Classe B continua a liderar as vendas

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Beneficiada nos últimos anos pelas políticas sociais do governo e pela maior oferta de emprego formal, a classe C já está presente em 52,4% dos lares brasileiros e responde por 38,7% do consumo nacional, segundo recente pesquisa do Ibope Inteligência.

Trata-se de um exército de consumidores - cerca de 100 milhões, entre novos e antigos - grande demais para ser desprezado por qualquer setor empresarial, mesmo aqueles tradicionalmente voltado às faixas de renda mais altas, como os shopping centers.

Curiosamente, porém, o poder aquisitivo da nova classe C ainda não aumentou significativamente a sua participação nas vendas desses grandes centros de varejo. Segundo a última radiografia da Abrasce, a Associação Brasileira de Shopping Centers, apenas 21% das vendas efetuadas em 2011 foram para a classe C, correspondendo a um percentual ainda mais modesto no volume faturado, em torno de 9%.

A explicação mais razoável para esse fenômeno parece estar na própria mobilidade social que incorporou cerca de 40 milhões de brasileiros à classe C entre 2003 e 2009, segundo dados oficiais do Ministério do Planejamento - já que, ao mesmo tempo em que isso acontecia, mais de 9 milhões de brasileiros migravam da classe C para a B, entrando no foco principal dos shoppings. "Esse novo contingente da classe B foi mais decisivo na expansão atual dos shoppings do que os emergentes da classe C", nota Antonio Carlos Ruótolo, diretor de Geonegócios do Ibope.

Outra razão para a ausência de um peso maior da classe C no desempenho dos shoppings está nos diferentes critérios de classificação das faixas de renda da população. Enquanto o governo adota a estratificação social por renda do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o setor varejista usa os da Abep (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa). O IBGE situa a classe B na faixa de renda familiar entre R$ 6.220 e R$ 12. 440, e a classe C na de R$ 2.488 a R$ 6.220. A Abep desdobra cada uma dessas classes em dois segmentos e define a C2 na faixa entre R$ 1.132 e R$ 1.716, a C1 entre R$ 1.717 e R$ 3.224, a B2 de R$ 3.225 a R$ 5.592 e a B1 acima disso.

"As classes A e B sempre formaram a principal clientela dos shoppings brasileiros e isso não deve mudar. Não existe um único shopping no país em que a classe C seja a maior compradora, por mais popular que seja o mix de lojas do empreendimento", afirma Ruótolo. Como exemplos de shoppings que investem no gosto popular, ele cita o Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo, e o Guararapes, em Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana do Recife.

O especialista em marketing de varejo Luiz Alberto Marinho, da consultoria BrandWorks, acrescenta à lista os shoppings Taboão e Mais Largo 13, ambos na Zona Sul paulistana. "O primeiro acertou mais que o segundo na receita e vem colhendo melhores resultados", observa Marinho. Instalado nos arredores de uma estação de metrô, de um terminal de ônibus e de uma agência do Poupatempo, o pecado do Mais Shopping, segundo ele, "foi mirar muito abaixo" dos desejos da classe C. "O consumidor emergente espera encontrar no shopping produtos e serviços mais sofisticados do que os oferecidos nas lojas de rua, além de um ambiente mais agradável e seguro".

O superintendente do Boulevard Shopping de São Gonçalo (RJ), Luiz Vaz, concorda com Marinho. "Talvez nosso maior acerto tenha sido o de não subestimar esse consumidor com nível de renda mais baixo. Nosso projeto é tão moderno e confortável como o de qualquer shopping carioca", acredita Vaz. Inaugurado há um ano e meio, o Boulevard é apenas o segundo shopping de São Gonçalo, embora este seja o segundo município mais populoso do Estado do Rio, com pouco mais de 1 milhão de habitantes. O primeiro shopping local, aberto em 2004 à beira da rodovia Niterói-Manilha, corrigiu em parte essa distorção, mas muitos moradores ainda precisavam ir até Niterói, que está a apenas 10 quilômetros, para ter mais liberdade de escolha nas compras.

Assim como o pioneiro Shopping São Gonçalo, o Boulevard se propõe a atender a todas as classes sociais do município, ancorado em lojas populares como C&A, Casa & Vídeo, Leader, Renner e Riachuelo - e tem colhido bons resultados. "Nosso desempenho tem sido acima do esperado. O faturamento cresceu, em média, 20% desde janeiro, chegando a 31% em maio, em relação ao mesmo mês de 2011. E as lojas âncoras, em especial a Riachuelo, estão entre as que mais crescem dentro de suas redes", revela o superintendente do Boulevard Shopping. Ele destaca o papel representado pelo shopping na elevação da autoestima da população local, que em boa parte precisa se deslocar diariamente para trabalhar em outros municípios da região metropolitana do Rio.



Veículo: Valor Econômico



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