Há três anos, o maracujá foi motivo de dor de cabeça para Isael Pinto. À frente da General Brands (GB), uma das principais indústrias processadoras de suco de São Paulo, o empresário sofreu com uma praga que devastou as lavouras, restringiu a oferta e triplicou os preços da fruta. No ano seguinte, Isael viu o problema se repetir, desta vez com as quebras de safra de laranja e uva.
Às voltas com a escassez de matéria-rima, o executivo anunciou, no mês passado, um acordo para garantir grande parte das frutas necessárias para a produção dos sucos da GB. Em parceria com o governo do Estado do Rio Grande do Norte e 10 mil assentados do município de Mossoró (ver mapa), a empresa vai orientar o plantio e comprar as frutas produzidas pelos agricultores dos assentamentos El Dourado de Carajás I e II, em uma área total de 12 mil hectares.
Ao todo, os agricultores potiguares devem produzir 238 mil toneladas de frutas por ano, entre abacaxi, acerola, goiaba, manga e maracujá. O projeto inclui, ainda, a produção de 40 mil litros de água de coco por ano. "Os assentados vão plantar o que nós pedirmos", conta Isael Pinto, presidente da General Brands.
Além de garantir uma parcela importante da matéria-prima, a região de Mossoró também concentrará o processamento das frutas, transformando-as em polpa. A industrialização acontecerá graças à fusão da General Brands com a fábrica da Nutrimarcas, localizada em um fazenda nos arredores do assentamento. "Em dois anos, 50% da nossa demanda virá dos agricultores daqui", conta José Domingues, fundador da Nutrimarcas e agora sócio da GB.
A empresa se valerá de uma importante vantagem da região: os 12 mil hectares do assentamento são irrigados. Por concentrar a maior área de petróleo terrestre do país, Mossoró conta com centenas de poços artesianos, perfurados pela Petrobras em busca do combustível fóssil.
Outro ponto fundamental do projeto é sua natureza ambiental. Toda a produção de frutas será orgânica. Antes de se tornarem assentamentos, El Dourado de Carajás I e II integravam uma única propriedade, que faliu há mais de dez anos, lembra Talita Domingues, coordenadora do projeto da GB. "As terras da região estão paradas há oito anos, sem nenhum resíduo de agrotóxico", explica Talita.
Nos planos da General Brands, a produção de coco ganhará destaque. Com um faturamento de R$ 200 milhões no ano passado, a empresa sediada em Guarulhos (SP) acaba de ingressar no mercado de água de coco. Da área total do assentamento, 5 mil hectares serão ocupados com coqueiros. A estimativa é que essas árvores produzam 97,5 milhões de cocos por ano, ou 40 mil litros da bebida. A primeira colheita deve acontecer dois anos após o plantio, segundo a coordenadora do projeto.
Outros dois mil hectares serão utilizados para a produção de abacaxi, com uma estimativa de colheita anual de 78 mil toneladas, um ano após o plantio. A área plantada com goiabeira também será de dois mil hectares. Com prazo de maturação de dois anos, a região produzirá 60 mil toneladas de goiaba por ano.
Emblemático, o maracujá ficará com 1 mil hectare, que serão capazes de produzir 30 mil toneladas por ano. "Em 2009, o preço do maracujá triplicou e bateu R$ 6 mil a tonelada. Agora, praticamente resolvemos o problema", diz Isael. Além da fruta, a região também terá 1 mil hectare plantado com acerola e manga.
Com os detalhes já definidos, o plantio deve levar oito meses para começar, segundo Talita. "Estamos fazendo o levantamento dos assentados. Agora, eles vão entrar com pedido junto ao governo, que vai disponibilizar os recursos para o plantio", conta.
Com três fábricas no país, a General Brands produz cerca de 44 milhões de litros de néctares por mês. Curiosamente, os sabores mais vendidos - laranja, uva, pêssego e morango - não poderão ser plantados em Mossoró, pelas condições da região. A laranja continuará sendo comprada de São Paulo, maior produtor mundial da fruta. De clima temperado, a uva é adquirida do Rio Grande do Sul, maior Estado produtor do país. Já o pêssego é importado da Argentina.
Veículo: Valor Econômico