As importações de trigo crescerão 17% entre 2012 e 2013, preveem moinhos, com sete milhões de toneladas. A projeção se confirma à medida que chuvas comprometem a colheita do cereal no Rio Grande do Sul.
"As expectativas mudaram, a safra nacional já é bem menor do que no ano passado. O setor contava com o produto gaúcho", comenta o presidente do Moinho Pacífico (SP), Lawrence Pih.
O clima afetou lavouras no Planalto Médio e nas Missões, duas das maiores regiões triticultoras do Rio Grande do Sul. A previsão estadual de colheita caiu de 2,7 para 2,3 milhões de toneladas, segundo a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
"Certamente, as importações vão ter que crescer", afirma o líder da organização, Hamilton Jardim. "A situação é preocupante. O que vem acontecendo - chuva, geada e granizo - ainda compromete a qualidade do trigo."
As condições meteorológicas do interior gaúcho propiciam a ocorrência de chuvas fortes, rajadas de vento, trovoadas e granizo, segundo o Instituto Nacional Meteorológico (Inmet).
Proprietário de 1,4 mil hectares de terras em Boa Vista das Missões (RS), Cornelis Uitdewvilligen já perdeu aproximadamente 40% de seu trigal. Conseguiu salvar os 10% que ficam em áreas mais elevadas, e menos sujeitas a geadas, da lavoura.
Cornelis contou que o cereal brotou mais rápido neste ano, em função de um inverno quente, ficando, portanto, sujeito aos vendavais e às chuvas de granizo que se sucederam entre setembro e outubro, a estação.
"Chove tanto, agora mesmo, que não dá nem para enxergar o que está a quinze metros de distância. A energia elétrica acaba de cair", relatou, ontem, o produtor durante entrevista ao DCI.
"O trigo das partes altas da propriedade se salvou. Mas a safra vai ser sofrida. Vamos ver como as chuvas continuam."
Exportações e pão mais caro
O Rio Grande do Sul tem 1,2 milhão de toneladas de trigo contratadas pelo mercado externo. Com perda de qualidade, os contratos podem ter seus preços revisados para baixo.
Contudo, segundo Jardim, da Farsul, esta não é a maior preocupação, pois um milhão de toneladas está destinado à região norte da África, em que o tipo do cereal consumido é o brando.
"A maior perda de oportunidade é não poder atender ao mercado interno, que inclusive está pagando melhor do que o internacional", observa o representante.
Segundo ele, "é público e notório que o Rio Grande do Sul transformou sua matriz genética, priorizando o tipo 'pão'. Mas isso pode passar batido nesta safra." O tipo brando custa de 10% a 20% a menos, ainda de acordo com Jardim.
A falta de trigo no mercado nacional, impulsionando a busca pelo produto no mercado externo, que também apresenta escassez de oferta, fará com que a farinha de pão fique cerca de 10% mais cara, no Brasil, até dezembro, de acordo com Pih, do Moinho Pacífico.
Os preços poderão subir ainda mais até abril de 2013, se os moinhos precisarem recorrer aos EUA e o Canadá - país que produz o trigo considerado o melhor do mundo, com preço até US$ 80 maior por tonelada, considerando também os custos operacionais de trazê-lo. "O preço do pão já vem subindo", aponta Pih.
Leste europeu
Em crise de oferta, o Leste Europeu - cujos trigais são os maiores do mundo - lida com a própria situação restringindo as exportações do cereal. A Ucrânia baniu os embarques na semana passada; e a Rússia, triticultora número um do planeta, ameaça fazer o mesmo, de acordo com Pih.
Os russos, que produziram 55 milhões de toneladas de trigo em 2011, devem fornecer 42 milhões de toneladas neste ano.
"A Austrália também nos preocupa", acrescenta Pih, explicando que o país seria uma alternativa de oferta, tanto para a Europa quanto para o Brasil, mas enfrenta problemas semelhantes.
Veículo: DCI