O "dinheiro de plástico" conquista, devido a fatores como praticidade e segurança, a preferência de um número cada vez maior de consumidores. Com isso, a utilização dos cheques como forma de pagamento se torna cada vez mais rara. Porém, muitos lojistas, a fim de agradar o cliente e fugir das taxas cobradas pelas administradoras dos cartões, que variam entre 2,5% e 5%, não apenas aceitam, como incentivam a modalidade, apesar de ela comumente ser sinônimo de calote. Em alguns casos, quem opta pelo cheque pode obter descontos de até 10% no pagamento à vista.
Na loja de vestidos de festas e de noivas Poizon-Cymbeline no bairro Lourdes, região Centro-Sul, os clientes que quitam a compra com cheque ou dinheiro recebem 5% de desconto. Para a sócia-proprietária Ana Paula Dias, esta é uma maneira de agradar o comprador sem comprometer a lucratividade. "As taxas cobradas pelas administradoras são altas e o cliente sempre pede o desconto, que pode ser concedido apenas a quem paga com o cheque ou dinheiro", explica.
De acordo com a empresária, as transações com cheque correspondem a 50% do volume total de vendas. Para evitar problemas com os calotes, o cliente que emite o cheque é consultado no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Caso seja detectada alguma restrição, a folha é imediatamente recusada.
No caso do parcelamento com o cheque, é exigida uma entrada. Mesmo com as medidas, a taxa de inadimplência no estabelecimento é hoje de 5%, maior, segundo a empresária, na comparação com os anos anteriores, o que pode estar relacionado ao crescimento do índice de endividamento da população.
Quem paga com cheque também tem direito ao desconto na loja de roupas femininas Patachou. Segundo a gerente da loja do Boulevard Shopping, Michela Cenisio, quem quita a compra no cheque ou dinheiro tem desconto de até 10% do valor total.
No cartão de débito, a percentagem é bem menor, de 4%. Mesmo com a possibilidade de pagar menos por um produto, as transações com cheque não chegam a 20% do total. "As clientes, principalmente as mais jovens, preferem os cartões, pois eles oferecem vantagens como milhas, que podem ser trocadas por passagens aéreas, e o sorteio de brindes", pontua.
Perfil - Ela emenda que as consumidoras que ainda recorrem aos cheques têm perfil semelhante. "Tratam-se de pessoas com mais de 40 anos, mais conservadoras e que, por isso, não conseguiram se adaptar ao uso do cartão", ressalta. Mas, antes de receber as folhas, a Patachou também adotou algumas precauções. Conforme a gerente, a fim de evitar o recebimento dos indesejáveis cheques sem fundo, a consulta ao SPC é imprescindível, bem como a cobrança de entrada para as compras parceladas.
A loja de sapatos City Shoes, também do Boulevard Shopping, oferece desconto de até 5% no cheque, mas a porcentagem é a mesma para o dinheiro e o cartão de débito. A proprietária Bianca Nacif informa que, apesar de aceitar, a loja não incentiva o uso do cheque. "Acredito que o cheque vai se limitar a uma parcela cada vez mais restrita da população mas, de qualquer maneira, é importante manter a opção para o cliente", pondera.
O diretor administrativo-financeiro da Bel Lar Acabamentos, Daniel Marques, com lojas no bairro Carlos Prates (região Noroeste), Estoril (região Oeste) e Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), compartilha a mesma opinião. "O uso do cheque vem caindo gradativamente, enquanto as transações com o cartão crescem cada vez mais. Porém, é uma opção que não pode ser descartada. Na loja, quem recorre ao cheque são normalmente os clientes da classe C. Os das camadas mais altas apenas o utilizam quando já estouraram o limite do cartão", revela.
Taxas - Caso as taxas cobradas pelos cartões fossem menores, o uso do cheque seria ainda menos freqüente. Esta é a visão do economista da Fecomércio Minas Gabriel de Andrade Ivo. Hoje, as taxas variam, normalmente, entre 2,5% e 5%. Ele afirma que, atualmente, cerca de cinco bancos gerenciam as duas bandeiras que predominam no mercado, Visa e Mastercard. "Pode ser que, no futuro, o governo faça intervenções, no sentido de reduzir as taxas cobradas do empresário, assim como fez com os juros do cartão de crédito, o mais alto entre as linhas de financiamento."
