Meenakshi, uma das centenas de mulheres jovens que percorrem as ruas poeirentas da Índia em motonetas promovendo a bebida láctea Yakult, diz que seu melhor argumento de venda é a saúde. Essa estudante de 22 anos bate de porta em porta dois dias por semana para dizer a donas de casa, lavadeiras e moradores de favelas como os lactobacilos do Yakult podem ajudar a cuidar da "flora intestinal".
Ela faz uma breve apresentação decorada: 6,5 bilhões de bactérias benéficas contidas em cada pote do produto ajudam a reforçar a imunidade e proteger contra a prisão de ventre, diarreia e infecções. Em seguida, distribui folhetos que reforçam suas afirmações. "Os clientes notam uma melhora em seus sistemas digestivos", diz Meenakshi, que não usa sobrenome. "Os clientes regulares raramente pegam infecções."
Esse é um argumento de vendas que os fabricantes de bebidas fermentadas, como a japonesa Yakult e a francesa Danone não podem usar no mundo desenvolvido, onde as autoridades reguladoras têm sido duras com as alegações de que certos alimentos são bons para a saúde. Em 2010, a Danone retirou na Europa as alegações de marketing de que sua bebida fermentada Actimel reforçava o sistema imunológico porque contém probióticos - bactérias que encorajam outros micróbios benéficos a proliferar no intestino.
Nesse mesmo ano, a European Food Safety Authority rejeitou a alegação da companhia de que o Actimel reduz as chances de uma pessoa ter diarreia. O órgão também decidiu que a Yakult não poderia mais afirmar que sua bebida evita infecções no trato respiratório. Nos Estados Unidos, a Danone foi proibida, em 2010, de anunciar que seu iogurte Activia e sua bebida láctea DanActive podem ajudar a evitar gripes e resfriados.
As empresas têm mais liberdade para fazer essas afirmações na Ásia. Portanto as gôndolas de produtos lácteos nos supermercados chineses e indianos são uma profusão de embalagens coloridas de bebidas lácteas fermentadas que prometem benefícios à saúde. Junto com os produtos Yakult e Activia há ofertas locais como o Shuang WaiWai e o ProLife da Amul. "A Ásia cada vez mais é o local ideal para os fabricantes de probióticos", afirma Martin Jochum, da SAM Sustainable Assets Management de Zurique. "Lá, o ambiente regulador é muito mais favorável do que na Europa, e muitos consumidores estão exigindo uma nutrição de melhor qualidade."
O Yakult, um nome que todo mundo conhece no Japão há mais de 50 anos, subiu ao posto de terceira bebida probiótica mais vendida na China, chegando aos US$ 174 milhões em 2010, segundo a Euromonitor. A Yakult informa que na maior parte do país as autoridades reguladoras permitem a ela afirmar que sua bebida ajuda na "regularização imunológica e na melhoria da flora intestinal".
Na Índia, onde a Yakult chegou em 2008 e possui uma joint venture com a Danone, a empresa contratou a atriz de Bollywood Kajol Devgan como embaixatriz da marca. São 250 "Yakult Ladies" que percorrem as cidades de motonetas afirmando como a bebida pode melhorar a saúde de potenciais compradores. A receita da Yakult na Índia é pequena - cerca de US$ 2 milhões em 2010 -, mas vem aumentando a um ritmo de 60% ao ano. O mercado mundial de bebidas com probióticos deve crescer 51% até 2016, para US$ 42 bilhões.
Para as bebidas reforçadas como o Actimel e o Yakult, a região do pacífico asiático é o segundo maior mercado, perdendo apenas para a América do Norte.
A Danone, que já controla 20% da Yakult, há meses vem negociando um aumento em sua participação, segundo a imprensa japonesa. As duas companhias não quiseram comentar as negociações. Um acordo entre as duas permite à Danone aumentar sua fatia este ano, embora ela esteja impedida de assumir "um controle majoritário efetivo" da Yakult até 2017. A Danone e a Yakult também possuem uma joint venture no Vietnã.
Veículo: Valor Econômico