A relação entre estoque e consumo, que havia atingido 33,5% em 2008/9, já se aproxima de 40% nesta temporada
O mercado mundial de açúcar começa a sentir o efeito da maior disponibilidade de produto advinda dos aumentos de produção observados na Índia, na Tailândia, na Rússia e na União Europeia.
Enquanto foram observados deficit de 9,9 milhões e de 4,3 milhões de toneladas, respectivamente, nas safras 2008/9 e 2009/10, nos dois anos seguintes se registra superavit de 3,1 milhões e de 7 milhões de toneladas.
A relação estoque/consumo, que havia atingido níveis muito baixos em 2008/9, de 33,5%, já se aproxima de 40% nesta temporada.
O mercado permanece atento aos fluxos de comércio no curto prazo. Embora as importações da Rússia tenham diminuído temporariamente, em março a China importou 266 mil toneladas de açúcar, ante 95 mil em fevereiro e somente 46,5 mil em março do ano passado.
No acumulado da safra, que começou em outubro naquele país, a importação de açúcar já alcançou 1,77 milhão de toneladas, ante apenas 490 mil no mesmo período de 2010/11. Dessa maneira, a China se consolida como o novo maior mercado para o açúcar brasileiro.
Com os olhos voltados para a Ásia, a atenção também é grande para a oferta da Tailândia, que elevou sua produção de 6,5 milhões para cerca de 10 milhões de toneladas nos últimos três anos.
Em 2011/12, a produção cresceu 6,2% em relação ao ano anterior, e a previsão para 2012/13 é que se mantenha no patamar de 10 milhões de toneladas, das quais 75% são exportadas.
Até o fim de abril, o plantio de cana na Índia, que tem ciclo de produção de somente dois anos em média, foi de 4,41 milhões de hectares, ante 4,32 milhões em igual período de 2011. Portanto, não há sinal, pelo menos por enquanto, de que a produção indiana esteja recuando.
Dentro desse quadro internacional, os olhos se voltam para o Brasil, maior produtor e exportador mundial, que vem enfrentando desde 2009 reveses com o clima.
Exatamente por conta do clima, e apesar dos esforços de plantio e gastos com tratos culturais, tudo indica que a safra deste ano não será muito diferente da observada no ano passado.
Os produtores parecem fazer de tudo para aumentar a produção, atrasando o início da colheita para permitir que as canas recuperem o atraso fisiológico causado pela seca de 2011 -ainda não totalmente recuperado pelas chuvas abaixo da média histórica no início de 2012.
Aumenta também o consenso de que os preços dos combustíveis estão defasados em relação ao mercado mundial, o que pode abrir espaço para a recuperação das cotações do etanol.
Será interessante acompanhar qual será o direcionamento da cana para a produção de açúcar e etanol na safra de 2012. O mundo se volta para o comportamento dos produtores brasileiros.
Como consequência, aumenta também a sensibilidade do mercado a variações cambiais entre o real e o dólar, já que, mais uma vez, o Brasil deve ser, além do maior exportador, também o fornecedor marginal do mercado.
Veículo: Folha de S. Paulo