As importações chinesas de arroz quadruplicaram nos primeiros dez meses do ano e a tendência é que o país, maior consumidor do mundo, compre um volume recorde do produto no exterior em 2012. O incremento é influenciado pelas mudanças no perfil do consumo de alimentos da população local, que vêm ajudando a impulsionar a demanda.
Dados recém-divulgados pela alfândega da China mostraram que o país importou 1,98 milhão de toneladas do cereal entre janeiro e outubro deste ano, um volume quase quatro vezes superior ao registrado no mesmo período de 2011 (505 mil toneladas). O déficit da balança chinesa do arroz teve um crescimento ainda mais acentuado, de 11 vezes durante o mesmo período.
O aumento representa uma grande mudança para a China, que além de ser o maior país consumidor também é o maior produtor de arroz do mundo. O país foi, em grande parte dos últimos 20 anos, autossuficiente no cereal, mas passou a ser importador líquido em 2011. Analistas projetam que as compras externas continuarão em alta em 2013.
No passado, a perspectiva de que a China se tornasse importadora de arroz trouxe preocupações, porque o volume comercializado internacionalmente é pequeno em comparação ao tamanho do mercado chinês. Como o país consome cerca de 30% de todo o arroz disponível no mundo, mesmo pequenas variações no mercado podem ter grande impacto nos preços internacionais.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê que as importações chinesas de arroz aumentarão mais de 4,5 vezes em 2012 na comparação ao ano anterior e atingirão o recorde de 2,6 milhões de toneladas. Caso a estimativa se concretize, o país passará a ser o segundo maior importador de arroz no mundo, atrás da Nigéria, cujas compras no exterior deverão chegar a 3,2 milhões de toneladas neste ano. Entre outros grandes importadores estão o Irã, as Filipinas e a Arábia Saudita.
A China precisa alimentar cerca de 20% da população mundial com menos de 10% da terra agricultável do planeta, e por isso também se tornou nos últimos anos um dos maiores importadores mundiais de milho e soja.
Analistas dizem que a alta dos preços domésticos do arroz, na prática controlados pelo governo, levaram ao aumento nas importações. Na Tailândia e no Vietnã, os preços são mais baixos, já que o mercado internacional de arroz não vem provocando inquietações neste ano.
"Neste ano, a China dependeu muito mais do mercado internacional do que no passado", afirmou Concepción Calpe, economista sênior da FAO, o braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, baseada em Roma.
De acordo com ela, os preços são o maior motivo para justificar o forte crescimento das importações. "O país não parece estar enfrentando escassez de arroz, já que a produção vem crescendo de forma ininterrupta desde 2003", afirmou a economista.
Ma Wenfeng, analista agrícola na Beijing Orient Agribusiness, afirmou que as importações de produtos agrícolas por parte da China deverão continuar em elevação. "Podemos ver mais e mais importações, inclusive de grãos, vegetais, frutas, algodão e milho. Isso é resultado da expansão econômica", disse.
Veículo: Valor Econômico