Os produtores de trigo da Argentina acreditam na retomada parcial das exportações do produto em janeiro, mas descartam a possibilidade de que a cota de 6 milhões de toneladas que havia sido autorizada pelo governo para esta safra seja cumprida.
De acordo com Santiago Labourt, presidente da Argentrigo, entidade que reúne os produtores do país, já foram exportados neste ano 4,5 milhões de toneladas e 1 milhão de toneladas adicionais poderão ser liberadas no próximo mês. Os embarques estão temporariamente suspensos até terça-feira. Uma reunião programada para hoje da indústria moageira na secretaria de Comércio Interior, comandada por Guillermo Moreno, deverá determinar o estoque da produção que será dirigida para o mercado interno.
A restrição às exportações não está ligada a uma queda da produção, mas a uma tentativa do governo de regular os preços no mercado interno e controlar a escalada inflacionária, de acordo com os produtores. "O efeito imediato da incerteza que foi introduzida para os produtores é a queda dos preços. É um sistema arriscado, porque leva no longo prazo ao desestímulo ao plantio", afirmou Labourt.
O sistema de cotas de exportação do trigo argentino é semelhante ao utilizado no país para a carne bovina desde 2006: o governo restringe a atividade exportadora como forma de aumentar os estoques e reduzir a pressão inflacionária sobre a indústria de alimentos. No caso da pecuária bovina, houve uma redução de plantéis que começou a ser revertida apenas este ano, depois de uma queda drástica de vendas ao exterior.
O Ministério da Agricultura da Argentina está afastado das discussões sobre o tema. "Esta questão é do âmbito exclusivo do Ministério da Economia", afirmou o secretário de Agricultura, Lorenzo Basso, ao afirmar que as restrições às exportações de trigo não se justificam por problemas na produção: "considerando os residuais da safra passada, teremos uma produção da ordem de 12 milhões de toneladas". No relatório divulgado ontem pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a estimativa para a produção argentina de trigo nesta safra foi mantida em 11 milhões de toneladas.
O Brasil adquiriu 56% das exportações de trigo da Argentina em 2011, que atingiram 8,3 milhões de toneladas. O tema preocupa a indústria moageira brasileira, que acredita em aumento do preço da matéria-prima, já que houve redução da produção brasileira de trigo no Rio Grande do Sul e redução do plantio no Paraná. A demanda brasileira por trigo importado para o próximo ano é estimada em 7 milhões de toneladas. Para Labourt, ainda há possibilidade de se atender os contratos com o Brasil. "O Brasil começa a necessitar de trigo entre fevereiro e março e é possível que consigamos coordenar nossos fluxos de venda", disse.
Veículo: Valor Econômico