O varejo têxtil no Brasil seguirá em franca expansão na próxima década se o cenário econômico em que o País se encontra se mantiver. As redes que vendem a este segmento apostam em propulsores que podem triplicar seus negócios até 2022 e com a chegada da nova geração economicamente ativa: inflação abaixo de 2%, aumento da renda per capita e taxas de desemprego em queda.
Apesar do cenário, a concorrência tem ficado cada vez maior e feito as empresas buscarem segmentação de nichos, entre outras estratégias. Além dos players que têm suas operações pontuadas na comercialização de roupas e demais artigos de moda, nos últimos cinco anos tem havido forte movimentação de supermercadistas e lojas de departamentos no segmento, que antes focavam as operações apenas em bens não-duráveis, como alimentos, e bens duráveis, como geladeiras e linha branca.
Empresas como Magazine Luiza, Pernambucanas e outros grandes nomes do varejo de eletroeletrônicos têm reformulado as suas operações para incluir em seu portfólio roupas, sapatos e acessórios. Tudo para atender a demanda do novo poder de compra das classes D e C.
Quem recentemente anunciou que incluiria sapatos em suas lojas foi a Marisa, que também aproveitou a rentabilidade das roupas íntimas para criar operações exclusivas - Marisa Lingerie - para este mercado.
Os hipermercados não ficaram de fora deste nicho, tanto que, segundo pesquisa do Iemi Inteligência de mercado, em conjunto com a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), essas operações representaram no ano passado 8% do setor responsável por movimentar na economia brasileira em torno de R$ 150 bilhões. Anteriormente este índice estava na casa dos 7%, e de 2007 a 2011 teve incremento de 35,5% em volume de vendas.
Um bom exemplo disso é a bandeira Extra, do Grupo Pão de Açúcar (GPA). Marcelo Bazzali, diretor de Marketing do GPA, havia afirmado anteriormente ao DCI que a operação Extra ampliaria a atuação para deixar de ser "generalista, tornando-se especialista". A parte de têxtil da bandeira recebeu um layout diferenciado, mais produtos, tudo para atrair um número maior de clientes às lojas.
Para Marcelo Villin Prado, diretor do Ieme, o varejo têxtil tem passado por diversas modificações nos últimos tempos. Uma delas é ter operações casadas. "Antes, ao entrar nas lojas o consumidor tinha acesso às roupas, mas era obrigado a ir a outro local encontrar sapatos que combinassem com o traje ou look escolhido. Agora, as redes vendem de tudo: acessórios, sapatos, perfumes e diversos outros produtos", explicou Prado.
Além de vender muito mais que roupas, as marcas que atuam no País tem ampliado suas operações ao criar marcas para o público infantil. Entre os exemplos está a Le Lis Blanc, grife de roupas femininas que tem um braço operacional voltado às filhas de suas consumidoras, e a Brooksfield, de roupas masculinas, que possui a Brooksfield Junior, voltada para meninos.
Consumo
Houve uma mudança no jeito que o brasileiro se veste nos últimos anos. Conforme pesquisa do Ieme, anos atrás era comum ver um número expressivo de pessoas vestidas de um jeito mais formal. De 2007 a 2011, porém, as roupas casuais tomaram conta do mercado têxtil, passando a representar 44,7% do setor. Já as roupas íntimas e de dormir têm sido 13,2% do setor, seguidas por roupas esportivas, com 12,2%; meias, 11,3%; itens de inverno, 5,0%; roupas sociais, 4,9%; acessórios, 4,4%, e moda praia, 4,3%.
Há cinco anos o varejo têxtil tinha comercializado, só no mercado interno, em torno de 5,4 bilhões de peças. No ano passado o número chegou a 6,6 bilhões e pode crescer em torno de 3,4% só neste segundo semestre.
O consumo per capita de roupas no Brasil é de 34 itens ao ano, com preço médio de R$ 23 por peça, o que representa incremento de 31% sobre 2007. Segundo Prado, diretor do Iemi, se o cenário econômico continuar estável e a crise mundial não assolar de forma mais rígida o Brasil, esse índice pode ter incremento na casa dos 5% ao ano. Ainda segundo o especialista, dos quase 14 mil pontos de venda, a grande maioria está concentrada na Região Sudeste - que compõe 49% do consumo do País. As mulheres adultas, 53% da população economicamente ativa, são as maiores consumidores e as Regiões Norte e Nordeste são as localidades em que existe maior potencial para exploração do varejo têxtil.
Itens nacionais são a maioria no comércio interno
Os produtos que são oferecidos ao varejo têxtil, atualmente, têm 90,3% de produção nacional. A porcentagem restante é composta de roupas importadas - artigos prontos oriundos de outros países.
Segundo pesquisa realizada pelo Iemi Inteligência de Mercado, em conjunto com a Associação Brasileira do Varejo Têxtil, estima-se que este valor suba para 12,8% este ano. Também para 2012, o setor calcula que ocorrerá um crescimento de 32% das importações de vestuário, em termos de peças, frente ao ano passado. "Mesmo com esse crescimento, o varejo têxtil no País é dominado pelos produtos nacionais", explicou Marcelo Villin Prado, diretor do Iemi.
Outro fato importante apontado pelo estudo da consultoria é que o setor é dominado também por operações enfocadas no público feminino.
Enquanto as roupas femininas para o público adulto representam 46%, os artigos para o público masculino adulto correspondem a 37%. As linhas femininas infantis são 7% e as masculinas infantis, 6%. Itens para os bebês: 4%. O último índice já chegou a corresponder por 10% do setor, mas segundo Prado, o envelhecimento da população e o número menor de nascimentos renderam nessa retração. "A população está ficando mais velha no Brasil", disse.
Veículo: DCI