Datas comerciais expõem cautela do consumidor

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Um desempenho morno em vendas no Dia das Mães e Dia dos Namorados, duas principais datas do comércio no segundo trimestre, deixou a sensação de que o varejo ainda patina nos patamares mais baixos da curva de desaceleração que começou a se desenhar em meados do ano passado.

As vendas não deixaram de crescer, mas avançaram em ritmo menor do no ano anterior, segundo dados do Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio. Na semana do Dia das Mães, entre 7 e 13 de maio, cresceram 7,3% em todo o Brasil na comparação com a semana equivalente de 2011 (2 a 8 de maio). Na semana relativa à data no ano passado, houve avanço de 12,4% em relação à semana do Dia das Mães de 2010 - e foi a melhor performance do setor nessa data comemorativa em nove anos.

Um mês depois, no Dia dos Namorados, a história foi semelhante. As vendas subiram 5,2% na semana da data, entre 6 e 12 de junho, na comparação com igual período do ano anterior. Em 2011, o aumento tinha sido de 8,6% na semana.

A performance mais fraca em ambas as datas comerciais se dá na comparação com um período em que o mercado doméstico estava sob efeito da medidas macroprudenciais, baseadas nos juros elevados para controle da inflação. Isso evidencia, portanto, que a relação entre queda nas taxas de juros e disposição das pessoas para consumir não é tão direta, tampouco imediata.

Na prática, o consumidor está muito mais preocupado se a parcela de uma nova aquisição vai caber no orçamento do que se os juros estão mais baixos. E o problema reside justamente neste ponto: a renda familiar já está reservada para honrar antigos compromissos. Endividado em níveis recordes, o consumidor adota uma postura de maior cautela na hora de ir às compras.

Não há motivo, no entanto, para crer em "bolha de alavancagem", aponta um recente estudo do HSBC. Para o banco, o peso da dívida como percentual da renda do consumidor se estabilizou numa zona de conforto próxima a 30%, depois de ter atingindo seu ponto mais alto nessa faixa contida no fim do ano passado. "À medida em que a economia se recuperar, no segundo semestre, as condições favoráveis para o aumento do consumo e uma reversão no ciclo de inadimplência estão criadas", comenta o HSBC.

Desse ponto de vista, a alta cíclica da inadimplência, que leva os bancos a serem mais cautelosos com a oferta de crédito, representaria um obstáculo temporário. O exato tempo de reação do consumidor, porém, é algo ainda difícil de precisar. De modo geral, os analistas preveem alguma melhora no resultado das varejistas a partir do segunda metade do ano, sobretudo nos últimos três meses, com o Dia das Crianças e o Natal. Até lá, o consumidor teria tempo para colocar sua situação financeira nos eixos.

No varejo de vestuário, em particular, um dos vetores de crescimento da receita deve ser o amadurecimento da área de vendas, que cresceu em ritmo acima da média no ano passado a partir de reformas e abertura de lojas. O ganho de escala, que foi inibido pelo crescimento setorial mais lento do que o esperado a partir do Dia dos Pais, poderá resultar em números mais robustos na última linha dos balanços.



Veículo: Valor Econômico





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