Dados da entidade comprovam que o uso dos cheques diminui a cada dia. Em janeiro de 2010, 45% das transações eram efetuadas com a modalidade de pagamento. Dois anos mais tarde, em janeiro deste ano, apenas 20% efetuavam as compras com os cheques e em agosto a fatia caiu para 18%.
De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o volume de cheques compensados retrai, em média, 10% ao ano. Passou de R$ 2,6 bilhões em 2001 para R$ 900 milhões em 2011. A expectativa, para 2018, é que apenas 3% das operações sejam realizadas com cheques.
Cheque perde espaço no comércio varejista
O comércio de Belo Horizonte vendeu menos a prazo no mês de setembro do que em agosto. As compras com cartões de crédito, cheques pré-datados, carnês e boletos de lojas representaram 60% das vendas de setembro, contra 64% do mês anterior, de acordo com pesquisa divulgada ontem pela Federação do Comércio, de Bens e Serviços do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas).
Os meios eletrônicos continuam sendo a forma de pagamento preferida pelos consumidores, o que se justifica pela facilidade de parcelamento, de um lado, e pela segurança para o comerciantes, do outro. Juntos eles foram responsáveis por 79% das transações feitas a prazo na cidade, enquanto o pré-datado ficou com 14%, percentual muito próximo ao de agosto (13%).
Além da conveniência do cartão, o risco de inadimplência faz o cheque perder cada vez mais espaço. O número de estabelecimentos que aceita essa forma de pagamento atingiu o menor nível desde janeiro de 2010, caindo de 45% para 14%. Recusá-lo é a maneira mais citada entre os empresários entrevistados para evitar os riscos de inadimplência, com 61% das respostas.
Mas a pesquisa indica que o cheque pré-datado é a segunda maneira mais freqüente de comprar a prazo em Belo Horizonte. Trabalhar com cheques, para o comerciante, é uma estratégia para fortalecer o capital de giro no curto prazo e para fugir das taxas cobradas pelas administradoras de cartões, que giram em torno de 4% sobre a operação.
De maneira geral o pré-datado é usado para pagamentos divididos em até três vezes. Em setembro, 28,1% dos consumidores fizeram essa opção, enquanto 21,1% dividiram em quatro parcelas. Em agosto, 39,6% das vendas a prazo com pré-datados foram feitas em três vezes.
Destaque - Mas o cartão de crédito continua sendo, de longe, a forma de parcelamento mais procurada pelo consumidor, responsável por 74% dos negócios fechados a prazo em setembro em Belo Horizonte. O percentual é o mesmo de agosto e perde apenas para os parcelamentos realizados nos meses de maio e junho deste ano, de 76% e 78%, respectivamente.
Os dados da Fecomércio mostram a utilização crescente dessa forma de pagamento, que em janeiro de 2010 representava 58% das vendas a prazo. Entre os empresários que participaram da pesquisa, 97% afirmam que aceitam cartões de crédito, principalmente porque não incorporá-los ao dia a dia das lojas limita o fluxo de negócios da empresa e compromete a imagem do estabelecimento. importante levar em conta também que os processos de vendas/compras com o cartão são mais ágeis e reduzem o custo da operação por cliente.
Já o cartão de crédito próprio é usado por apenas 6% das empresas entrevistadas pela entidade. As grandes redes varejistas vêm expandindo sua área de abrangência através dessa forma de pagamento, que tem a vantagem adicional de estreitar a relação com o cliente, em especial o de renda mais baixa, e de "forçá-lo" a voltar à loja no momento de efetuar o pagamento.
A participação do cartão de loja nas vendas a prazo em setembro foi de 5%, enquanto em agosto o percentual chegou a 7%. expressivo o percentual de consumidores que recorrem a ele para parcelamentos mais longos: 27,8% compraram em 18 parcelas e 22,2% em 12.
Veículo: Diário do Comércio - MG