Os resultados do comércio varejista em junho mostram um resultado muito bom. O setor cresceu 9,5% em volume de vendas, em comparação a junho de 2011. Em termos de receita nominal, o percentual é de 12,8%.
Nos últimos 12 meses, o resultado é também bastante positivo. Em volume, o crescimento foi de 7,5%. Em receita nominal, o aumento foi de 11,5%, o que representaria uma expansão real da ordem de 6,2% nos últimos 12 meses (junho 2011 a junho de 2012).
O resultado ganha ainda mais expressão quando se considera que a base de 2011 situa-se em um nível elevado.
As maiores expansões da receita nominal se deram nos segmentos supermercados, farmacêuticos, móveis e eletrodomésticos e material de construção.
Tais evidências demonstram que as políticas de estímulo ao consumo, pelo menos até junho, cumpriram sua missão, ou seja, sustentar um crescimento do PIB.
O problema não é compreender os motivos para esse resultado. Inflação sob controle, redução da taxa de juros na ponta, ganhos reais para importantes categorias profissionais e alongamento dos prazos médios de pagamento ( de 575 dias para 610 dias) são elementos suficientes para entender o ocorrido.
Mais importante é tentar antever até onde se consegue esticar essa corda. Os próprios dados do BC mostram que a renda comprometida com o pagamento de dívidas continua crescendo.
Em junho do ano passado, 41,07% do orçamento das famílias estava comprometido com pagamento de dívidas.
Neste ano, esse percentual subiu um pouco menos de 2,5%, situando-se no patamar ainda menos confortável de 43,43% em junho.
Por essa razão, a inadimplência, medida pelo BC como os saldos em atraso acima de 90 dias, mantém-se na casa dos 7,8% -em junho de 2011 era de 6,4%.
Acrescente-se que os investimentos, responsáveis pela ampliação da capacidade produtiva, que já estavam bem aquém das necessidades, perderam um pouco mais de fôlego.
Não é difícil presumir que o consumo, com o peso do comprometimento da renda, em algum momento ainda neste ano desacelerará.
Ou então continuará nessa trajetória e se defrontará com uma força contrária ocasionada pela falta de investimentos. Nesse caso, essas pressões se dissiparão por meio de aumento de preços, isto é, inflação.
Veículo: Folha de S.Paulo