Café robusta amplia participação em 'blends'

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Estima-se que o café robusta, estigmatizado pela qualidade inferior ao da espécie arábica, já faça parte de praticamente metade dos blends de cafés industrializados no Brasil, algo entre 10 milhões e 11 milhões de sacas diante de um consumo doméstico anual estimado em 20 milhões de sacas.

De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a participação do robusta nos blends no mercado nacional é de 50% a 55%, ante 20% há doze anos. Por isso, o salto é considerado importante na avaliação de representantes do setor. Já a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) calcula que a participação do robusta já alcança cerca de 40%.

Os números foram apresentados na semana passada durante um evento internacional sobre o café robusta, também conhecido como conilon, no Espírito Santo, o maior produtor nacional da variedade, com cerca de 76% da safra.

No mundo, a participação do robusta é estimada em 40% - há dez anos, a fatia era de 30% -, ante 60% do arábica nos blends de café industrializado. Segundo Enio Bergoli, secretário de Agricultura do Espírito Santo, alguns especialistas acreditam que entre dez e 15 anos, a composição de robusta e arábica será igualmente dividida nas bebidas.

Guilherme Braga, diretor-geral do Cecafé, acredita que, no início, o aumento do uso do robusta nos blends se deu em função de preços mais baratos na comparação com o arábica. Depois, os grãos foram escolhidos pela melhoria de sua qualidade.

Braga explica que o rendimento do robusta é maior que o do arábica, e desmitifica a "fama" de produto ruim. Ele alega que, quando bem administrado, o conilon não altera a bebida final.

"É um bom parceiro no blend", defende. Braga afirma que um robusta de qualidade é melhor do que algumas "sobras" de arábica utilizadas para a industrialização do produto, confirmando que os cafés especiais ainda são um mercado de nicho no Brasil.

Outro argumento para atestar que a qualidade do café robusta evoluiu nos últimos cinco anos está na suspensão da restrição feita pela Abic, há três meses, do uso de robusta para a produção de café gourmet certificado no Programa de Qualidade do Café (PQC).

Em 2004, no início do programa, a norma técnica proibia a utilização do grão para este fim. Agora, não existem nem limites de utilização para os blends. "Deixamos a critério da indústria, desde que o produto final tenha nota acima de 7,3 pontos numa escala de zero a dez para ser classificado como gourmet", explica Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic.

Herszkowicz comenta que há 15 anos, quando a indústria de torrado e moído não usava o grão robusta, havia baixa qualidade até mesmo com bebidas feitas com arábica, com grãos defeituosos que interferiam no sabor do café. Além da composição dos blends, o que estabelece a qualidade da bebida é a uniformidade dos grãos, da colheita, maturação e secagem.

Além disso, ele observa que o consumo interno cresce a taxas de 3,5% a 4% ao ano, um indicativo de que a qualidade do café industrializado no mercado interno não decaiu. Para Herszkowicz, a fase do robusta é de transição para um produto de melhor qualidade, com alta tecnologia. Hoje o Brasil exporta café conilon gourmet comparado aos melhores grãos produzidos no mercado mundial. No ano passado, o país enviou 197 mil sacas de conilon diferenciado ante 2,47 milhões de sacas de conilon médios, de acordo com o Cecafé.

Algumas iniciativas de ponta com o uso de tecnologias, variedade clonais, podas, irrigação e nutrição adequadas são responsáveis pela produtividade de mais de 100 sacas por hectare, no Espírito Santo, enquanto a média está em torno de 30 a 34 sacas. "A tendência é crescer muito", resume o secretário da Agricultura Enio Bergoli.

Ele aponta que Brasil e Vietnã - maior produtor mundial de café robusta, que na safra 2011/12 produziu 17,385 milhões de sacas - são os únicos países capazes de aumentar a oferta do grão. A produção brasileira saltou de 6,26 milhões de sacas, em 2000/01, para 11,306 milhões na safra 2011/12.

Os números para a colheita 2012/13 ainda são alvo de divergências. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta 12,3 milhões de sacas para uma safra total de café de 50,45 milhões de sacas, embora o mercado acredite em um desempenho superior.

O número não fecharia as contas para a demanda interna estimada entre 10 e 11 milhões de sacas para os blends de torrado e moído; 3 milhões de sacas para a indústria de café solúvel e mais a exportação de pouco mais de 2 milhões de sacas. A soma superaria 16 milhões de sacas.

Para Bergoli, o momento de maior demanda pelo robusta é um marco que credencia o Brasil como importante polo irradiador da variedade. Segundo ele, é preciso romper o preconceito da baixa qualidade, e pensar que o grão complementa o arábica. "O mercado está aberto para o conilon, não tenho dúvida de que vamos avançar pela qualidade", diz.



Veículo: Valor Econômico


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