Sem parar

Leia em 4min 10s


Governo federal deve taxar importador que não fabrica no país, não recolhe e não recicla pneu, diz Pirelli. "Bene, avanti così", a frase em italiano vem logo para definir as recentes decisões do governo que beneficiaram o setor de pneus.

 

Em sua primeira entrevista como presidente da Pirelli no país, Paolo Dal Pino, diz que "todos esses esforços, vão na direção certa. O governo foi bem, mas deve seguir adiante assim, não parar".

 

Além do aumento de alíquota para pneus importados, anunciado no início deste mês, o setor também emplacou na quarta-feira na lista dos 25 segmentos contemplados com a desoneração na folha de pagamento.

 

Ainda não é possível mensurar o alcance dos benefícios, afirma Dal Pino."Estamos contentes, ajudam, mas a medida contra os importados representa um valor inferior a 10% do faturamento", acrescenta o executivo que pede mais."Os produtores gastamos R$ 80 milhões para reciclar pneus. Por que o importador não gasta nada?" A seguir, trechos da entrevista.

 

Houve demora?
O governo atuou bastante rápido e bem. Ajudou os setores da indústria que estavam sofrendo mais. Começamos a pedir mudanças alguns meses atrás, e quando um governo entrega uma medida em seis, nove meses, é rápido.

 

Decisões do governo
A medida carro-chefe foi baixar juros e chegar ao câmbio de R$ 2. A redução do preço da energia também é muito importante. A Pirelli está quase toda no mercado livre, mas ainda não sabemos se valerá a pena continuar. Nós e o mercado só queremos clareza, saber como será.

 

A empresa tem vários tamanhos de pneus.
O setor pedira alta da alíquota de importação para 45 medidas de pneus. Apenas dez entraram, cinco de pneus de carro de passeio e cinco de pneus de caminhão, porque o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) excluiu as que estão no processo de antidumping.

 

Há vários casos em que o importado chega com preço 20%, 30% menor. Vai custar 10% a mais, mas continua abaixo do preço porque tem o custo da energia e a mão de obra da China.

 

O governo também tomou medidas antidumping. Esperamos que seja rápido porque se não, perde efeito. Tem pneu importado com preço inferior ao do custo da borracha do pneu. O Mdic deve emitir preços de referências. Outra medida positiva, a "maré vermelha", de fiscalização nos portos, evita a entrada de pneus ruins no país.

 

O Reintegra, crédito fiscal de 3% em cima das exportações, que se encerra em dezembro, deveria subir para 5% e não acabar.

 

Mesmas regras
Os produtores gastamos R$ 80 milhões para recolher pneus, sem contar a pesquisa e desenvolvimento, na qual a Pirelli tem uma parte pesada aqui também. Por que o importador de pneus não gasta nada para reciclar? Deveriam ter 30% desse custo. Seria importante que o governo colocasse uma taxa de reciclagem para os importadores que não têm fábrica aqui. É um custo que eles não têm.

 

Todas essas iniciativas tomadas não são protecionistas, mas de concorrência sadia. Tem de impedir que um caminhão entre com três pneus bons e um ruim.

 

Impacto
As medidas não impactam muito neste ano. A desoneração da folha entra em 2013, o corte do preço da energia também. A alta da alíquota de importados deve vigorar a partir do dia 27. A única que já ocorreu foi o Reintegra.

 

Nota desafinada
A orquestra [governo] vai bem, mas desafinou em uma nota: a alta da alíquota de importação do butadieno [da borracha sintética]. O Brasil só tem um produtor. Mantega, porém, disse algo importante: "monitoraremos os preços". Achamos que quando há concorrência é diferente. Mas no caso do butadieno não há. Compramos borracha natural, mas o Brasil, por incrível que pareça, produz no máximo 30% do que a indústria brasileira precisa. Por que devo pagar uma alíquota de importação em cima de um produto que não encontro?

 

Interferência do governo
O governo está correto, precisa intervir e evitar uma espiral negativa. Veja o que ocorre na Europa. Agora todo mundo tem pressão para agir. E queremos mais. Se os incentivos para as montadoras acabarem, autopeças e pneus sofrerão. Os segmentos de caminhões, motos e agronegócio já sofrem. Mas o país deve sair bem da crise.

Imagine se Dilma prosseguir com privatizações e obras de infraestrutura...

 

"Há vários casos em que o pneu importado chega ao Brasil com preço 20%, 30% menor [que o nacional]. Com o aumento da alíquota de importação, vai custar 10% a mais, mas continua abaixo do preço porque tem o custo de energia e a mão de obra da China"

 


Veículo: Folha de S.Paulo


Veja também

Sorvetes Rochinha investe R$ 8 mi em fábrica e pretende vender até para os Emirados Árabes

Empresa investe em novas instalações para atender a demanda internacional   A Sorvetes Rochinha, tr...

Veja mais
Falta de remédios faz pacientes de SP e RJ 'rodarem' farmácias

Segundo os laboratórios fabricantes e as drogarias, problema ainda é reflexo da greve da Anvisa - Drogaria...

Veja mais
É leite ou não é?

Composto lácteo vendido pela Nestlé tem 'cara' de leite e deixa pais confusos; Procon de SP investiga o ca...

Veja mais
Tarja vermelha ainda é vendido sem receita

Drogarias do Rio não estão respeitando deliberação do Conselho Regional de Farmácia e...

Veja mais
Algoritmo prevê desejo de consumo de produto

Pesquisador mostra chances de êxito comercial com equações matemáticas   Sistema de c&...

Veja mais
Brasil tenta ajustar 'janela' de venda de melões aos EUA

Uma comitiva de empresários brasileiros cumpre agenda de reuniões com autoridades americanas desde ontem p...

Veja mais
Eletrodoméstico ainda é sonho para classes D e E

Apesar das recentes conquistas de poder de compra pelos brasileiros, os bens duráveis ainda são, para muit...

Veja mais
Nova York limita refrigerante

Nova York vai restringir as vendas de refrigerantes adoçados com açúcar a não mais do que 16...

Veja mais
Vendas do comércio crescem 1,4% em julho ante junho, aponta IBGE

As vendas do comércio varejista brasileiro tiveram crescimento de 1,4% em julho na comparação com o...

Veja mais