A safra paulista de laranja deverá ser novamente grande e uma das menos rentáveis dos últimos anos para a cadeia produtiva. A colheita começará a ganhar ritmo em um mês e as negociações sobre os preços dos contratos de fornecimento da fruta entre citricultores e as grandes indústrias de suco do Estado (Citrosuco/Citrovita, Cutrale e Louis Dreyfus) estão paradas. Os contratos de longo prazo, válidos para uma ou mais safras, representam cerca de um terço da demanda de laranja dessas empresas, que lideram as exportações globais de suco. A explicação para a falta de movimento no mercado é simples: superoferta. Nesse contexto, a tendência é que boa parte da colheita 2012/13 simplesmente caia das árvores e fique no chão.
Uma safra de laranja grande e pouco rentável
A colheita da nova safra paulista de laranja começará a ganhar ritmo em um mês e as negociações sobre os preços dos contratos de fornecimento da fruta entre citricultores e as grandes indústrias de suco radicadas no Estado (Citrosuco / Citrovita, Cutrale e Louis Dreyfus) estão paradas. O volume será novamente grande, e a tendência é que a temporada seja uma das menos rentáveis dos últimos anos para a cadeia produtiva.
Os contratos de longo prazo, válidos para uma ou mais safras, representam cerca de um terço da demanda total de laranja dessas empresas, que lideram as exportações globais da commodity. Os pomares próprios das indústrias e o mercado spot respondem pela fatia restante.
Não há números precisos para medir a "paradeira", mas Marco Antonio dos Santos, presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga e diretor da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), estima que 60% do volume envolvido em contratos está descoberto. São acordos vencidos e ainda não renovados. "Em anos ruins anteriores, esse percentual ficou em cerca de 30%", diz.
Nas contas do dirigente, os outros 40% continuam cobertos por contratos mais antigos, a maior parte fixada em mais de R$ 12 por caixa de 40,8 quilos. "É uma estimativa, mas sabemos que há contratos fixados em melhores bases, de até R$ 15".
A explicação para a falta de movimento no mercado hoje é simples: superoferta. Depois de uma produção recorde de laranja na safra 2011/12 em São Paulo, que reúne o maior parque citrícola do planeta, e no Triângulo Mineiro, onde as indústrias também se abastecem de matéria-prima, os estoques de suco das empresas voltaram a aumentar e, às vésperas de mais uma safra grande, qualquer urgência em garantir matéria-prima caiu por terra.
Com isso, o horizonte para os preços da laranja é sombrio, e a tendência é que boa parte da colheita da temporada 2012/13 simplesmente caia das árvores e fique no chão, sem comprador. Restará o mercado de frutas de mesa, onde os preços tendem a desabar caso a oferta aumente demais.
No ciclo 2011/12, a colheita paulista de laranja alcançou 385 milhões de caixas de 40,8 quilos, 20% mais que em 2010/11, segundo a Secretaria da Agricultura do Estado. Somada a produção do Triângulo Mineiro, onde as indústrias de suco radicadas em São Paulo também se abastecem, a oferta superou 400 milhões de caixas, segundo a Faesp.
Para 2012/13, com o clima menos favorável, as previsões de queda vão de 10% a 20%, conforme a consultoria Informa Economics FNP. Na pior das hipóteses, o cruzamento das projeções indica que a colheita poderá atingir 320 milhões de caixas.
"Ainda assim será uma safra grande. Nas duas temporadas anteriores [2009/10 e 2010/11], tivemos 290 milhões e 280 milhões de caixas em São Paulo e no Triângulo Mineiro", afirma Maurício Mendes, presidente da Informa e membro do Grupo de Consultores em Citrus (GConsi). Com os estoques de suco em ascensão, preveem fontes ligadas aos citricultores e às indústrias, esse quadro pode significar queda livre para os preços da fruta para processamento.
Se nada de diferente acontecer, os pessimistas creem em um tombo para R$ 3, ante um "valor mínimo" de R$ 10 garantido em 2011/12 pelos termos de acesso das indústrias à Linha Especial de Crédito (LEC) lançada pelo governo federal para garantir, com estocagem de suco, o escoamento da produção recorde. Foram disponibilizados R$ 300 milhões na LEC, e em 31 de dezembro 311 mil toneladas equivalentes ao produto concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês) estavam estocadas pelas indústrias como garantia para o acesso aos recursos.
A LEC prevê um prêmio aos produtores de laranja depois de efetivamente contabilizadas as exportações do volume de suco estocado, em junho. Como os preços de venda da commodity atingiram o mínimo necessário para esse ajuste (US$ 2,1 mil por tonelada), com embarques de 942 mil toneladas equivalentes ao FCOJ nesta safra 2011/12 até março, por US$ 2 bilhões, o valor das caixas para a produção do suco estocado com a LEC deve subir para R$ 11, valor que para a maioria dos citricultores é remunerador. Trata-se de um nível abaixo do estabelecido para a maior parte dos contratos em vigor - R$ 12, conforme a Faesp -, mas muito superior aos R$ 3 previstos pela alta dos pessimistas em 2012/13.
Christian Lohbauer, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR), que representa as quatro grandes indústrias processadoras, concorda que o horizonte é de queda das cotações internacionais do suco e de pressão sobre os preços pagos pela fruta no país, e diz que está em negociação uma nova LEC para 2012/13.
Lohbauer preferiu não fazer previsões para o preço mínimo da caixa de laranja que poderá ser estabelecido para uma eventual prorrogação da LEC - mas, no mercado, ninguém acredita na repetição dos R$ 10. "Cerca de R$ 7 é mais realista", opinou uma fonte das empresas. O custo fixo de produção da caixa varia de R$ 8 a R$ 13, conforme a Informa Economics FNP, a depender da região, da incidência de doenças e da produtividade dos pomares.
Além das projeções de uma nova safra grande em São Paulo e no Triângulo Mineiro, Lohbauer realça que o consumo global de suco sentiu um novo baque com a crise do carbendazim nos EUA - que barraram a entrada de cargas de suco com traços do fungicida em questão, permitido no Brasil e em outros mercados, e afugentaram consumidores.
Com a oferta em alta e a demanda em baixa, os estoques de suco poderão crescer a ponto de serem suficientes para atender até nove meses de consumo, de acordo com estimativas de mercado.
Assim, não haveria compras suficientes nem com a LEC. Conforme Mendes, da Informa Economics FNP, o cenário mais negativo sinaliza que de 60 milhões a 70 milhões de caixas poderão ficar no chão. A R$ 10 a caixa, seriam até R$ 700 milhões a menos no bolso dos citricultores.
Assinado na semana passada pela CitrusBR e pela Sociedade Rural Brasileira (SRB) - mas não corroborado pela Faesp -, que representa uma parte dos produtores de laranja que fornecem a fruta às indústrias, o Conselho da Citricultura (Consecitrus), que entre outras missões estabelecerá parâmetros para os preços da fruta e tentará evitar fortes oscilações como a que ocorrerá agora, não será estruturado a tempo de influenciar as negociações da safra 2012/13.
Veículo: Valor Econômico