Chep cresce com prosaico estrado de madeira

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O palete nasceu por acaso. Consta que durante a Segunda Grande Guerra um general exasperado com a demora no carregamento de um navio viu no cais uma plataforma de madeira e ordenou que os carregadores depositassem sobre ela as mercadorias para tornar mais rápido o trabalho.

 

Terminada a guerra, o palete sobreviveu no uso civil, mas sua importância era tão maior quanto mais relevância era dada à logística.

 

No Brasil,. com anos a fio de inflação, processo que corrói a moeda e desestimula a eficiência, o palete - como de resto a logística - permaneceu jogado num canto, sem importância.

 

A Chep, empresa de origem australiana que lida com palete, chegou no Brasil há 10 anos, pouco tempo depois de debelada a inflação. Desde então, luta para dar importância ao palete. De tanto insistir, de 105 mil paletes em 1998, a Chep saltou neste final de 2008 para 2,6 milhões de equipamentos.

 

Tal crescimento, de 2.500%, foi alavancado pelo conceito de pool, sistema pelo qual a Chep pilota toda a coleta e entrega por meio de seus 14 centros de serviços espalhados pelo País.

 

No comando da Chep, desde que ela se instalou no Brasil, Pedro Francisco Moreira, diretor-geral da empresa, é engenheiro industrial pela Universidade Metodista de Piracicaba, e em Tecnologia de Alimentos pela Universidade de Campinas.

 

Também um dos fundadores da Associação Brasileira de Movimentação e Logística, a ABML, e atual presidente do seu conselho de administração, Pedro Moreira .é diretor-adjunto da divisão de logística e transporte do Departamento de Infra-Estrutura da Federação das Indústrias de São Paulo, a Fiesp.

 

O próximo passo de Pedro Moreira é consolidar a rastreabilidade dos paletes. "Iniciamos projeto-piloto por meio das etiquetas inteligentes. Pelo rastreamento é possível saber onde estão os paletes, contentores e os respectivos produtos, os ciclos, monitorar prazo de validade dos itens transportados, além de outras informações customizadas em função de necessidades específicas de clientes. Todas as informações em tempo real. É extraordinário"., diz o executivo num dos trechos da entrevista a seguir:

 

Gazeta Mercantil - Como uma pequena estatal australiana se transformou em empresa de 300 milhões de paletes e contentores?
A Chep nasceu na Austrália, ao final da II Grande Guerra Mundial depois que os americanos deixaram naquele território - uma de suas bases militares -, grande quantidade de equipamentos de movimentação e armazenagem, entre eles paletes de madeira. O governo australiano decidiu usar toda essa estrutura para impulsionar a economia, e criou uma organização que ficou conhecida como Commonwealth Handling Equipment Pool, ou pool comunitário de movimentação. Em 1949 a empresa foi privatizada e adquirida em 1958 pela Brambles, organização líder mundial em serviços de suporte com faturamento anual próximo de US$ 4,4 bilhões e que tornou a marca Chep uma referência mundial. Hoje, a empresa está presente em 45 países, em todos os continentes, movimenta mais de 300 milhões de paletes e contentores, e atende 345 mil clientes por meio de 500 centros de serviço, engrenagem administrada por 7 mil funcionários.

 

Gazeta Mercantil - O palete por si só, é um instrumento prosaico, um estrado, sem muito valor. O que foi feito para transformar um estrado em meio de informação estratégica?
O palete ganhou importância durante a Segunda Grande Guerra, quando um general, exasperado com a demora no carregamento de um navio, observou no cais uma plataforma de madeira e ordenou que os carregadores depositassem sobre ela as mercadorias para tornar mais rápido o trabalho. O palete é a interface básica da logística, elementar, mas não se faz logística sem ele. A Chep criou o pool, que na prática é a utilização exponencial do palete numa concepção mais do que simples, mas poderosamente eficiente: o cliente diz quando, como, onde e em que quantidade quer receber os palete, nós entregamos, a empresa os carrega com seus produtos, envia para diversos pontos e nós aparecemos quando chamados para a coleta, ao fim do uso. Ao retornar para nossos centros de serviços espalhados pelo Brasil, todos os paletes são inspecionados. Apesar de aparentar simplicidade, trata-se de operação complexa, pois os paletes rodam o País sem ter um número ou série; têm apenas a cor azul e a marca Chep.

 

Gazeta Mercantil - Onde estão as vantagens do pool?
São muitas, a começar pelo fato de que administrar um parque de paletes está fora da expertise da esmagadora maioria das empresas. Além do mais, existe proliferação incontrolável no mercado de paletes com qualidade inferior ao mínimo tolerável. Com isso, as empresas gastam muito na manutenção e preservação do seu parque próprio de paletes. além disso, todos os paletes do pool são produzidos de forma ambientalmente correta.

