A Ucrânia confirmou na segunda-feira que vai suspender suas exportações de trigo a partir de 15 de novembro, o que ampliou a pressão "altista" sobre as cotações internacionais do cereal, mas a FAO, agência da ONU para agricultura e alimentação, minimizou o impacto real dessa restrição sobre os preços globais dos alimentos.
Para justificar a proibição, as autoridades ucranianas argumentaram que a colheita foi duramente afetada por uma estiagem pelo terceiro ano seguido e que não havia outra saída para evitar uma explosão nos preços domésticos de pães e massas e problemas sociais no país.
A Ucrânia é um dos dez maiores exportadores de trigo do mundo. Sua capacidade de exportação, estimada em 4 milhões de toneladas por ano, foi revisada para 5,3 milhões de toneladas nesta safra 2012/13, o que reduziria o abastecimento interno. Desde meados do mês passado, tradings se anteciparam à suspensão e o ritmo de embarques dobrou.
O Egito, maior importador global de trigo, foi o primeiro país a reagir à proibição, considerando que a credibilidade ucraniana no mercado internacional de grãos ficará afetada. A Ucrânia garante que vai respeitar os contratos de entrega já assinados. Já o comissário europeu de Agricultura, Dacian Ciolos, conclamou o país a voltar atrás e evitar medidas que elevem os preços internacionais e causem mais turbulências nos fluxos comerciais.
Para a União Europeia, a proibição vai "acrescentar tensão desnecessária nos mercados agrícolas internacionais, e os que mais vão sofrer são os mais pobres do mundo". A FAO sustenta que a Ucrânia dá uma "mensagem errada" ao mundo com a proibição, mas avalia que a ação não fará grande diferença para o abastecimento global da commodity.
Por um lado, porque Ucrânia não é um exportador tão importante assim; e de outro, porque já era de conhecimento no mercado que o país não teria muito a exportar depois da estiagem, como observou a analista de preços da FAO, Concepcion Calpe.
O braço da ONU está revisando suas projeções sobre a produção de trigo e constatou que a produção de fato não é suficiente para atender ao consumo, mas que os estoques são confortáveis o suficiente para evitar impactos significativos nos mercados - ainda que esses estoques tendam a ficar em níveis ligeiramente inferiores.
O maior problema, diz Concepcion, é que os mercados reagem no curto prazo e a volatilidade de preços cresce. A oferta de trigo atualmente é reduzida por causa da fraca colheita na Rússia, das perspectivas ruins para as próximas produções na Austrália e pela "transferência" da demanda de milho para trigo nos por causa da pior seca nos Estados Unidos em mais de 50 anos.
O aperto nos estoques de trigo foi confirmado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que aponta quedas na produção na Rússia (1 milhão de toneladas), na Austrália (3 milhões) e na União Europeia (800 mil). Na segunda-feira, na bolsa de Chicago, houve alta moderada das cotações por conta da Ucrânia, mas realizações de lucro influenciaram a queda registrada ontem
Veículo: Valor Econômico