Os acionistas do Carrefour descarregaram sua fúria contra o baixo desempenho da varejista francesa ao barrar, ontem, a distribuição de novas opções de ações a diretores, em assembleia-geral realizada em Paris.
O protesto ofuscou uma tentativa do novo principal executivo do Carrefour de ganhar a confiança dos acionistas, ao delinear uma estratégia que tende a resultar na venda, pela empresa, de algumas de suas divisões internacionais.
Georges Plassat, o novo presidente do conselho e principal executivo do Carrefour, disse que seriam necessários pelo menos três anos para melhorar os resultados da empresa. "Não posso me comprometer com promessas de curto prazo", afirmou Plassat, que ingressou no Carrefour em abril.
Plassat disse não sentir qualquer "ameaça" ou coerção por parte do maior acionista - o Blue Capital -, detentor de 16% das ações da empresa. O Blue Capital é uma joint-venture entre o Groupe Arnault, o braço de investimentos do magnata do setor de luxo Bernard Arnault, e a firma americana de participações Colony Capital.
Plassat, um veterano do setor de varejo, é o terceiro principal executivo a assumir o comando do Carrefour desde que a Blue Capital fez seu investimento inicial - no momento grandemente deficitário, pelo menos teoricamente --, cinco anos atrás.
Cinco semanas atrás ele substituiu Lars Olofsson, que viu uma queda de 43% no valor das ações nos três anos à frente da empresa. O momento escolhido para implementar sua decisão de deixar o Carrefour, um mês antes do planejado, privou os acionistas da oportunidade de voltar sua raiva contra ele na assembleia geral.
No entanto, a resolução que endossou sua tão criticada verba de rescisão de € 1,5 milhão e a pensão anual, estimada em cerca de € 500 mil, foi aprovada por uma margem apertada, de 51,3% dos votos, com 48,1% dos votos contrários. A verba de rescisão cobre também a chamada quarentena, período em que um executivo está impedido de trabalhar para a concorrência.
Duas resoluções referentes à distribuição gratuita de ações e de opções para diretores e funcionários foram barradas após terem por pouco deixado de obter uma maioria de dois terços dos votos.
Essas revoltas dos acionistas - principalmente no setor privado - não são costumeiras na França, mas a fúria da opinião pública para com os pacotes salariais dos executivos, numa época de crescente desemprego, subiu de grau.
Os acionistas da Air France-KLM e da Safran protestaram recentemente contra grandes verbas de rescisão destinadas a executivos de grupos parcialmente controlados pelo governo.
Plassat afirmou que o Carrefour é grande e complicado demais. Ele se disse "convencido" de que as dificuldades do grupo derivam de seu ingresso num número excessivo de mercados com respaldo financeiro insuficiente. Após vender as operações do Carrefour na Grécia, na semana passada, para sua parceira nacional na joint-venture, que se tornará uma franqueada da rede francesa, Plassat sinalizou a adoção de medida semelhante em outros países. "Não estamos necessariamente mais bem-colocados do que nossos parceiros turcos na Turquia", disse, e acrescentou: "Não precisamos necessariamente ter 100% de controle na Indonésia".
Veículo: Valor Econômico