O Mercado Livre, que cresceu nos últimos anos como uma plataforma na internet para pessoas físicas ou microempresários venderem produtos, está pondo na rua seu projeto, desenvolvido há cerca de um ano, para atrair varejistas de maior porte. "Não estamos inventando a roda, mas agora estamos preparados para dar mais um salto", diz o diretor-geral do Mercado Livre no Brasil, Helisson Lemos.
A companhia, que tem ações negociadas na Nasdaq e registrou no primeiro semestre deste ano vendas brutas de US$ 2,6 bilhões (ver tabela ao lado), fechou acordo com a Bebê Store, varejista que tem 35 mil itens no portfólio - de roupas a móveis, passando por mamadeiras e banheirinhas.
Até agora, o que impedia empresas de colocarem milhares de produtos para serem vendidos de uma só vez no site do Mercado Livre é que essa tarefa tinha que ser feita manualmente - um produto de cada vez, explica Lemos. Os técnicos da empresa, então, abriram suas APIs (interfaces para programação de aplicativos) para a Bebê Store. A abertura dessas "chaves" do site permitiu a Leonardo Simão, principal acionista da Bebê Store, transferir de forma automática, em poucos dias, 2,5 mil produtos para o site do Mercado Livre. Simão estima que em algumas semanas consiga colocar todos os 35 mil itens à venda na plataforma do parceiro.
Cada vez que um consumidor comprar uma mamadeira da Bebê Store no site do Mercado Livre, Simão receberá a informação em tempo real. "Isso é importante para administrar o estoque e não deixar que dois consumidores, em nosso site e no site do Mercado Livre, comprem o mesmo produto ao mesmo tempo", diz Simão.
O diretor comercial do Mercado Livre, Leandro Soares, já mapeou cerca de 100 companhias brasileiras (as cinco maiores de 20 categorias - de informática a produtos de beleza) e sua meta é trazê-las para dentro do site. "A vantagem é que temos a demanda. É um canal adicional para o varejista on-line", diz Soares.
O projeto começa no Brasil pois este mercado equivale a metade do faturamento da empresa, que foi fundada na Argentina, tem sua sede nos Estados Unidos e opera em 13 países, a maioria deles na América Latina. No primeiro semestre, a receita líquida do Mercado Livre no Brasil foi de US$ 86,4 milhões, com aumento de 16% em relação a igual período de 2011. A receita líquida total foi de US$ 172,6 milhões, com lucro líquido de US$ 45,1 milhões.
Fazer do Mercado Livre um shopping center na internet, não apenas com pessoas físicas, mas também com varejistas de maior porte, é considerada uma importante mudança de posicionamento da companhia. Cerca de 300 técnicos vêm trabalhando desde o início do ano passado nesse projeto, no Brasil, onde o Mercado Livre emprega 550 pessoas. No mundo, são 1.600 funcionários.
Para Simão, da Bebê Store, ter mais um canal de vendas ajuda na meta de faturar R$ 500 milhões até 2015. O faturamento atual, ele prefere não divulgar. A empresa, que tem Juliana Della Nina Simão, a mulher de Simão, no comando da área comercial, já recebeu dois aportes do fundo Atomico, com sede em Londres.
Veículo: Valor Econômico