Cedro mudará a gestão em 2014

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Durante 140 anos, integrantes da família Mascarenhas, do interior de Minas Gerais, estiveram à frente da fábrica de tecidos Cedro Têxtil. Foram até agora 12 presidentes ligados ao clã. O 13º será alguém de fora. Escolhido pelo conselho de administração no fim de abril, Marco Antônio Branquinho Junior começa seu mandato só em janeiro de 2014. Até lá, passará por um processo de imersão em algumas áreas da empresa. Seu cargo atual é de diretor de gestão e recursos humanos.

A Cedro é mais antiga fábrica têxtil do Brasil em atividade ininterrupta desde sua fundação. E está entre as poucas indústrias do país e do mundo com quase um século e meio de atividades.

A escolha do novo presidente da Companhia de Fiação e Tecidos Cedro Cachoeira (Cedro Têxtil é nome comercial) ocorre num momento em que a industrial têxtil brasileira passa por uma fase difícil. O setor fechou o primeiro trimestre com recuo de 7,5% na produção em relação ao mesmo período de 2011. No ano, o recuo foi de 14,8%. Tirando 2010, os resultados são negativos desde 2008.

Enquanto muitas indústrias têxteis fecharam as portas, reduziram produção ou demitiram, a Cedro tem sobrevivido. Teve lucro líquido de R$ 15,9 milhões no ano passado (8,7% maior do que em 2010) e resultado operacional (Ebtida) de R$ 53 milhões (30,5% maior). Não fosse a forte pressão da concorrência asiática, os números seriam outros, diz Aguinaldo Diniz Filho, atual presidente da empresa. "Esses valores não são compatíveis com o tamanho da Cedro. Poderíamos ter resultados 30% a 40% maiores. Mas o que acontece? Há uma guerra de preços com importados e não se pode mexer no preço e na margem.

A decisão do conselho da Cedro por alguém fora da família dos fundadores veio depois de uma indicação da consultoria de Herbert Steinberg, a Mesa Corporate Governance, de São Paulo, contratada em 2011 para conduzir a seleção do novo presidente. Foram dez meses de trabalho. Seis diretores (três deles da família) entraram na disputa. Após uma longa avaliação, a consultoria indicou Branquinho e o conselho - seis representantes da família - aprovou.

"A Cedro vem mantendo seu desempenho, sobreviveu à concorrência chinesa e ao dólar apertado. E essa escolha, por meio de um processo profissional dá sustentabilidade à empresa", avalia José Domingos Vieira Furtado, presidente da Apimec (entidade dos analistas de mercado de capitais) em Minas Gerais.

Branquinho tem 39 anos e ainda não fala à imprensa sobre o cargo que assume daqui a mais de um ano e meio. Ex-consultor do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), ele está há sete anos na Cedro e conhece os principais acionistas. "Não muda nada", diz Cristiano Ratton Mascarenhas, presidente do conselho.

"O que temos pela frente é um cenário em que o setor está com imensos desafios, uma concorrência asiática muito grande e isso faz com que a gente tenha de superar desafios operacionais, tecnológicos e comerciais. O próximo executivo terá de estabelecer estratégias para enfrentarmos tudo isso", diz Mascarenhas.

Para os padrões de empresas familiares, a Cedro é um feito: está na sexta ou sétima geração - o próprio Mascarenhas não tem o número certo em mente. São mais de 200 acionistas, membros da família dos três irmãos que fundaram a empresa em 1872. Eles controlam 64% do capital ordinário da Cedro.

De uma pequena fábrica de tecidos, a Cedro produz hoje denim, brim e telas em quatro unidades: duas em Pirapora, uma em Caetanópolis e uma em Sete Lagoas. Seus tecidos abastecem dois segmentos: moda, cujos clientes incluem C&A, Riachuelo, Renner, Forum, M.Officer, e profissional, vestindo funcionários de empresas como Petrobras e Volkswagen.

Em abril, a Coteminas, dona de 30% do capital total da Cedro e de 18% das ações ON (com direito a voto), informou que pretende criar uma empresa de denim e brim unindo a controlada Santanense com a Cedro. Mascarenhas diz: "Isso não está nos planos da Cedro. Já somos um player nesse mercado no Brasil. Nosso projeto é de expansão orgânica, quando a demanda justificar. Não há nenhum projeto de associação para expandir a produção".

O que está nos planos da Cedro é um investimento de R$ 40 milhões para ampliar a geração própria de energia de uma hidrelétrica na Serra do Cipó (MG) e alcançar 33% do consumo, hoje de 4%. O insumo já representa 10,5% do custo.

Recentemente, investiu R$ 131 milhões em modernização, aumento de produção, inovação e desenvolvimento de produtos. Agora, diz Diniz Filho, a decisão é "esperar o amadurecimento desses investimentos e aguardar melhoria da conjuntura para fazer investimentos mais pesados".

Diniz, que deixará a presidência com 68 anos, é um dos interlocutores junto ao governo federal para discutir medidas de apoio ao setor. "Com o aumento do poder aquisitivo, estabilidade do emprego, queda dos juros e essas medidas para o setor têxtil, de atacar a sonegação, o contrabando e desonerar a folha, acredito que o segundo semestre vai ser positivo para o setor. Não será uma melhoria expressiva: vejo com certo otimismo o caminho da Cedro no resto do ano. O setor estima um crescimento de 2,5% a 3%. A Cedro talvez avance mais."



Veículo: Valor Econômico


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