Apesar de haver um clima de caminho para um cenário de desaceleração neste próximo trimestre no comércio varejista, o calendário reforçado pelo Dia das Mães e Dia dos Namorados, consideradas datas importantes para o varejo, deve levar lojistas de shopping centers a prospectarem elevação nas vendas. Em maio, a previsão é incremento de 10%, com aumento do fluxo de pessoas de 8%, frente a mesma data em 2011. Além dos centros de compras, lojistas do sul também estão confiantes e pesquisa do Sindilojas Porto Alegre mostra os comerciantes com meta de 23,7% de incremento nas vendas.
Para a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), as lojas que receberão maior número de clientes interessados em presentes para o Dia das Mães são as de roupas, calçados, cosméticos e perfumaria, além de eletroeletrônicos, com destaque aos smartphones e tablets, sem esquecer os produtos da linha branca, ainda beneficiados pela diminuição do Imposto de Produtos Industrializados (IPI). "Os incentivos governamentais anunciados na área fiscal, tributária e trabalhista; a redução na taxa de juros; a ampliação real do rendimento médio do trabalhador e o reflexo do aumento do salário mínimo dado em janeiro, são os fatores que devem contribuir para que a expectativa positiva se confirme", disse Luiz Fernando Veiga, presidente da Abrasce.
Com relação aos consumidores do Sul, de acordo com Ronaldo Sielichow, presidente do Sindilojas Porto Alegre, estudo da entidade aponta que boa parte dos consumidores afirmou que pretendem gastar até R$ 100 com os presentes e a principal forma de pagamento é em dinheiro. Cartão de crédito aparece em segundo lugar e são mais frequentes em faixas etárias e rendas maiores. Sobre gastar mais ou menos, dois em cada três entrevistados pretendem comprar presentes do mesmo valor de 2011, o que significa 65,3% do total.
Os dados gerais, porém, indicam que haverá aumento de aproximadamente 6% nos gastos. Antecipar as compras não é a intenção da maioria. Mais de 60% devem realizá-las uma semana antes da data e 22% na véspera ou no próprio Dia das Mães.
Apesar dos lojistas gaúchos e dos que atuam em centros de compras estarem otimistas, há um clima de incertezas, com previsões do Dia das Mães e o Dia dos Namorados com vendas abaixo do esperado este ano, conforme a avaliação d o presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA), Claudio Felisoni.
O especialista acredita na necessidade de ampliar iniciativas para estimular o consumo entre os brasileiros. "As condições de consumo são favoráveis, mas indústria, governo e consumidores não estão preparados para isso. Sem preparo, o consumidor compra e para, o que faz as pesquisas apontarem para picos de alta, seguidos de estabilidade nas vendas", disse ele.
Felisoni acredita que o governo terá de lançar medidas adicionais de incentivo ao consumo para que as vendas retomem um patamar melhor. "Precisamos de mudanças estruturais mais amplas, o que o governo tem feito é dar apenas algumas condições melhores. Mas não soluciona problemas". A mais recente medida foi o corte dos juros por parte dos bancos públicos e a diminuição da taxa básica de juro (Selic) que atualmente está em 9,75%. Mas para o especialista em varejo, ambas não foram suficientes, pois ainda não atingiram a ponta do consumo. "Essas reduções ainda não surtiram efeito para o consumidor", explica Felisoni.
De acordo com Pesquisa Trimestral de Intenção de Compra no Varejo divulgada pelo Provar, a inadimplência deve atingir o maior pico no próximo mês, em maio, maior índice desde o final de 2009. A estimativa é de que no mês que vem a inadimplência atinja 8,1%. Já em junho, espera-se uma leve redução para 7,9%. "É recomendado que sejam viabilizadas ações para incentivar o consumo pois há uma retração significativa das vendas até o final do primeiro semestre, quando a inadimplência deverá manifestar sinais de arrefecimento", declara o especialista. Ainda segundo Claudio Felisoni, o varejo se tornou mais cuidadoso na hora de conceder crédito para evitar a inadimplência.
Para Fernando de Castro, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), a intenção de compra por parte dos consumidores deve-se a três fatores. A primeira é pela necessidade, a segunda vem com o aumento da renda e a terceira é a segurança do consumidor para efetivar a compra. "A retração que o varejo possa vir a sentir, está relacionada a insegurança do momento. Alguns setores que dizem estar em queda, acabam por assustar o consumidor com uma possível falta de emprego por exemplo", diz.
A perspectiva do Provar é que as vendas no varejo no segundo trimestre cresçam 2,9% sobre igual período de 2011. O aumento estimado, no entanto, é inferior ao índice registrado no intervalo anterior, entre junho de 2010 e junho de 2011, de 7%. A previsão tem por base a intenção de compra de 500 consumidores paulistanos, que diminuiu ao final de março. Em relação ao primeiro trimestre deste ano, o índice teve queda de 1,4 ponto percentual., recuando de 60,6% para 58%. Este é o segundo pior percentual da série histórica desde o primeiro trimestre de 2008, quando foi registrado índice de 56,6%.
O levantamento do Provar detectou ainda que a maior intenção de compra entre abril e junho está no vestuário e calçados (21,2%). Em seguida vêm o varejo de informática (11,2%) e linha branca (10,2%).
Confiança oscilante
Outro termômetro para os próximos meses vem de um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), com sinais mais positivos. Embora ainda esteja em patamar inferior ao do ano passado, a confiança do empresário do comércio vem evoluindo favoravelmente neste início de 2012. E a previsão para o futuro é de melhora, segundo a Sondagem do Comércio, feita pela instituição. Na pesquisa, para o trimestre encerrado em março, 60,3% dos entrevistados disseram acreditar numa melhora para a tendência dos negócios nos próximos seis meses. No trimestre encerrado em fevereiro, esse percentual era de 55,9%.
"Seria exagero falar em pessimismo quando há 60% das empresas dizendo que a tendência para os negócios nos próximos seis meses é boa. O grau de otimismo ainda não voltou ao patamar do ano passado, mas houve avanço em março", afirmou o economista Aloisio Campelo, consultor do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Veículo: DCI