Abastecidas, as indústrias já compram menos cacau

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Apesar de a indústria brasileira de processamento de cacau considerar vital o aumento da produção da amêndoa no país para atender à demanda doméstica, atualmente complementada por importações anuais da ordem de 50 mil toneladas, hoje as empresas estão abastecidas e, segundo produtores, passaram a diminuir o ritmo das compras no país nas últimas semanas.

A indústria costuma fazer suas aquisições por meio de intermediários, a não ser no caso de o produtor ter grandes volumes à disposição. E, conforme Henrique de Almeida, integrante da Associação dos Produtores de Cacau (APC), as indústrias não estão recebendo produto de novos contratos firmados com esses intermediários.

O presidente da entidade, Guilherme Galvão, diz que as indústrias reduziram muito o ritmo de compras dos chamados "repassadores", o que já provoca uma crise de liquidez na região cacaueira.

Mas a situação não é classificada como anormal por Thomas Hartmann, sócio-diretor da TH Consultoria e Estudos de Mercado. Ele diz que as importações da matéria-prima aumentaram significativamente este ano em razão da expectativa das indústrias de que a safra temporã na Bahia seria muito menor do que aquela se esboça atualmente.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Associação das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) mostram que as compras da amêndoa no exterior no primeiro semestre deste ano quase quadruplicaram em relação ao mesmo intervalo de 2011 e alcançaram 41,9 mil toneladas.

A expectativa inicial era de que a safra temporã (de maio a setembro) baiana neste ano alcançasse 1,2 milhão de sacas, 300 mil sacas menor do que o volume que se desenha, conforme a TH Consultoria. No Pará, segundo maior produtor nacional da amêndoa, a produção também deverá ser maior. Nos dois Estados, o aumento decorre da menor incidência de doenças provocadas por fungos, como a vassoura-de-bruxa, de acordo com Hartmann.

O analista de mercado acrescenta que as importações também são maiores este ano pela necessidade de recomposição de estoques, que recuaram no ano passado uma vez que os diferenciais de preços do cacau proveniente da África e da Indonésia estavam muito altos em relação ao nível praticado em bolsa.

As importações maiores e o grande volume de cacau do Pará e da Bahia entrando no mercado encheu os armazéns das indústrias, o que acaba restringindo, agora, o recebimento do produto. "A capacidade da indústria está no limite", diz Hartmann. Há estimativas de que os estoques de quatro multinacionais que atuam na Bahia sejam em torno de 44 mil toneladas, segundo a APC.

O secretário-executivo da AIPC, Walter Tegani, confirma que a situação de não recebimento de cacau nacional foi uma "coincidência" de oferta e importações maiores. "Não foi uma ação premeditada da indústria", argumenta. E garante que a prioridade continua sendo o mercado doméstico.

Tegani relata que as indústrias estão utilizando as importações realizadas e outras até adquirindo do mercado interno. As empresas afirmaram à AIPC que as "contratações" da amêndoa são em volumes regulares. Mas alerta que a própria Câmara Setorial do Cacau reconhece que falta aprimorar o levantamento de informações da safra para evitar o atual "descompasso".

Thomas Hartmann informou, ainda, que as indústrias regulam a compra perante o consumo, em torno de 80 a 85 mil sacos por semana. Existe maior volume de cacau represado em depósitos das regiões produtoras. E acredita que a situação não deve se normalizar antes do fim de setembro.

As importações da amêndoa da Costa do Marfim, o maior produtor mundial, estão suspensas, segundo a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura. A suspensão foi anunciada há algumas semanas, após uma segunda carga importada do país africano aportar na Bahia com insetos vivos. Mas a medida, temporária, começou a vigorar oficialmente no último dia 23, conforme o ministério.



Veículo: Valor Econômico


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