Três anos após reduzir sua atuação no País a duas linhas de produtos importados, multinacional americana, dona dos sorvetes Häagen-Dazs, volta a produzir no Brasil com a aquisição das nove unidades industriais da empresa familiar
Depois de uma estratégia atrapalhada - ou azarada -, a americana General Mills voltará a produzir no Brasil. A empresa, uma das maiores fabricantes de alimentos do mundo, anunciou ontem a compra da brasileira Yoki por R$ 1,75 bilhão. A multinacional com sede em Minneapolis, nos Estados Unidos, também assumirá uma dívida de R$ 200 milhões da Yoki, conhecido por sua pipoca de micro-ondas, farinhas e produtos juninos.
A General Mills chegou ao Brasil em 2001, quando adquiriu mundialmente a Pillsbury Company, que pertencia à destilaria britânica Diageo. No Brasil, a Pillsbury era dona da linha de massas Frescarini, com fábrica em Bauru (SP), adquirida da Danone em 1996. A Pillsbury também era dona da Forno de Minas, com uma fábrica de pães de queijo em Contagem (MG).
As duas fábricas passaram, então, ao controle da General Mills. "Mas em nenhum momento a matriz teve cuidado com esses negócios. O Brasil não era prioridade, nem sequer chegava a ser mercado secundário. Era só uma operação que veio a reboque da compra da Pillsbury", disse um ex-executivo da empresa.
Tanto que, no auge da crise econômica nos Estados Unidos, entre 2008 e 2009, uma sucessão de fatos fez a companhia decidir deixar de produzir no País, onde o mercado doméstico crescia a passos largos.
O primeiro desses fatos foi o fechamento da fábrica de massas frescas, em 2004. A companhia decidiu que era melhor baixar as portas em Bauru e transferir a produção para a fábrica da Argentina.
"Para ser vendido no Brasil, os produtos Frescarini, que eram perecíveis e com curto prazo de validade, tinham de ser trazidos da Argentina para cá em caminhão refrigerado. Isso deixavam as massas caras demais", lembra um ex-executivo da empresa.
Fogo. Mas, em 2007, a empresa mudou de ideia e resolveu voltar a produzir as massas no Brasil, na fábrica de Contagem. Importou da Itália maquinários que custavam milhões de euros. A General Mills só não contava com um incêndio que, em janeiro de 2008, destruiu totalmente a unidade argentina. Como a transferência de linha para o Brasil ainda não havia sido concluída, o abastecimento dos produtos Frescarini foi prejudicado. Por mais de quatro meses a marca sumiu das prateleiras e os concorrentes não demoraram para ocupar o espaço vago.
Meses depois do incêndio, a americana fechou a unidade de Contagem, que vendeu semanas depois para a família mineira fundadora da Forno de Minas. Desde então, a General Mills vem atuando no País só com produtos importados dos Estados Unidos: as barrinhas de cereais Nature Valley e os sorvetes Häagen-Dazs, vendidos em supermercados e também em 12 sorveterias próprias.
Com vendas mundiais de US$ 16 bilhões, espera-se agora, no mercado, que o Brasil tenha importância estratégica para a empresa. "O mix de produtos deles tem muito a ver com o da Yoki. Acredito que haverá muita sinergia e que vão crescer muito", disse outro ex-executivo. Nos Estados Unidos, a General Mills não passa por um bom momento. Anunciou um corte de 850 funcionários, ou 2,4% do efetivo profissional, como parte de um plano de reestruturação financeira.
A Yoki, por sua vez, teve vendas de R$ 1,1 bilhão no ano passado. É dona de nove fábricas em seis Estados e produz 610 itens diferentes, de salgadinhos a sucos prontos. Tem cerca de 5 mil funcionários. A Yoki é sucessora da Kitano, fundada em 1960, por Yoshizo Kitano, que começou a empresa vendendo cereais e especiarias a granel. Em 1989, ele vendeu a empresa à Refinações de Milho Brasil. Seis meses depois, abriu a Yoki (nome formado com as iniciais de seu nome).
A empresa estava à venda desde o fim do ano passado porque não tinha sucessores. As duas filhas de Kitano não se dedicavam à empresa. Gabriel Cherubini, ex-executivo da Unilever, era casado com uma delas e vice-presidente da empresa. Mitsuo Matsunaga, principal executivo da Yoki, era casado com a outra filha. Mas desentendimentos sobre a administração da empresa eram comuns entre Matsunaga e Cherubini, segundo fontes do mercado.
Veículo: O Estado de S. Paulo