Entre os setores industriais, o segmento mais gravemente afetado pelas enchentes é o cerâmico, que está totalmente paralisado por falta de gás natural, em função do rompimento do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) em Gaspar (SC). São 16 empresas do sul de Santa Catarina (11 cerâmicas e cinco fornecedoras de corantes e esmaltes) que concederam licença remunerada para 8,1 mil trabalhadores. O prazo para recompor o gasoduto é de 21 dias e o diretor superintendente da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S/A (TBG), Richard Olm, informou ontem aos empresários que estavam reunidos na Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) que 25 técnicos de grande experiência estão trabalhando 24 horas por dia continuamente na recuperação do duto.
"O prazo para o conserto é de 21 dias e não há como reduzir", disse Olm. Segundo ele, os equipamentos estão a 800 metros do local, que está sem acesso por terra, e as máquinas que tentavam abrir caminho atolaram. Olm afirmou que 300 metros de novos dutos serão substituídos e que já estão em Blumenau.
O pólo cerâmico catarinense responde por 15,3% da produção nacional, que é de 700 milhões m ao ano, segundo a Associação Nacional Fabricantes de Cerâmica para Revestimento (Anfacer). A região Sul, no entanto, é por onde escoa a maior parte das exportações do material, cerca de 40% do total.
A parada de 21 dias deverá representar um rombo de 15 milhões m na produção, calculou o diretor-superintendente da Anfacer, Antônio Carlos Kieling. Segundo ele, há ainda mais duas fábricas do Rio Grande do Sul que também foram fechadas, atingidas pelo corte no fornecimento de gás.
Alternativas
Empresas de maior porte, como a Eliane e a Portobello, vão instalar vaporizadores para operar parcialmente neste período com Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). A Eliane tenta colocar em operação dois fornos dos 17 que possui em Santa Catarina, para garantir 12% da produção. O prejuízo com a falta de gás está estimado em R$ 1,4 milhão/dia na Eliane.
O diretor Industrial da empresa, Otmar Müller, afirma que haverá necessidade de improvisação da instalação e de ajuste de queimadores. "A maior dificuldade está no fornecimento de GLP. As carretas precisam ficar estacionadas enquanto outras buscam o insumo." Segundo Müller, para cada forno são necessários dois caminhões parados fornecendo continuamente e dois em trânsito. Müller diz que tem estoque de pisos e azulejos para atender pedidos das construtoras, varejo e exportações somente para mais uma semana.
A Portobello afirma que possui os vaporizadores e pretende colocar nove fornos em operação, dos 15 que possui, na próxima segunda-feira, e vai precisar de 6 mil toneladas/dia de GLP. O diretor industrial, Nilton Bastos Filho, afirma que mesmo assim, metade do faturamento de um mês da companhia será perdido. O maior problema, no entanto, é a escassez de GLP no mercado.
O gerente de vendas da Liquigás, Erasmo Cleber Andrade, reduziu as expectativas dos empresários de substituição do gás natural por GLP. Disse que as condições de venda emergencial em Santa Catarina estão limitadas, pois as estradas estão bloqueadas, o consumo das empresas é grande e depende de instalações de grande porte. "Só temos 10 carretas deste tipo disponíveis no País, o que é insuficiente. Os sistemas de vaporização são caros e não são mais utilizados no dia-a-dia", afirmou Andrade.
Veículo: Gazeta Mercantil