Nutritivo, talvez. Seguro, sem dúvida.

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Carreamento de poluentes para as fontes aquáticas, no cultivo agrícola tradicional, pode ser nocivo também ao homem, o que não se aplica aos alimentos produzidos de forma orgânica.

Se a tese de que os alimentos orgânicos não são mais nutritivos do que os cultivados na agricultura tradicional – como divulgado em recente pesquisa pela universidade norte-americana de Stanford – pode ser controversa, os benefícios do manejo orgânico na agricultura na saúde e no meio ambiente são incontestáveis. "As pesquisas na área de nutrição não são conclusivas", diz a nutricionista e membro do Conselho Regional de Nutricionistas de São Paulo, Viviane Fagundes Piatecka.

Para o consultor de agronegócios do Serviço de Apoio Às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), Hugo Cesar Venturelli, o debate deve se concentrar no quanto as técnicas e manejos empregados na produção orgânica controlam os riscos químicos, principalmente os relacionados aos resíduos de pesticidas. "É o que torna o alimento orgânico mais seguro. Além disso, gera menor impacto social e ambiental", diz.

 O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Agrobiologia José Antônio Azevedo Espíndola afirma que há os dois lados da qualidade do alimento orgânico. "Há diferentes estudos, realizados em vários países, que apontam vantagens e outros que levantam dúvidas sobre as características nutricionais. O que nenhum deles questiona é o benefício que a agricultura orgânica traz ao solo e à água, e nem os males que o uso inadequado de agrotóxicos causa à saúde do produtor e do consumidor, em menor escala", explica.

Na opinião do pesquisador, a área de estudos sobre a agricultura orgânica tem um longo caminho a percorrer, mesmo existindo há oito anos e envolvendo centenas de profissionais na Embrapa. "Acabamos de aprovar um projeto de pesquisa para avaliar o impacto do manejo orgânico na agricultura, que vai durar cerca de três anos. Vamos avaliar quais são as práticas dos produtores no manejo do solo, e no controle de aspectos da produção", diz Espíndola.

Ele acrescenta que o manejo orgânico melhora a qualidade da água dos rios e do solo, já que não usa agrotóxicos e sim práticas alternativas para o controle de insetos e de microorganismos que prejudicam as plantações. "Na agrobiologia temos uma fazendinha ecológica, que utiliza práticas de agricultura orgânica, onde observamos a melhoria da qualidade do meio ambiente", diz. O que falta é mensurar os efeitos do manejo orgânico na produtividade do solo para reforçar a tese de que é benéfico ambientalmente. Espíndola diz que há diversos estudos, mas nenhum mede os benefícios em condições tropicais como as do Brasil.

Preço alto – Além de mais levantamentos, é preciso desenvolver tecnologias para ajudar os produtores. O que encarece o orgânico, hoje, é justamente a demanda alta para uma oferta baixa. As iniciativas do mercado muitas vezes não chegam ao produtor e há lacunas fortes em relação ao manejo de insetos que podem se tornar pragas no campo. "A transferência de tecnologia deve ser desenvolvida", afirma.

 O engenheiro da Embrapa assinala que embora existam níveis de segurança para a aplicação de agrotóxicos – um argumento usado na defesa da agricultura tradicional – não há questionamentos porque a maioria dos agricultores não segue os princípios recomendados de aplicação do produto. "Ele pode seguir esse princípio ou não. De qualquer forma, há a possibilidade de o produtor contaminar a si mesmo e o alimento que vai para o consumidor. Além disso, pode haver uma contaminação acidental de plantações orgânicas, por meio do vento ou da água, caso estejam ao lado de um cultivo convencional", diz Espíndola.

Para o presidente da Associação Brasileira dos Orgânicos (Brasil Bio), José Alexandre Ribeiro, os agricultores são os que mais sofrem efeitos com o manejo inadequado de agrotóxicos, e para eles ainda falta assistência técnica governamental para migrar para o manejo orgânico. Ele diz que há hoje no Brasil 400 mil pequenos produtores orgânicos certificados e credenciados, e a expectativa do governo é que esse número chegue a 600 mil no próximo ano.

 "É um setor que cresce 40% ao ano. O Brasil tem potencial para aumentar sua participação na produção de alimentos saudáveis", afirma.


Segmento movimenta no País R$ 250 milhões por ano


O segmento de produção de produtos orgânicos movimenta, ao ano, R$ 250 milhões no Brasil, sendo que 70% deste total é exportado para a Europa, Estados Unidos e Japão. Segundo o consultor de agronegócios do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), Hugo Cesar Venturelli, os principais produtos orgânicos produzidos no Brasil são a soja (31%), hortaliças (27%) e café (25%). Mas a maior área plantada é de frutas (26%), cana-de-açúcar (23%) e palmito (18%).

 "A maioria dos produtores se concentra em hortaliças e legumes. Quando a produção é voltada ao mercado externo, os principais cultivos são os de café, açúcar, fécula de mandioca e soja, sendo este voltado à produção de ração orgânica para criação de animais em países europeus", afirma. Em termos de valor financeiro, os itens de maior peso são a soja e o café, pela grande demanda dos mercados internacionais.

Segundo dados do Projeto Organics Brasil, resultado de ação conjunta de 74 empresas com o IPD (Instituto de Promoção do Desenvolvimento) e da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), o número de negócios no mercado internacional é crescente. As exportações de 74 empresas do Projeto Organics passou de US$ 9,5 milhões em 2005 para US$ 87 milhões no ano passado. No entanto, o ano em que as vendas bateram recorde foi 2010, com

US$ 108,2 milhões. A entidade atribui o retorno menor do ano passado aos efeitos das crises europeia e americana.

Segundo Venturelli, do Sebrae-SP, os pequenos produtores não pensam, em princípio, na saúde dos consumidores ao optar pelo manejo orgânico, mas este é principal argumento que usam na comercialização do produto. Este apelo, inclusive, populariza o consumo de orgânicos. Um bom exemplo desta popularização é o crescimento das vendas no Grupo Pão de Açúcar. Pioneira em apostar na tendência do consumidor de aderir a produtos orgânicos, há 20 anos, a rede conta atualmente com 750 itens cadastrados em todas as lojas no Brasil. Segundo o Pão de Açúcar, uma evolução neste segmento de produto foi a redução nos preços, que eram 60% mais altos em relação aos equivalentes convencionais há duas décadas. Hoje essa diferença de preço chega a ser de 20%.

 Essa diminuição foi apoiada por um programa de capacitação de fornecedores no campo, já que o Pão de Açúcar tem técnicos rurais que fornecem apoio e compram diretamente de 130 produtores.

De acordo com a rede, as vendas de orgânicos em seções como hortifruti, mercearia e carnes chegam a responder por 2,5% das vendas de cada loja, percentual que era de 1% há dois anos. O Grupo Pão de Açúcar diz que aposta na capacitação de produtores para expandir suas vendas de orgânicos em até 30% este ano. Além disso, estendeu a estratégia à linha própria de produtos Taeq, que tem entre os itens orgânicos frutas, legumes, verduras, geléias, mel e atomatados.



Veículo: Diário do Comércio - SP


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