Impactada pelo clima e os preços da soja e do milho no mercado internacional, a cultura do feijão sofre expressiva redução de área - de modo que se poderá aumentar a importação do grão.
Na safra passada, o total de lavouras encolheu 20%, em relação ao período anterior, a 3,2 milhões de hectares, de acordo com a consultoria Safras & Mercado. Estimou-se ainda, para a primeira safra da temporada, nova diminuição de 8,8% da área plantada.
O principal motivo para a perda de território, segundo especialistas e produtores, é a atratividade das cotações, no mercado global, das commodities agrícolas.
"O agricultor consegue plantar soja e milho na mesma área do feijão. E o preço e a rentabilidade dessas culturas quase dobraram nos últimos seis meses", explica o analista Glauco Montes, da consultoria FCStone.
Depois de meses de baixa no atacado paulista, a saca (60 quilos) de feijão passou a valer, na atual entressafra, R$ 185 (carioca) e R$ 127,50 (preto). Havia entrado no patamar de R$ 80 em julho, por conta de perda de qualidade, segundo a Safras & Mercado.
Do mesmo modo que a seca e o excesso de chuvas prejudicaram a última safra brasileira de feijão, nos Estados Unidos, a estiagem devastou parte da maior produção de soja e milho do mundo, iniciando um período de preços recordes nas negociações feitas em Chicago e Nova York.
Ontem, nos contratos para entrega em março do ano que vem, o bushel (25,4 quilos) de milho valia US$ 7,94, e o de soja, US$ 16,35.
"Este é um ano em que estamos vendo de tudo: os Estados Unidos importando milho e, possivelmente, soja do Brasil. Não seria surpreendente se o Brasil importasse feijão", observa Montes.
Atualmente, o país importa um milhão de toneladas por mês, em média, de feijão-preto da Argentina e da China. Mesmo taxado, o produto chinês custa 20% mais barato do que o nacional.
Sinais do campo
O campo dá sinais de que a redução de área do feijão deve continuar na safra atual.
A venda de sementes de feijão da Cooperativa Agrícola Mista de São Cristóvão (Camisc), em Mariópolis (PR), caiu quase 30% neste ano, nas encomendas destinadas ao plantio da primeira safra do grão, em outubro.
"O pessoal está mudando para a soja, na região", afirma o técnico-agrônomo da empresa, Anderson Gehlen. O volume de sementes comercializado pela Camisc, em anos típicos, gira em torno de mil sacos (vinte quilos).
O Paraná, hoje, abrange a maior área plantada de feijão do Brasil - 478,6 mil hectares estimados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ante 522,8 mil hectares na safra de 2011 e 2012.
Em Santa Catarina - cuja área de feijão vem decrescendo desde os anos 1980 e não passa de 90 hectares na safra atual -, o gerente-comercial de grãos da Cooperativa Agropecuária de Campos Novos (Coopercampos), Anderson Gehlen, vê forte substituição de outras culturas pela soja.
Os mil cooperados da empresa vão plantar, até o fim do ano, 46 mil hectares da oleaginosa (30% a mais), doze mil hectares de feijão (15% a menos) e 16 mil hectares de milho (20% a menos do que na safra passada).
"O feijão não tem preço. Oscila demais", observa Gehlen. "É uma cultura de alto risco", classifica.
Em todo o Brasil, repete-se o caso de o produtor substituí-la pela soja ou pelo milho, que já têm preços garantidos até 2015, no mercado futuro. A primeira safra do feijão (são três por temporada) começa a ser plantada entre setembro e novembro no País.
Veículo: DCI