo do tipo 'brando', parecido com o cereal da Rússia. Com o subsídio do governo, os gaúchos conseguiram encontrar espaço no mercado externo", afirma Michael Fávero, analista da Safras & Mercado.

O Brasil produz, no total, cerca da metade de sua demanda, que gira em torno de 11 milhões de toneladas. No entanto, mesmo sem ter uma oferta abundante no mercado doméstico e depender de importações - o país é um dos maiores do mundo nesse ranking -, o trigo produzido no país tem baixa liquidez sobretudo devido sobretudo à concorrência com o produto cultivado na Argentina.

Por isso, o governo precisa, ano após ano, liberar subsídio à comercialização. Desde 2005, foram destinados mais de R$ 2 bilhões para apoiar a venda do trigo nacional, sobretudo aos Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, que juntos representam 90% da colheita nacional, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).


Veículo: Valor Econômico


Veja também

Embarques brasileiros de café "diferenciado" crescem no 1º trimestre

As exportações brasileiras de café em março caíram 16,3% em receita na comparaç...

Veja mais
Endividada, Davene busca se recuperar

Um grupo formado por três fabricantes de produtos de higiene, limpeza e beleza, entre eles os cosméticos Da...

Veja mais
Coteminas prevê varejo de R$ 5 bi em 2016

"Romance" e "brilho". É isso que a Coteminas quer vender. Daí a estratégia de fortalecer cada vez m...

Veja mais
Maior fábrica da Kraft no mundo amplia produção de ovo de Páscoa

No domingo, a maioria dos ovos de Páscoa que serão abertos no Brasil terá a mesma origem, a f&aacut...

Veja mais
Preço da geladeira cai 4,7% em SP, mas a inflação volta a subir

Os preços das geladeiras baixaram 4,73% em março na cidade de São Paulo, devolvendo a alta de 4,24%...

Veja mais
Reciclagem animal fatura R$ 6 bi em 2011 e tem potencial para crescer

O alimento não é a única propriedade dos animais de corte: após a extração da ...

Veja mais
Produto foca atacado e o varejo

A Dori Alimentos aposta na marca Disqueti, sob a qual está uma linha de pastilhas de chocolate que ganha a partir...

Veja mais
Comércio de medicamentos

O comércio  de medicamentos deve movimentar R$ 63 bilhões este ano, 13% a mais do que em 2011. A m&ea...

Veja mais
Preço de ovos de Páscoa pode variar até 36,8%

O preço dos ovos de Páscoa pode variar até 36,8% nos grandes supermercados de Belo Horizonte. &Eacu...

Veja mais