Famosa pela forte importação dos produtos que vende no Brasil, a Mattel tem planos de se tornar a maior fabricante de brinquedos em território nacional em menos de dois anos. O primeiro passo já foi dado. A multinacional americana, dona da marca Barbie, firmou parceria com a brasileira Grow para produzir parte do portfólio na fábrica da empresa em São Paulo.
"É só o começo", afirma o presidente da Mattel no Brasil, Ricardo Ibarra. Quando ele assumiu o cargo, há dois anos, o Brasil era um dos seis maiores mercados da Mattel no mundo. Hoje, o país ocupa a segunda posição em vendas, perdendo apenas para os Estados Unidos, informaram executivos mundiais da empresa em conversa com analistas na segunda-feira.
Além da Barbie, a Mattel detém as marcas Hot Wheels e Fisher-Price. Na fábrica da Grow, a companhia produzirá 40 tipos de quebra-cabeça, com entre 24 e 100 peças. Segundo Ibarra, a Mattel se prepara para começar a produzir no Brasil também itens com maior valor agregado em parceria com outras grandes fabricantes locais. As maiores hoje são Bandeirantes, Homeplay, Estrela, Cotiplás e Grow, informa uma fonte ligada ao setor.
No ano passado, o negócio da Mattel na América Latina alcançou "um ponto em que crescimento e escala se cruzam, um marco importante para a operação no continente", informou a Mattel no relatório de desempenho sobre 2011. No período, as vendas na região avançaram 14%, atingindo quase US$ 1 bilhão.
O faturamento global da companhia no ano passado foi de US$ 6,3 bilhões, em alta de 7% em relação a 2010. O lucro subiu 12,2%, para US$ 768,5 milhões.
De imediato, a substituição de importação dos quebra-cabeças pela produção no Brasil não trará economia de custos para a Mattel, diz Ibarra. Mas a iniciativa é estratégica na medida em que permite maior flexibilidade e rapidez na reposição dos produtos, explica.
Em todo o mundo, o modelo de produção da Mattel ocorre por meio de parcerias com fabricantes locais. A companhia produz em 45 regiões, mas tem apenas nove fábricas próprias.
Com a Grow, e outras eventuais parceiras no Brasil, a Mattel pretende compartilhar "nossas boas práticas de manufatura e inovação", afirma Ibarra.
João Nagano, diretor de novos negócios da Grow diz que a empresa estuda ampliar a parceria com a Mattel para outros tipos de brinquedos. Líder nacional no segmento de quebra-cabeças e jogos, a Grow também produz bonecos de vinil, material do qual é feito o rosto da boneca Barbie.
Metade do que a Mattel vendeu no Brasil em 2011 foi importado. A outra fatia corresponde a produtos de consumo (não brinquedos), como roupas e cosméticos produzidos no Brasil, aos quais a Mattel empresa suas marcas.
Antes da parceria com a Grow, o único brinquedo da Mattel com fabricação local era o jogo de cartas Uno, produzido desde 2004 pela Copag, na Zona Franca de Manaus.
Somadas, a parcerias com a Copag e com a Grow vão resultar, esse ano, na fabricação de 5,5 milhões de brinquedos na Mattel no Brasil, sendo R$ 4 milhões só da Copag.
No país, as vendas da companhia têm crescido no patamar de dois dígitos desde 2009. "Nossa evolução tem sido acima do setor como um todo, o que indica que nós estamos ganhando participação de mercado", diz Ibarra.
Ricardo Roschel, diretor de operações da Mattel, explica que os produtos fabricados aqui são customizados para o consumidor local. "Com o amadurecimento da plataforma de produção, planejamos começar a exportar os quebra-cabeças para outros países", adianta o executivo.
Fabricantes brasileiras abandonam plano de fusão
O antigo projeto de fusão entre cinco fabricantes de brinquedos nacionais (Bandeirantes, Gulliver, Grow, Líder e Estrela) está abandonado por tempo indeterminado, segundo o presidente da Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio da Costa.
Para Costa, o mercado nacional ainda não está maduro para um operação com desse tipo. "Cada empresa é muito particular. O alto nível de endividamento das companhias envolvidas também dificulta as negociações", afirmou Costa.
No momento, diz ele, as fabricantes do Brasil têm como prioridade buscar a sua complementação industrial, com parcerias com empresas do Uruguai, Paraguai e Argentina. "Alguns componentes produzidos lá estão sendo usados por companhias brasileiras", conta.
No ano passado, a fabricantes nacionais perderam participação de mercado para os produtos importados. Em 2010, os brinquedos trazidos de fora representavam 40% das vendas no Brasil. Em 2011, com o câmbio favorecendo a entrada de produtos estrangeiros, essa fatia saltou para 70%.
"Nosso objetivo neste ano é estabilizar a participação dos importados em 60%", afirma Costa.
A indústria de brinquedos movimentou no Brasil cerca R$ 3,5 bilhões em 2011, em alta de 13% em relação ao ano anterior, segundo dados divulgados pela Abrinq. Para este ano, entidade calcula um crescimento mais modesto, de 8,5%.
Veículo: Valor Econômico