Pecuaristas mineiros lotam o plenário da Assembléia Legislativa para discutir a crise na produção.
O presidente da Comissão de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim, disse ontem esperar que a equipe econômica do governo aprove ainda neste ano a liberação de três instrumentos de apoio à comercialização, como forma de enfrentar a crise de preços baixos que vem atingindo o setor desde julho deste ano.
De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), entre julho e outubro, a média ponderada nacional de preços (RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA) já recuou 15 centavos por litro, chegando a R$ 0,6096/litro, em média, em outubro. Em junho, último mês de preços em alta, a média era R$ 0,7633/litro. No ano passado, os preços médios pagos ao produtor chegaram a R$ 0,80/litro, o que chegou a estimular o aumento da produção em pleno período de entressafra.
Entre os instrumentos pleiteados pelo setor produtivo estão operações de Empréstimos do Governo Federal (EGFs), no valor total de R$ 300 milhões para financiar a estocagem. Além disso, esperam a aprovação do Prêmio de Risco para Aquisição de Produto Agrícola (Prop), no valor de R$ 100 milhões.
Subvenção - O prêmio é uma subvenção econômica concedida em leilão público ao segmento consumidor, no caso a indústria, que pode adquirir (em data futura) o produto diretamente de produtores ou por meio de cooperativas, pelo preço de exercício fixado, a partir de um contrato privado de opção de venda, obtidos por meio de leilão público.
Para o Prop, a cadeia produtiva espera que o governo determine um valor mínimo de R$ 0,60 por litro para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste e de R$ 0,55/litro para o Sul do país. Conforme Alvim, o setor também pleiteia a inclusão do leite na Linha Especial de Crédito (LEC), que se destinada ao financiamento da estocagem de produtos de produção própria para venda futura em melhores condições de mercado ou a estocagem de produtos adquiridos pelas empresas diretamente de produtores rurais e de suas cooperativas. "O governo tem se mostrado sensibilizado com a crise do setor", disse Alvim.
Ontem, pecuaristas de leite de diversas regiões mineiras se reuniram em uma audiência pública no plenário da Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), para pedir aos deputados estaduais apoio às medidas. Minas Gerais é o maior Estado produtor do país, sendo responsável por cerca de 30% do total nacional.
Durante a audiência, o superintendente da Associação Minas Leite, José Américo Simões, defendeu ainda a criação de um fundo de marketing, que seria composto por recursos pagos por diversos segmentos da cadeia produtiva, para incentivar o consumo do produto no país. Ele também pleiteou que o leite seja incluído na merenda escolar das escolas públicas. A Minas Leite, localizada em Serrania, no Sul de Minas, reúne aproximadamente 8 mil produtores em 13 cooperativas das regiões Sul e Sudoeste, com um volume de captação de 1,3 milhão de litros/dia.
Conforme Simões, "a crise não é pontual, mas cíclica". Para ele, seria necessário um estudo aprofundado de toda a cadeia para identificar os gargalos que levam a um grande diferencial entre o preço pago pelo consumidor e o recebido pelo pecuarista. "Estimular o consumo interno é fundamental", apontou.
Segundo Rodrigo Alvim, ainda não há como prever o comportamento de preços no último bimestre do ano, já que a oferta costuma aumentar com o início do período de chuvas. Da mesma forma, de acordo com ele, "não há como saber como a crise global irá afetar o setor no próximo ano e, por isso, a orientação aos produtores é de que não façam qualquer tipo de investimento", ponderou.
Exportações - Em 2008, porém, o Brasil deverá bater recordes de exportações. Até outubro o setor bateu a meta de vendas de 1 bilhão de litros para o exterior, com uma receita de US$ 453 milhões. O superávit da balança comercial de lácteos atingiu o patamar de US$ 277 milhões até outubro e praticamente atingiu o mesmo valor de todas as exportações registradas no ano passado, de US$ 295 milhões.
Os preços no mercado internacional, entretanto, estão menos atrativos e vêm atingindo uma média de US$ 2,2 mil a US$ 2,5 mil/tonelada. Em setembro de 2007, o produto atingiu o pico de US$ 5,7 mil/tonelada. (AE)
Estoques excedentes jogam preços para baixo
As principais reivindicações do setor leiteiro de Minas Gerais são de linhas de crédito para o produtor; compra de estoques excedentes do leite pelo governo federal e criação de um fundo de marketing para sustentar campanhas de incentivo ao consumo do leite.
Mais de 600 pessoas lotaram o plenário e suas galerias na reunião da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na manhã de ontem, em debate que se estendeu até o início da tarde. Cerca de 50 sindicatos rurais mineiros estavam presentes, além de representantes da indústria de laticínios, fornecedores e entidades de classe.
As dificuldades pegaram o produtor de leite em pleno aumento de produtividade, conseqüência dos bons preços do mercado externo no ano passado e da melhoria das tecnologias de produção. A produção estimada para este ano é de 7,6 bilhões de litros, de acordo com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa, gerando um excesso de produção da ordem de 2 bilhões de litros. De 2007 para este ano, houve um aumento de 3,7% na produção mineira de leite.
A produção do Estado concentra-se em quatro grandes bacias: Sul de Minas; Zona da Mata e sul da região de Rio Doce; Metalúrgica; e Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Outras duas regiões que têm produção significativa estão em Governador Valadares e Montes Claros.
Produtores reclamaram do baixo preço do litro de leite, que varia de R$ 0,38 a R$ 0,60, em contrapartida ao custo que fica em torno de R$ 0,64 o litro. E ainda da falta de mercado comprador, diante da queda do consumo interno e externo.
Veículo: Diário do Comércio - MG