Cresce a concorrência no mercado de leites infantis

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A líder Nestlé passou a enfrentar forte concorrência em leites especiais infantis, um mercado que cresce a taxas de dois dígitos, alimentado pelo nascimento de 3 milhões de bebês por ano.

Nos últimos anos, quem mais tem abocanhado mercado é a Danone. A marca de leite especial Aptamil, da Numico, tinha fatia insignificante do mercado em 2007 e hoje possui 21%. A Mead Johnson vai intensificar suas investidas para ampliar a distribuição de sua marca, o Enfamil.


Cresce a disputa pelos bebês da classe C


São 3 milhões de bebês nascidos ao ano no Brasil, número que se mantém estável, pelo menos desde 2009. Mas o mercado de alimentação infantil vem dando saltos de crescimento de dois dígitos e em 2011 as vendas já ultrapassaram R$ 1 bilhão. Nas mamadeiras e nos pratinhos dos bebês até três anos há mais papinhas, cereais e fórmulas infantis (ou leites especiais, que se assemelham ao leite materno) e a competição entre os fabricantes aumenta.

O acirramento da concorrência com a líder absoluta Nestlé e o maior poder de compra da classe média explicam o bom desempenho das vendas. Nos últimos anos, quem mais tem abocanhado mercado é a Danone. A marca de leite especial Aptamil, da Numico, tinha uma participação insignificante no país em 2007, até a Danone comprar a fabricante, especialista em alimentação para bebês, diz Gustavo Hildenbrand, diretor da área de nutrição infantil da multinacional francesa. Hoje, Aptamil tem 21% das vendas de leites especiais, que gira em torno de R$ 700 milhões ao ano.

"Há muito espaço para crescer", diz Gustavo Hildenbrand, diretor da área de nutrição infantil da Danone. "Aqui, a média de consumo é de seis quilos de fórmulas infantis por bebê ao ano, contra 15 quilos da Argentina e cerca de 45 da Europa e de ", afirma. "A concorrência ajuda a desenvolver o mercado". Segundo a Euromonitor, o mercado mundial de nutrição infantil é de US$ 42 bilhões.

Em fórmulas infantis a propaganda é proibida porque pode influenciar a mãe a optar pela fórmula infantil para o filho de até 12 meses, no lugar do leite materno, considerado o melhor alimento nessa idade. Por isso a disputa se dá nos consultórios de pediatras, que recebem os representantes das fabricantes para demonstrar as qualidades de cada produto que será indicado às mães. "Hoje nós atingimos 15 mil pediatras visitados periodicamente, contra um mil de 2006, antes da compra da Numico", afirma Hildenbrand.

Quem aumentou o número de visitas aos médicos pediatras foi a Mead Johnson, dona da marca Enfamil. A empresa, que também fabrica Sustagen, começou há um ano e meio a formar sua rede de médicos, antes pouco significativa no país. "Atualmente, visitamos 4 mil médicos regularmente", diz Nestor Sequeiros, gerente geral da Mead Johnson Nutrition no Brasil.

A distribuição de Enfamil, no entanto, está concentrada em São Paulo (interior e capital), Rio de Janeiro e Belo Horizonte. "Vamos ganhar maior consistência nesses mercados para depois partirmos para a expansão", diz Sequeiros. Este ano, a multinacional americana formou uma joint venture com a argentina Sancor na área de nutrição infantil, empresa da qual passou a deter 80%. "Com isso, vamos acelerar a distribuição dos nossos produtos no país", afirma. "Se antes, de navio, o carregamento demorava um mês para vir do México, agora temos que esperar uma semana para recebê-lo da Argentina, de caminhão", diz ele.

A única empresa que fabrica fórmulas infantis no país é a Nestlé que, apesar de ter perdido espaço nos últimos anos, permanece como líder absoluta no segmento: market share de 76% em valor, com as marcas Nan e Nestogeno. "Durante muito tempo tivemos quase 100% do mercado. É natural que, com a entrada de concorrentes, essa participação caia", diz Serena Aboutboul, diretora de nutrição infantil da Nestlé Brasil, garantindo que as vendas da empresa continuam em ascensão.

Para a executiva, o principal fator que vem fazendo o mercado de nutrição crescer dois dígitos ao ano é a mudança cultural provocada pelo aumento do poder aquisitivo da população. "Informadas pela classe médica, mídia e governo, as mães se vêm se conscientizando que, na falta do leite materno, o melhor substituto é a fórmula infantil, não o leite de vaca, que sempre foi a segunda opção", diz.

Mais do que uma questão cultural, o leite de vaca era a escolha mais barata do que a fórmula infantil, cuja lata de 400 gramas pode custar mais de R$ 20. No entanto, com o maior poder de compra da classe C, as crianças passam a ser tratadas com mais leite especial, cereais e papinhas.

"A região Nordeste é a que mais impulsiona o crescimento dessas categorias", diz Serena. Por isso, a Nestlé lançou uma embalagem econômica para a fórmula infantil Nestogeno (um sachê de 130 gramas, como opção à lata de 400 gramas), que custa cerca de R$ 3 em farmácias e supermercados. "Vamos expandir a distribuição dessa versão para o restante do país", afirma. Em Mucilon, cereal infantil, a empresa também lançou versões em embalagem "stand up pouch", tipo sachê, de 400 gramas. No segmento de cereais, a Nestlé é dona de 77% do mercado e enfrenta concorrentes nacionais, como a Gold Nutrition, dona do Vitalon.

"O único produto que não conseguimos transformar em uma embalagem mais econômica é a papinha", diz Serena. "É no tamanho certo para uma refeição de bebê". Os concorrentes avançaram nos últimos cinco anos, mas a Nestlé não ficou parada. Até 2007, em papinhas, a empresa enfrentava a concorrência da Gerber, da Novartis. Mas decidiu comprar a rival e hoje reina sozinha nas prateleiras. Ou quase: a paranaense Jasmine passou a oferecer, este ano, papinhas com apelo orgânico.



Veículo: Valor Econômico


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