 

Gazeta Mercantil - Falando nisso, e a questão da sustentabilidade ambiental?
A Chep tem programa de sustentabilidade ambiental. Os paletes são produzidos a partir de madeira de reflorestamento e por se movimentarem em pool, a cada ciclo de operação voltam para os centros de serviços, onde são totalmente inspecionados e reparados quando há necessidade, o que reduz níveis de descartes. Segundo nossos levantamentos, o sistema de pool da Chep elimina, nos 45 países em que a empresa está instalada, a necessidade de descarte de aproximadamente 6 milhões de toneladas de madeira por ano. Mesmo quando trocados, os componentes quebrados são destinados para aplicações em indústrias de brinquedos ou outros produtos de madeira. Estudo da Franklin Associates, consultoria americana especializada em análise de ciclo de vida, que considerou na análise os procedimentos de fabricação, reparos e descarte, um palete Chep, em comparação ao equipamento tradicional, gerou 8 vezes menos descartes sólidos, consumiu 30% menos energia na fabricação, e emitiu 30% menos gases durante o ciclo pesquisado.

 

Gazeta Mercantil - Como é isso?
Essa ferramenta é muito útil e é suportada por uma metodologia aprovada pela Universidade de Leeds, na Inglaterra. Os clientes Chep podem quantificar os benefícios que o nosso sistema de pool traz ao meio ambiente pelo uso e conservação responsável da madeira durante todo o ciclo de vida do palete Chep, incluindo a produção e a reparação, bem como a relação com o efeito estufa.

 

Gazeta Mercantil - A resistência ao pool era devida ao desconhecimento, temor de não ter em mãos controle sobre os paletes ou o custo?
As resistências estão se dissipando na velocidade do nosso crescimento. A Chep está completando 10 anos de Brasil e quando começamos tínhamos 105 mil paletes. Hoje, são mais de 2,6 milhões de equipamentos, uma evolução de ativos da ordem de 2.500%. Nessa década fizemos uma verdadeira pregação das vantagens da paletização e do nosso pool de paletes azuis. Havia grande desconhecimento, falta de cultura da terceirização e, inclusive, o que ocorre ainda hoje, carência de uma contabilidade real de custos com o uso de paletes próprios. Nosso crescimento se deve à constatação de que o pool é mais eficiente e mais lucrativo do ponto de vista de custo total e dos benefícios advindos da solução. Uma boa forma de se decidir pelo pool e de dirimir qualquer tipo de dúvida é botar tudo na ponta do lápis, notar que ter um parque próprio de paletes foge da essência do negócio, perceber que a troca de paletes com o mercado é problemática, concluir que não é bom se envolver em atritos com os clientes pela não devolução dos paletes, ou por devolução equipamentos em más condições, enfim não correr o sério risco de ter uma unidade de produção parada ou deixar de entregar produtos por falta de paletes.

 

Gazeta Mercantil - Quais são os principais números da empresa?
Atualmente atendemos mais de 700 localidades de nossos clientes diretos e 1.300 participantes do pool, que são empresas redes de varejo, atacadistas, distribuidores, lojas de departamentos etc. Para atender a demanda gerada pelo pool contamos com 14 centros de serviços no País. Temos muito para crescer e tornar nossa atuação ainda mais estratégica, principalmente diversificando o portfólio de produtos do pool com contentores para a indústria automobilística, para líquidos e produtos hortifrúti. Também estamos atentos às tecnologias como RFID (identificação por radiofreqüência), que sem dúvida criará novo dinamismo nas diversas cadeias de suprimentos pela leitura de paletes e contentores.

 

Gazeta Mercantil - Como a Chep encara essa nova tecnologia?
A Chep faz parte do núcleo mundial que iniciou as pesquisas da tecnologia RFID, em 1988, o Auto ID Center, nos Estados Unidos, onde se discute este tema. Por outro lado, a partir de pesquisas próprias, a Chep tem liderado globalmente este tema. Por exemplo, lançou a inédita etiqueta 3 em 1, que propicia leitura por tecnologia RFID, por código de barras e por digitação do número de série.
No Brasil, iniciamos nossa jornada através de um projeto-piloto de rastreamento de paletes por meio das etiquetas inteligentes feito com a participação da Chep, Pão de Açúcar, Procter & Gamble, Gillette e Accenture. Realmente foi um marco no mercado brasileiro e referência na América Latina.
Pelo rastreamento é possível saber onde estão os paletes, contentores e os respectivos produtos, os ciclos, monitorar prazo de validade dos itens transportados, além de outras informações customizadas em função de necessidades específicas de clientes. Todas as informações em tempo real. É extraordinário.

 

Gazeta Mercantil - Como a Chep está usando o RFID no Brasil?
Vale destacar que a subsidiária brasileira, a partir dos resultados daquele projeto-piloto de rastreamento de paletes vem avançando rapidamente com tema para desenvolver ações comerciais não só em paletes, mas também em contentores FLC (Foldable Large Container) para a indústria automobilística, IBC (Intermediate Bulk Container) que transportam matéria-prima para indústrias químicas, cosméticos, alimentos e RPC (Returnable Produce Container) para o segmento hortifruti.
Nosso centro de serviços em Louveira, em São Paulo, está 100% wireless, docas com antenas e leitores, hand held para rastreamento das atividades internas de recebimento, inspeção, lavagem, manutenção, movimentação, estocagem, conferência e expedição. Além disto, boa parte de nosso pool de contentores já possuem etiquetas RFID 3:1.

 

Gazeta Mercantil - Por que o palete da Chep é azul?
Para sinalizar que o equipamento tem propriedade e só pode ser usado no pool da empresas proprietária, que é a Chep. Isso fez com que o equipamento se distinguisse do que se convencionou chamar de palete de troca, ou palete "branco".

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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