As confecções de Muriaé se especializaram na fabricação de roupas de dormir
Muriaé, na Zona da Mata, é hoje um dos mais importantes polos de confecções do país. São pelo menos 550 empresas formais, que geram 15 mil empregos diretos, giram cerca de R$ 230 milhões anualmente e respondem por 55% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade. Além disso, considerando que o parque fabril da região inclui os municípios de Eugenópolis, Laranjal, Miraí, Patrocínio de Muriaé e Recreio, o polo ocupa a 22ª posição na produção têxtil do país e 68% da produção são direcionados para roupas de dormir (home wear).
Outra característica marcante do polo é que 99% das confecções são Micro e Pequenas Empresas (MPEs). E, apesar do processo de formalização destas confecções ter ganhado força nos últimos dois anos, especialmente com a criação do Microempreendedor Individual, muitas facções e costureiras ainda trabalham na informalidade porque a grande maioria das empresas terceirizam pelo menos 50% da produção.
justamente no sentido de reduzir a informalidade que o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae-MG) atua na região há mais de 10 anos. "O trabalho é de incentivar as confecções a exigir a formalização de costureiras e facções que fazem parte do processo de produção", destaca o analista técnico da entidade, Jefferson Dias Santos.
A informalidade, explica Santos, também está ligada à história do município, que, graças à sua localização geográfica, na confluência da BR-116 (Rio/Bahia) e BR-356 (Rodovia dos Inconfidentes), ganhou um setor de transportes forte. "Ao mesmo tempo que os homens trabalhavam como motoristas, as mulheres aproveitavam o ‘frete grátis’ para costurar peças como panos de pratos e anáguas e vender no Rio de Janeiro e em São Paulo, principalmente. O resultado é que, hoje, costumamos dizer que toda casa de Muriaé tem uma máquina de costura e isso pode incentivar o trabalho informal", conta.
Apesar de ainda existir informalidade, o polo de Muriaé atende todo o mercado nacional, porém com um produto de menor valor agregado, que são os pijamas, em comparação com outras peças de vestuário, como vestidos e outros tipos de roupas. O esforço do Sebrae-MG é de incentivar o desenvolvimento do design, a melhoria da produtividade e a redução de perdas no processo produtivo. "Apesar do volume de vendas do polo ser grande, queremos inserir a cultura da moda para agregar valor à peça", afirma Santos.
Qualidade - E um bom exemplo disso é a Sonhar ML Indústria e Comércio Ltda, que foca sua produção média de 2 mil a 3 mil peças por mês na qualidade. "O diferencial para conquistar bons clientes é a criatividade no design e a qualidade do produto final", afirma a proprietária da confecção, Maria José Ciribelli.
Segundo a empresária, com 27 anos de experiência no ramo, 90% dos pijamas masculinos e femininos, adultos e infantis que a Sonhar produz são direcionados para o mercado paulista. "As melhores oportunidades estão em São Paulo. No entanto, vários clientes paulistas revendem para outros em Minas Gerais", completa.
O perfil de mercado da Sonhar ilustra, em boa parte, a realidade da produção do polo de Muriaé, que de fato atinge todo o território nacional, mas tem maior concentração de vendas em São Paulo e no Rio de Janeiro, para grandes magazines e, no caso específico dos paulistas, também para feirantes da famosa Feira do Brás ou Feirinha da Madrugada.
"Pesa muito a fatia específica do mercado de roupas de dormir que o polo regional de Muriaé consegue atingir em nível nacional. Ainda há espaço para aumentar as vendas neste segmento e, como também há forte concorrência de produtos importados da China, especialmente, ainda não é tão interessante explorar o comércio exterior", analisa o delegado regional do Sindicato das Indústrias do Vestuário no Estado de Minas Gerais (Sindivest-MG), Carlos Magno de Oliveira.
Se existem confecções, há demanda por maquinário da indústria do vestuário. Foi a partir desta premissa que o empresário Cézar Augusto Bianchi Botaro mudou-se para Muriaé, em 1979, com a ideia de trabalhar com máquinas de costura. Hoje, segundo ele, cerca de 90% dos equipamentos adquiridos pelas confecções da região são comprados em sua loja, a Oficina do Cézar.
Há mais de 30 anos no mercado, Botaro, que também é secretário de Desenvolvimento Econômico de Muriaé, arrisca um palpite sobre porque a região se tornou referência da indústria têxtil nacional. "Quero vender uma máquina de acordo com a necessidade e produção do cliente para ele nunca mais me procurar. Acredito que esse diferencial, que serve para todo o polo, se chama qualidade", conclui.
Veículo: Diário do Comércio - MG