Consumidor de latas amplia o leque

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A indústria de bebidas investe em novos formatos de latas para ganhar rentabilidade e participação de mercado. A lata tradicional, de 350 ml, divide as prateleiras do varejo com tamanhos variados - de 250 ml a 710 ml. As latas menores abrem oportunidade para abastecer pequenos pontos de venda e atender o consumidor que quer pagar de R$ 2 a R$ 3 por um salgadinho e uma bebida. E os modelos maiores estimulam o consumo compartilhado.

Estações de trem, terminais de ônibus e até bancas de jornais estão no alvo da Coca-Cola, a maior consumidora de latas do mundo. Em parceria com os franqueados, a empresa mapeia pontos de consumo "de ocasião" - pequenos estabelecimentos em locais com alto tráfego de pessoas. "Nesses locais muitas pessoas passam e não vão fazer refeição, mas comer uma coxinha", diz Paulo Villas, gerente corporativo de embalagens da Coca-Cola Brasil. Para suprir essa demanda, a Coca-Cola tem lata de 250 ml que custa a partir de R$ 1. A versão é a que mais cresce entre os formatos diferenciados.

Em 2005, a embalagem padrão, de 350 ml, representava 98,5% do que era vendido no país, segundo a Abralatas, associação do setor. Nos últimos três anos, o mercado cresceu e as fabricantes adaptaram linhas de produção para atender a indústria de bebidas. Hoje, as latas de tamanhos variados representam 24% do total produzido.

O nível de vendas está muito próximo ao que é produzido no país. A estimativa para 2012 é que sejam fabricadas 20,5 bilhões de unidades. A indústria de bebidas, sendo a maior parte de cerveja, deve comprar 19,7 bilhões de latas. As cervejarias compram cerca de 70% das latas feitas no país.

O consumo de cerveja aumenta com a renda e a diversificação do mercado de latas está relacionada ao poder aquisitivo da população. A lata é considerada um "bem superior" por causa de preço, conveniência e temperatura. O alumínio gela mais rápido do que o vidro.

A elasticidade da demanda por lata é maior que a da garrafa, no caso da cerveja. Em refrigerantes, é o inverso - as vendas se dão, principalmente, em garrafas PET.

Maior consumidora de latas do Brasil, a Ambev informou no balanço do terceiro trimestre que as vendas de embalagens fora do padrão tiveram bom desempenho: "O volume de cerveja Brasil cresceu 0,2%, sendo as marcas com melhor desempenho Antarctica Sub-Zero e Budweiser, enquanto a garrafa de vidro retornável de 300 ml e nossos diferentes tamanhos de lata tiveram o melhor desempenho em embalagens". A Ambev compra todas as latas de alumínio no país.

"A demanda por bebidas em latas está crescendo e a elasticidade está relacionada com a renda e a procura do produto nos pontos de venda", observa o gerente de inovação da Ambev, Luciano Tulio.

Formatos menores também são destinados a produtos de alto valor agregado, como sucos especiais e bebidas funcionais. O vinho frisante Glamm, vendido em latas de 250 ml, inova na categoria que usa tradicionalmente vidro. "O produto precisava passar sofisticação e estar gelado no ponto de venda", diz o sócio da Glamm, Ricardo Lowndes.

A decisão de usar novos formatos esbarra em custo alto devido a adaptações tecnológicas. Mas os fabricantes estão aumentando o nível de produção para melhorar margens. "Hoje, a variação chega a 20% se for um formato muito especial", diz o diretor de mercado do Grupo Petrópolis, Douglas Costa.

Com o aumento do volume, a tendência, afirma Costa, é os preços se equipararem ao do tamanho tradicional de 350 ml - o que já acontece com as latas de 269 ml e 473 ml.

Jorge Bannitz, diretor comercial da Latapack-Ball, diz que a lata padrão, de 350 ml, oferece eficiência máxima no consumo de matéria-prima, algo que ainda está sendo adaptado para outros tamanhos.

A Juxx lançou este ano um suco em lata de cranberry, uma fruta típica dos Estados Unidos e Canadá. A lata slim, de 248 ml, custa até R$ 3,90 e a versão de 355 ml custaria R$ 5, diz o diretor Edson Mazeto Jr.. "Ao fazer a conta de evolução de custo, o que sai a R$ 1 pode ir a R$ 3 na prateleira. O que custa R$ 1,50 pode chegar a R$ 4,50. E às vezes você não está oferecendo volume compatível com a diferença de preço."

O setor de bebidas também vem usando latas de tamanhos grandes, que incentivem o consumo compartilhado. O latão, de 473 ml - usado, por exemplo, nas cervejas Skol, Brahma e Antarctica, feitas pela Ambev - já foi aceito pelo consumidor, e agora a indústria de bebida encomenda um novo formato, de 710 ml.

"Esgotou-se a possibilidade de inovação nas embalagens padrão atuais", diz o diretor de marketing da Globalbev, Martin Bernarda. A empresa vai lançar em 2013 as versões dos energéticos Flying Horse e Extra Power em tamanho de 710 ml. O formato também será usado pela fabricante de cachaças Pitú.

Villas, da Coca-Cola, reforça que, para cada possibilidade de nova lata, a empresa estuda a melhor ocasião de consumo. "Hoje a gente nem imagina beber em vidro num avião. Mas existem ocasiões para isso."


Indústria retoma planos de expansão e adapta linhas


   
Fabricantes de latas de alumínio investem desde 2009 para adaptar as linhas de produção aos novos formatos demandados pela indústria de bebidas. Os planos de expansão, congelados no começo de 2012, agora foram retomados.

A Crown deve ampliar sua capacidade em 1,1 bilhão de latas, com a construção de uma nova fábrica em Caxias (Maranhão) ou Teresina (PI), a ser inaugurada em 2014. O projeto estava planejado para Belém e ficaria pronto em 2013, mas a empresa suspendeu o plano para a adequação dos volumes à demanda, afirmou o presidente da Crown, Rinaldo Lopes.

Agora, a Crown decidiu montar a fábrica em um local "mais próximo do Nordeste" pois a concorrente Rexam está construindo uma fábrica no Pará, e "existiria uma duplicidade" de produção no Estado, diz Lopes. O valor do investimento continua o mesmo: US$ 80 milhões.

Líder do setor, a Rexam produz cerca de 60% das latas do país. Desde 2006, diz Renato Estevão, diretor comercial na América do Sul, a concorrência na indústria de bebidas aumentou e o setor passou a encomendar embalagens com novos formatos. O resultado: o mercado cresceu 2.000% entre 2006 e 2012. "Com mais gente trabalhando com os formatos, aumentou a distribuição e o preço caiu."

Outra consequência foi a dispersão geográfica das linhas de produção. Até 2006, era feita apenas no Sudeste. Hoje está em todas as regiões.

Os fabricantes dizem não se preocupar com eventual falta de matéria-prima - 98% do alumínio é reciclado e isso comporta a demanda dos próximos anos. Em 2010, o setor importou latas para suprir o consumo, que cresceu 17%, acima da previsão de 7%. Renault Castro, diretor executivo da Abralatas, diz que, na época, a indústria de bebidas subestimou seu crescimento.



Veículo: Valor Econômico


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