A história da UFE começa em 1922, quando o imigrante João Lobarinhas fundou na então capital do país, Rio de Janeiro, a União Fabril Exportadora - UFE, fabricante do sabão em pedra marmorizado Portuguêz. Lobarinhas teve três filhas, mas foram os seus respectivos genros que fizeram a empresa crescer a ponto de torná-la referência nacional de produto, com marcas como UFE e Rio. Mas depois da morte dos homens de negócio da família, há cerca de 15 anos, o comando da UFE foi entregue a executivos do mercado financeiro, que adotaram estratégias equivocadas. Hoje, o faturamento anual de R$ 100 milhões da companhia equivale a um quinto da sua receita no passado. Desde 2005, porém, o mais novo dos netos de Lobarinhas - João Lobarinhas Carneiro, de 67 anos - voltou ao comando para preparar a venda da UFE, que acaba de ser anunciada pela paulista Rosatex.
Com sede em Guarulhos (SP), a Rosatex tem faturamento semelhante ao da UFE e teve de recorrer a um banco de médio porte privado para financiar "quase integralmente" a aquisição, cujo valor não foi revelado. O pagamento deve ser concluído em cinco anos. O processo de análise dos dados da companhia (due diligence) começou em maio e terminou em agosto, mas a crise econômica dificultou a conquista de crédito. "Agora dobramos de tamanho e passamos a ter 3% do mercado total de limpeza doméstica", diz José Domingues dos Santos, presidente da Rosatex, dona das marcas Urca e Amazon.
O maior trunfo para a fabricante paulista será o reforço da sua presença no mercado de sabão em pedra (em que compete com produto feito por terceiros e sua participação é "inexpressiva", diz Domingues) e a estréia em sabonetes. "A UFE tem uma planta que estava desativada há dois anos e até março vamos investir cerca de R$ 3 milhões no lançamento de uma nova marca de sabonetes, a Double Hydrate", afirma o empresário.
Para Fábio Matsui, sócio da consultoria Cypress, que assessorou a Rosatex, a UFE dá novo fôlego para a expansão nos mercados do Rio e do Nordeste, pontos fortes da fabricante carioca, que trabalha com várias marcas regionais. "A aquisição envolve também a maranhense Oleama, que produz óleo de babaçu, matéria-prima para a indústria de sabão em pó", diz Matsui. Entre os clientes da Oleama, estão algumas das maiores empresas do setor de limpeza: Unilever, Procter & Gamble e Química Amparo.
Com a aquisição, as três plantas da Rosatex (Guarulhos, Recife e Cuiabá) vão produzir as marcas nacionais UFE, Rio e Cristal. A Rosatex passa a concentrar 90% do mercado de sabão de coco em pedra, diz Domingues. "Esse segmento vem crescendo, porque o produto é neutro e evita alergias", diz.
Segundo a Nielsen, em 2007, o mercado de sabão em barra caiu 7,1% em volume e 2,5% em valor, para R$ 745,6 milhões. Já o de sabão em pó e líquido permaneceu praticamente estável, com alta de 1,5% em volume e recuo de 1,1% na receita, para R$ 3,13 bilhões. A venda de sabonetes, por sua vez, caiu 2,4% em volume e subiu 1,6% em valor para R$ 1,95 bilhão.
Embora as máquinas de lavar tenham desembarcado no país em 1959, pouco mais de um terço (35%) dos lares brasileiros tem lavadoras automáticas, o que significa que ainda há muito mercado para o sabão em pedra. Mas isso não foi apelo suficiente para os 44 acionistas da UFE, descendentes de Lobarinhas. "São mais de 100 bisnetos, mas ninguém se interessou pelo negócio", diz Domingues.
Veículo: Valor Econômico