Procura por panelas e tachos de cobre segue em alta

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Uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de 2007 quase baniu o uso de tachos de cobre na fabricação artesanal de doces sob a alegação de que eles podem trazer riscos à saúde. Quase, porque os tachos de cobre passaram a ser recobertos de estanho e níquel - o que é permitido pela lei - e os alambiques, também ameaçados, provaram ser inofensivos.

Depois do susto, os apreciadores do doce mineiro e da cachaça aplaudiram. Os fabricantes de tacho também. A empresa Pitter Metais Ltda, que produz utensílios em geral, projeta crescimento no faturamento entre 200% e 300% este ano ante o anterior e para 2013 a meta é ultrapassar os 300%. "Após a edição da resolução, as encomendas despencaram, mas já retomaram o crescimento porque as peças estão sendo revestidas. Há uma forte demanda por parte de restaurantes diante de uma oferta baixa. O número de metalúrgicas que trabalham com cobre é bem restrito", diz Ederson Finotti, proprietário da empresa.

Instalada em São Paulo, a Pitter é um das poucas empresas no Estado de São Paulo a fabricar utensílios de cobre. "Em São Paulo, somam três e outros duas estão em Formiga, no interior de Minas Gerais", diz. A demanda pela linha de produtos não para de crescer. "Entre maio de 2011 e o mesmo mês deste ano essa linha respondia por 8% do faturamento. Hoje a perspectiva é fechar o ano na casa dos 40% tendo os tachos como carro-chefe", diz Finotti, que também fabrica produtos em aço inox, latão, ferro e alumínio. O volume de produção mensal de tachos, segundo o empresário, que era de 50 peças nos primeiros cinco meses deste ano, dobrou a partir de junho e até o final do ano deverá triplicar.

Alambiques de cachaça precisam apenas de uma boa higienização para evitar o consumo inadequado de cobre

"Também há crescimento na demanda por panelas e outros utensílios tanto no uso doméstico como para adorno", diz. O empresário lembra que a retração no nível de pedidos ocorreu após a Resolução da Anvisa nº. 20, de 22 de março de 2007, que aprova o "Regulamento Técnico sobre Disposições para Embalagens, Revestimentos, Utensílios, Tampas e Equipamentos Metálicos em Contato com Alimentos".

Em nota, à época, a Anvisa afirmou que o cobre é um micronutriente essencial e que efeitos adversos à saúde são relacionados tanto à deficiência quanto ao excesso. A primeira situação estaria relacionada à anemia, neutropenia - diminuição do número de neutrófilos, a célula branca mais importante no sangue - e alterações ósseas, mas as evidências clínicas de deficiências desse micronutriente são pouco frequentes em humanos. "Os efeitos relacionados ao excesso desse nutriente são: gosto metálico na boca, dor na parte alta e central do abdômen, dor de cabeça, náuseas, tonturas, vômitos e diarreia, taquicardia, dificuldade respiratória, anemia hemolítica, hematúria - sangue na urina -, hemorragia digestiva maciça, insuficiência renal, insuficiência hepática e morte".

Apesar de hoje os tachos serem revestidos, a Vigilância Sanitária do Estado de Minas Gerais diz que está atenta e inspeciona periodicamente os famosos doces mineiros. "Temos como atividade rotineira a inspeção sanitária na indústria de alimentos. Há também o Programa de Monitoramento da Qualidade dos Alimentos, que verifica o teor de cobre em doces", explica Maria Flávia Bracarense Brandão, diretora de Vigilância de Alimentos da Superintendência de Vigilância Sanitária de Minas Gerais. Segundo a diretora, no caso de descumprimento da resolução, as indústrias de alimentos são autuadas e sofrem processo administrativo sanitário.

"A punição é consequente ao processo administrativo sanitário e depende das circunstâncias atenuantes, agravantes, gravidade da infração sanitária e os antecedentes do infrator, conforme Código de Saúde de Minas Gerais", diz. Maria Flávia ressalta que "os efeitos do consumo do cobre não são imediatos, mas crônicos em razão do acúmulo do cobre no fígado, principalmente".

Do lado dos produtores de cachaça, um estudo para provar que a mesma regra não era válida para os alambiques foi feito pela coordenadora do Núcleo de Tecnologia da Cachaça da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e professora do Departamento de Química, Maria das Graças Cardoso. A pesquisadora analisou aguardentes produzidas entre 2005 e 2011, em Minas Gerais, e o resultado foi satisfatório.

"O produto está em perfeito acordo com os cinco miligramas de cobre, por litro, estabelecido pelo próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento", afirma a coordenadora. "Para se configurar uma contaminação é necessário ingerir 2,5 quilos de cobre, mas bem antes de chegar a esse ponto de contaminação, a pessoa morreria de cirrose", diz. O estudo mostra que basta ter uma boa higienização nos alambiques.

"O cobre é essencial para catalisar as diversas reações que ocorrem no processo fermentativo e depois na ventilação para que a cachaça tenha um sabor agradável", afirma. Depois de apresentar o estudo, no ano passado, na Assembleia Legislativa de Belo Horizonte, a Anvisa suspendeu a portaria. Minas Gerais produz 200 milhões de litros de cachaça por ano em seus cinco mil alambiques, o que lhe conferiu o quarto lugar no Brasil, porém lidera na fabricação de cachaça de alambique.



Veículo: Valor Econômico


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